Sábado, 29 de Agosto de 2009

EM HOMENAGEM AOS 178 ANOS DE NASCIMENTO DE BEZERRA DE MENEZES

DECLARAÇÕES DO Dr. BEZERRA DE MENEZES, FEITAS EM 15 DE OUTUBRO DE 1892 PUBLICADAS NA REVISTA REFORMADOR
Nasci e criei‑me, até aos 18 anos, no seio de uma família tradicionalmente católica, que levava a sua crença até à aceitação de um absurdo, por mais repugnante que fosse, imposto à fé passiva dos crentes, pela Igreja Romana.
Aprendi aquela doutrina e acostumei‑me às suas práticas, mas empiricamente, serra procurar a razão da minha crença.
Dois pontos, entretanto, me apareciam luminosos no meio daquela névoa; eram: a existência da alma, responsável por suas obras, e a de Deus, criador da alma e de tudo o que existe.
Ao demais, eu considerava sagrado tudo o que meus pais me ensinavam a crer e a praticar; a religião católica, apostólica, romana.
Aos 19 anos, e naquela disposição de espírito, deixei a casa paterna, para vir fazer meus estudos na capital do Império, onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter a quem prestar obediência.
Continuei na crença e práticas religiosas que eu trouxe, do berço, mas, na convivência com os moços, meus colegas, em sua maior parte livres pensadores, ateus, comecei batendo‑me com eles ‑ e acabei concorde com eles, parecendo‑me excelso não ter a gente que prestar conta de seus atos.
Não foi difícil esta mudança, pela razão de não ser firmada em fé raciocinada a minha crença católica; mas, apesar disto, a mudança não foi radical, porque nunca pude banir de todo a crença em Deus e na alma.
Houve em mim uma perturbação, de que nasceu a dúvida. Fiquei mais céptico do que cristão ‑ e cristão somente por aqueles dois pontos
Em todo o caso deixei de ser católico ‑ e via os meus dois pontos luminosos por entre as nuvens.
Casei‑me com uma moça católica, a quem amava de coração ‑ e sempre respeitei suas crenças, guardando nos seios de minha alma a descrença.
No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufão da maior adversidade que me podia sobrevir: minha mulher me foi roubada pela morte, em 20 horas, deixando‑me dois filhinhos, um de 3 anos e outro de 1
Aquele fato produziu‑me um abalo físico e moral, de prostrar‑me.
As glórias mundanas, que havia conquistado mais por ela que por mim, tornaram‑se‑me aborrecidas, senão odiosas, e, como delas, coisas da terra, eu não via nada, nada encontrei que me fosse de lenitivo a tamanha dor.
Sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava fazê‑lo, porque, no fim de poucas linhas, tédio mortal se apoderava de mim.
A leitura foi sempre a minha distração predileta, mas dava‑se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever: abria um, outro, outro livro sobre ciência, sobre literatura, sobre o que quer que fosse, mas não tolerava a leitura de uma página sequer.
Um dia, meu companheiro de consultório trouxe da rua um exemplar da Bíblia, tradução do padre Pereira de Figueiredo, entressachado de estampas finíssimas.
Tomei o livro, não para ler, que já não tentava semelhante exercício, mas para ver as estampas, com verdadeira curiosidade infantil.
Passei todas em revista, mas, no fim, senti desejo de ler aquele livro que encerrava minhas perdidas crenças, e também porque eia vergonha para um homem de letras dizer que nunca o lera.
Comecei, pois, e esqueci‑me a ler o belo livro, até perder a condução para minha casa; e, depois que cheguei à residência, sentia prazer em pensar que voltaria a lé‑lo!
Eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim!
Li toda a Bíblia e, quanto mais lia, mais vontade tinha de continuar, fruindo doce consolação com aquela leitura.
Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, não nessa crença imposta à fé, mas numa crença firmada na razão e na consciência.
Onde lhe descobrir a fonte?
Atirei‑me à leitura dos livros sagrados, com ardor, com sede; mas sempre uma falha ao que meu espírito reclamava.
Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio de Janeiro; mas eu repelia semelhante doutrina, sem conhecê‑la nem de leve! Somente porque temia que ela perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao espírito a minha volta à religião de meus maiores, embora com restrições.
Um colega (Dr. Joaquim Carlos Travassos), porém, tendo traduzido O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, fez‑me presente de um exemplar, que aceitei, por cortesia.
Deu‑mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde.
Embarquei com o livro, e, não tendo distração para a longa e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, é ridículo confessar‑me ignorante de uma filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas.
Pensando assim, abri o livro e prendi‑me a ele, como acontecera com a Bíblia.
Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para o meu espírito, e entretanto tudo aquilo era novo para mim!
Dava‑se em mim o que acontece muitas vezes a quem muito lê, e que um dia encontra uma obra onde se lhe deparam idéias, que já leu, mas que não sabe em que autor.
Eu já tinha lido e ouvido tudo o que se acha em O Livro dos Espíritos, mas eu tinha a certeza de nunca haver lido obra alguma espírita, e, portanto, me era impossível descobrir onde e quando me fora dado o conhecimento de semelhantes idéias!
Preocupei‑me seriamente com este fato que me era maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença, e que todas essa vacilações que meu espírito sentia eram marchas e contramarchas que ele fazia, por descobrir o que lhe era conhecido e, porventura, obrigado a isto.
Eis o que fui e em que crença vivi, até que me tornei espírita
Apesar de convencido da verdade do Espiritismo, eu nunca tinha assistido, nem tentado assistir a qualquer trabalho experimental, confirmativo sequer da comunicação dos Espíritos
Tendo sido atacado de dispepsia, que me reduziu a um estado desesperador, sem que me tivesse proporcionado o menor alívio a medicina oficial, apesar de ter eu recorrido aos mais notáveis médicos desta capital, resolvi, depois de um sofrimento de cinco anos, recorrer a um médium receitista, em quem muito se falava, o Sr. João Gonçalves do Nascimento.
Eu não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que propendia mais para a crença de que o tal médium era um especulador.
Em desespero de causa, porém, eu recorreria a ele, mesmo que soubesse ser um curandeiro.
Tentava um recurso desesperado, e fazia uma experiência sobre a mediunidade receitista
Era preciso, porém, visto que se tratava de urna experiência, que eu tomasse todas as cautelas, para que ela me pudesse dar uma convicção fundada.
Combinei com o Dr. Maia de Lacerda, completamente desconhecido de tal médium, ser ele que fizesse pessoalmente a consulta, recomendando‑lhe que assistisse ao trabalho do médium, enquanto este escrevesse, e pedisse‑lhe o papel, logo que acabasse de escrever; porque bem podia ter ele um médico hábil, por detrás do reposteiro, que lhe arranjasse aquelas peças.
É verdade que um médico, não sabendo de quem se tratava, visto que só dava ao médium o nome de batismo e a idade dos consulentes, não podia adivinhar‑lhe os sofrimentos, mas, em todo o caso, eu queria ter a certeza de que era exclusivamente do médium, homem completamente ignorante de medicina.
O Dr. Lacerda fez como lhe recomendei, e trouxe‑me o que, a meu respeito, escreveu o médium, que não podia reconhecer‑me por meu nome próprio, "Adolfo", não só porque há muitas pessoas com este nome, como porque sou conhecido geralmente por Bezerra de Menezes, e bem poucos dos que não entretêm relações íntimas comigo sabem que me chamo Adolfo.
Tomei o papel, que dizia:
"O teu órgão, meu amigo (era o Espírito que falava ao médium), não é suficiente para satisfazer este consulente, em vista das circunstâncias de sua elevada posição social (eu era membro da Câmara dos Deputados) e principalmente de sua proficiência médica.
"Entretanto, como não dispomos de outro, faremos com ele o mais que pudermos.
"Vejo do organismo do consultante . . ."; seguia‑se uma descrição minuciosa de meus sofrimentos e suas causas determinantes, tão exatos aqueles, quanto perfeitamente fisiológicas estas.
Não posso descrever o abalo que me produziu este fato estupendo!
Segui o tratamento espírita, e o que os mestres da Ciência não conseguiram em cinco anos, Nascimento obteve em três meses.
Em três meses, eu estava completamente curado; estava forte, comia e dormia perfeitamente bem, era um homem válido, em vez de um valetudinário.
Logo após este fato, deu‑se o de ser minha segunda mulher condenada como tuberculosa em segundo para terceiro grau, por importantes médicos, e disse Nascimento, a quem consultei, com as precisas cautelas para ele não saber de quem se tratava:
"Enganam‑se os médicos que diagnosticaram tuberculose (quem lhe disse que os médicos haviam feito tal diagnóstico?)
"Esta doente não tem tubérculo algum. Seu sofrimento é puramente uterino, e, se for convenientemente tratada, será curada.
"Se os médicos soubessem a relação que existe entre o útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros como este."
Sujeitei a minha doente, já que tinha febres, suores e todos os sinais da tisica em grau avançado, ao tratamento espírita, e em poucos meses tudo aquilo desapareceu, e já são decorridos dez anos, durante os quais ela tem tido e criado quatro filhos, sem mais sentir nenhum incomodo nos pulmões.
Como resistir à evidência de fatos tais?
Depois deles comecei as investigações experimentais sobre os vários pontos da doutrina, e posso afirmar, daqui, que tenho verificado, quanto é permitido ao homem alcançar em certeza, a perfeita exatidão de todos os princípios fundamentais do Espiritismo.
Não cabe num trabalho desta ordem referir o resultado experimental alcançado sobre cada um, e por isto me limito a dizer:
O espiritismo é para mim uma ciência, cujos postulados são demonstrados tão perfeitamente como se demonstra o peso de um corpo.
Nada me impressionou mais do que ver um homem, sem conhecimentos médicos até sem instrução regular, discorrer sobre moléstias, com proficiência anatómica e fisiológica, sem claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer.
Mais do que isto, porém, é, para impressionar, ver dizer um indivíduo, que não se conhece, que não se examina, de quem não se colhem sequer informações, e não se sabe senão a idade ‑dizer, em tais condições, que sofre de tais moléstias, com tais e tais complicações, por tais e tais causas, e confirmar o diagnóstico pelo resultado eficaz do tratamento aplicado naquele sentido.
'Tive, porém, de minha experiência pessoal, outro fato que muito me impressionou.
Eu estava em tratamento com o médium receitista Gonçalves Nascimento, e este costumava mandar‑me os vidros, logo que eu acabava uma prescrição, por um primo meu, estudante de preparatórios, que morava em minha casa, na Tijuca, a uma hora de viagem da cidade.
Meu primo costumava, sempre que me trazia os remédios (homeopáticos) da casa do Nascimento, entregar‑me os vidros em mão, e nunca, durante três meses que já durava meu tratamento, me trouxe do médium recado por escrito, senão simplesmente os vidros de remédios, tendo no rótulo a indicação do modo pelo qual devia ser tomado.
Um dia, deixei de ir à Câmara dos Deputados, de que fazia parte, e, pelas duas horas da tarde, passeava, na varanda, lendo uma obra que me tinha chegado às mãos, quando me apareceu um vizinho, Sr. Andrade Pinheiro, filho do Presidente da Relação de Lisboa, e moço de inteligência bem cultivada.
O Sr. Pinheiro não conhecia o Espiritismo, senão de conversa, e como eu fazia experiência em mim, ele aproveitava a minha experiência, para fazer juízo sobre a verdade ou falsidade da nova Doutrina.
Depois dos primeiros cumprimentos, perguntou‑me como ia eu com o tratamento espírita.
Respondi‑lhe com estas palavras: "Estou bom; sinto apenas uma dorzinha nos quadris e uma fraqueza nas coxas, como quem está cansado de andar muito."
Conversamos sobre o fato de minha cura em três meses, quando nada alcancei com a medicina oficial, em cinco anos, e passamos a outros assuntos, até que, uma hora pouco mais ou menos depois, entrou meu primo com os vidros de remédios e com um bilhete, escrito a lápis, que me mandava Nascimento, e que dizia:
"Não, meu amigo, não estás bom como pensas.
"Esta dor nos quadris, que acusas, esta fraqueza das coxas, são a prova de que á moléstia não está de todo debelada.
"'Es médico e sabes que muitas vezes elas parecem combatidas, mas fazer erupções, porventura perigosas.
"Tua vida é necessária; continua teu tratamento."
É fácil compreender a surpresa, a admiração, o abalo profundo que produziu na minha alma um fato tão fora de tudo o que tinha visto em minha vida.
Repetiram‑se, da cidade, textualmente, as minhas palavras, como só poderia fazer quem estivesse ao alcance de ouvi‑Ias!
Efetivamente, calculado o tempo que leva o bonde da casa do Nascimento à minha, reconhecemos, eu e Pinheiro, que aquela resposta me fora dada, na cidade, precisamente à hora em que eu respondia, na Tijuca, à interpelação de meu visitante.
Pode haver fatos mais importantes no domínio do Espiritismo; eu porém, não tive ainda nenhum que me impressionasse como este, e, atendendo‑se ao tempo em que ele se deu (quando eu estava sujeitando à prova experimental a nova doutrina), compreende‑se que impressão poderia causar‑me.
Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, desses que fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia resistir à impressão que me causou semelhante fato.
Saulo não teve, mais do eu teria, razão para fazer‑se Paulo.
Influência física, nenhuma senti; porém, moralmente sou outro homem.
Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo deixado os espaços agitados pelo vendaval da descrença, da dúvida, do cepticismo, que devasta, que esteriliza, que calcina, se assim me posso exprimir, recordando as torturas de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde assentar sua crença.
E não encontrava onde assentar minha crença, porque o ensino de Jesus ‑ que uma força intrínseca e uma disposição psíquica me levaram a procurar, como o nauta perdido na vastidão dos mares procura o Norte ‑ me era oferecido sob um aspecto impossível de acomodar‑se com um sentimento íntimo, instrutivo, exato, que me desse a razão e a consciência de ali estar a verdade; mas a verdade não é aquilo.
Ah! a Igreja Romana! a Igreja Romana!
O Cristianismo nunca terá tão formidável inimigo! O materialismo nunca terá aliado tão prestimoso!
Eu já disse como, antes de aceitar o Espiritismo, vivi a fugir de toda a crença religiosa, por não poder aceitar uma que impõe à fé, por decreto de seus ministros, e a ser arrastado para essa mesma crença, que não podia aceitar, como se mão amiga me arrastasse para o cascalho, dentro do qual estava incrustado o brilhante.
Eu já disse como me abracei com o cascalho para não rolar no abismo da descrença, e como aquela mão me impeliu para ele, quebrou‑o a meus olhos, e me fez patente o brilhante nele contido.
Minha alma encontrou finalmente onde pousar!
Posso dizer o meu "credo" espírita, com aplauso de minha consciência, e não por
força de uma autoridade que se arroga o direito de impor a fé! '"
Nestas condições, tendo encontrado a linfa que me saciou a sede de crer, posso ser mais o que era antes?
A moral cristã, iluminada pelos inefáveis princípios do Espiritismo, não pode deixar de modificar, para melhor, a quem cultiva não somente por dever, mas também e principalmente por nela ter encontrado a paz do espírito!
Não sou, por minha fraqueza, o que ela deve fazer do coração humano; não posso julgar, sem incorrer em orgulho ou falsa modéstia; mas posso assegurar que já compreendo os meus deveres para com Deus, para com os meus semelhantes, de um modo diverso, acentuadamente mais elevado, que antes de ser espírita.
Julgo, pois, que me é lícito dizer que as novas opiniões acarretaram para mim sensível modificação moral.
E, para confirmá‑lo, basta consignar este fato:
Antes de ser espírita, só pensar em perder um filho, fazia‑me mentalmente blasfemar, punha‑me louco.
Depois de espírita, tenho perdido quatro filhos adorados, e depois de criados, louvando e agradecendo ao Pai de amor ter provado, por aquele modo, minha obediência a seus sacrossantos decretos.
***
Esta declaração de princípios, cuja leitura é imprescindível para o conhecimento da firmeza de caráter e amplitude da fé nos desígnios superiores do DR. BEZERRA DE Menzes, que tanta bondade e amor dispensa aos seus filhos amados , foi tirado do livro "VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES", escrito por Sylvio Brito Soares, editado, em sucessivas edições, pela FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, obra que poderá ser encontrada nas boas livrarias e cuja leitura recomendamos a todos àqueles que quiserem conhecer um pouco mais da sua vida, composta de muitas lutas e muitas glórias, principalmente no que tange ao Mundo Espiritual.
Neste mês de abril, o movimento espírita brasileiro presta a este importante vulto do Cristianismo Revivido, que nos proporciona a verdade através da fé raciocinada, uma homenagem singela e comovente. Erguem‑se nossas preces, ao alto, para agradecer a Deus, Pai Amantíssimo, permitir permaneça Dr. Bezerra de Menezes, em espírito, no nosso meio, amparando‑nos e aliviando‑nos em todas as necessidades, físicas ou espirituais, quando, mercê a sua elevação, poderia ascender a planos mais elevados. '
No dia 11 de abril de 1900, às onze horas e trinta minutos, retomava o seu espírito à Pátria Eterna. O seu desenlace foi acompanhado com muita tristeza, mas nenhum desespero, por um grande número de seus "filhos amados". Cem anos ‑ 1° Centenário.
Fonte: LUZ DO EVANGELHO 176 - ABRIL DE 2000
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:16

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Sexta-feira, 28 de Agosto de 2009

NÃO ESQUEÇA O PRINCIPAL

 

 
 
            Conta à lenda que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia:
            “Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair , a porta de fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas se esqueça do principal ...”
            A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas jóias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental.
            A voz misteriosa falou novamente:
            “Você só tem oito minutos.” 
            Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou ... Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre! A riqueza durou pouco e o desespero, sempre. O mesmo acontece, às vezes, conosco. Temos uns oitenta anos para viver, neste mundo, e uma voz sempre nos adverte. “Não se esqueça do principal !” E o principal são os valores espirituais, a oração, a vigilância, a família, os amigos, a vida ! Mas a ganância, a riqueza, os prazeres materiais nos fascinam tanto que o principal vai ficando sempre de lado ...
            Assim, esgotamos o nosso tempo aqui, e deixamos de lado o essencial:
            “Os tesouros da alma !”
            Que jamais nos esqueçamos que a vida, neste mundo, passa rápido e que o desencarne chega de inesperado. E quando a porta desta vida se fechar para nós, de nada valerão as lamentações.
            Portanto, que jamais esqueçamos o principal !.
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PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 06:21

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IMORTALIDADE

Vianna de Carvalho
No justo momento em que a técnica atinge as culminâncias, e o homem sofre aflições sem termo, somos convidados a recordar Jesus - Cristo exclamando: “Eu vendi o mundo!”
A ciência vaticinou, para o século corrente, a morte das doutrinas espiritualistas, tendo em vista a marcha natural do progresso intelectivo.
E em verdade, até à metade do século passado, a filosofia espiritualista não passava de um amontoado de informação místicas e de arranjos dogmáticos incapazes de competir com os sistemas filosóficos vigentes, resistindo aos descobrimentos da ciência investigadora.
Coube a Allan Kardec a inapreciável tarefa de demonstrar, pela pesquisa experimental, a realidade do fenômeno da imortalidade da alma. E, graças a isso, o Codificador da Doutrina Espírita se destaca entre os vates do pensamento universal, pelo gigantesco empreendimento de positivar, consoante os dados oficiais da indagação, a continuação da vida além da morte.
A tarefa era, a princípio, sob todos os aspectos intratável, considerando-se a posição da ciência ante os rudimentos da nascente Psicologia.
De um lado, o cientificismo pontificava arbitrário, e o empirismo, no outro extremo, ditava leis falseadas sobre a verdade.
Kardec, porém, embrenhou-se no matagal das informações.
Não foi somente um coligidor dos informes dos Espíritos. Foi, antes de tudo, um admirável garimpeiro da verdade, separando da ganga o ouro rebrilhante, na mensagem eterna.
De 1854 a 1869, pesquisou, selecionou, reparou, fez acréscimos, sopesou e apresentou uma doutrina que pudesse enfrentar o materialismo, justamente no momento em que Engels e Marx iriam desdobrar os conceitos hegelianos, favorecendo os aspectos dialético e histórico, já que o materialismo mecanicista não podia resolver o problema fundamental da imortalidade por lhe faltarem os elementos basilares para destruir a realidade da alma.
Com Hegel, o pensamento passou a ser uma função do cérebro, cuja atividade era pensar, controlando as manifestações nervosas da vida.
Allan Kardec se distinguiu pela tarefa de demonstrar que o pensamento não é apenas uma função do cérebro, sendo este a conseqüência de um pensamento anterior que nele atua através de um outro cérebro mais sutil, comando geral e força dinâmica mantenedora do equilíbrio: o psicossoma.
E acolitado por figuras da enfibratura de Crookes, Zölner, do caráter de Lombroso e de Lodge que vieram a público, posteriormente, apresentar o resultado das suas pesquisas, Kardec demonstrou, à saciedade, o sentido incontroverso da imortalidade da alma, em experiências que se tornaram notáveis, realizadas mais tarde, com o curso de médiuns do quilate de Florence Cook, Eusápia, Daniel Home...
A tarefa se avultava por estarem em jogo os sistemas do monismo e do dualismo.
Allan Kardec demonstrou também que o homem não é constituído apenas de duas peças: o corpo e alma. Mas é formado por uma tríade de elementos: o espírito, perispírito e matéria, sendo o perispírito encarregado de funções específicas na engrenagem harmoniosa da vida hominal.
E quando o materialismo ateu, no seu aspecto dialético, veio a campo combater a Doutrina Espírita, o Espiritismo, como escola filosófica, na sua feição dialética, apresentava “O Livro dos Espíritos” como protesto nobre ao abuso e à arbitrariedade das informações hegelianas, às doutrinas nele inspiradas, bem como às velhas fisolofias espiritualistas sem fundamentação científica.
E a previsão da ciência, que aguardava para o século presente a morte das doutrinas espiritualistas, faliu, porque o século XX, com os seus valiosos descobrimentos e tirocínios, não pode retificar um único conceito da doutrina postulada pelo gigante lionês que, na atualidade, se faz o maior antídoto aos grandes males que afligem a Humanidade.
Como o materialismo é um veneno letal, o Espiritismo é o seu anticorpo, preparado para diminuir ou dirimir os efeitos terríveis dos ódios organizados secularmente e agora disseminados pelo ateísmo existencialista.
Enquanto o homem avança pelas trilhas do prazer, outros homens aparecem como exegetas do trabalho e apóstolos da caridade, formando a mentalidade para o Terceiro Milênio que colocará bem alto o estandarte da luz cristã refletida na mensagem nobre da Doutrina Espírita.
E embora se previsse o soçobro das religiões no século XX, Allan Kardec, semelhante a Copérnico, que veio por cobro às fantasias a respeito do sistema solar, por também termos às superstições a respeito da imortalidade da alma, arracando-a do sobrenatural e do dogma, retificando a sua feição mística, graças à documentação experimental de que a bibliografia espírita é farta, enriquecendo a ciência espiritualista para competir e esclarecer a ciência atual, ajudando-a na busca da verdade.
Ante as dores que se acumulam inevitáveis para os próximos tempos, sem nos desejarmos transformar em Parcas a tecerem a túnica mortuária da Civilização, o Espiritismo é a grande esperança, porque afirma não ser a morte mais do que uma grande transição para o despertamento na verdadeira vida: a Vida Imortal.
Pontifiquemos, desse modo, com Nosso Senhor Jesus-Cristo, o herói da sepultura vazia, atendendo o programa da solidariedade universal, transferindo o sangue novo da fé para os corações esfacelados pelo medo e acendendo em toda a parte a lâmpada da convicção imortalista. Sigamos a trilha da verdade, cumprindo o nosso dever para, vitoriosos, atingirmos o porto da nossa gloriosa Imortalidade.
(Página recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 15-1-1962, em Salvador, Bahia).
Reformador - Brasil Espírita - Abril de 1971
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 01:55

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Quinta-feira, 27 de Agosto de 2009

A PONTE MAIS IMPORTANTE

Você saberia dizer qual é a ponte mais importante do mundo?
Talvez muitas imagens de mega-construções tenham passado pela sua mente neste instante, mas seguramente nenhuma delas é a mais importante, embora todas sejam úteis.
Agora imagine uma mãe com seu bebê no colo...
Imagine o neném sugando o leite materno enquanto a mãe o acaricia e o envolve em terno carinho...
Sem dúvida, uma imagem divina!
Agora imagine uma criança deitada sobre o peito de seu pai, enquanto o pai passa suavemente a mão sobre suas costas...
Outra cena comovente, com certeza...
Mas, afinal de contas, o que isto tem a ver com a ponte mais importante do mundo?
Tem, e muito.
Esses pequenos gestos são os alicerces que sustentarão a ponte mais eficiente e mais importante da vida: a ponte do diálogo.
Muitos pais desconhecem que é desde os primeiros dias de vida de seus bebês que a ponte do diálogo deve ser iniciada.
Os pais que sabem disso começam a conversar com o filho enquanto este ainda se move no ventre materno. E o neném responde, ao seu modo.
Mas quando esse importante meio de comunicação e união não é construído, as conseqüências podem ser desastrosas, pois um precipício pode se abrir entre pais e filhos.
Desatentos para essa realidade, muitos genitores crêem que somente quando o filho for jovem é que deverão se preocupar com uma aproximação. Ledo engano!
Não é raro que muitos pais se desesperem quando tentam dar um passo na direção do filho e só encontram um profundo vazio...
Não há ponte... Não há como se aproximar...
Perplexos, os pais gritam. Também em vão...
Os filhos não os ouvem. Não há entendimento. Só há um grande e triste distanciamento...
"Onde foi que eu errei?", perguntam-se. Mas não ouvem resposta alguma.
Encontrarão a resposta fazendo uma retrospectiva de suas atitudes para com os filhos, desde o momento em que eles chegaram ao mundo.
As cenas são quase sempre iguais, mudando apenas o cenário e os personagens.
O filho pequeno, que ainda não sabe se comunicar com palavras, é extremamente sensível aos gestos dos pais, mas é tratado como se fosse apenas um boneco, sem razão nem sentimentos...
Não é digno de atenção, pois não sabe se expressar...
Outro equívoco, pois logo as crianças demonstram sua indignação agindo com rebeldia ou violência, ou se isolando do mundo.
Por todas essas razões, e outras mais, é importante pensar nessa ponte de afeição que liga as criaturas.
Ela precisa ser construída com cuidado, usando-se os melhores sentimentos de ternura, atenção e respeito, os únicos que são eficientes e duráveis.
Por mais que avance a tecnologia, que se tenha mil modos de comunicação, nada substitui o diálogo caloroso entre os familiares.
E não basta apenas estar junto, não basta oferecer o peito ao bebê e ficar com a mente e o coração distantes.
Não é suficiente sentar-se na mesma poltrona, ligar a TV e ver um bom filme.
É preciso estar junto, sentir o coração pulsando, os olhares fugidios, os medos escondidos.
Considere tudo isso e comece, ainda hoje, a construção dessa ponte de ternura que aproximará você de quem você ama.
Não permita que a erosão da indiferença abra valas intransponíveis entre você e os seus amores! Aproxime-se, de corpo e alma, enquanto ainda há tempo...
Pense nisso!
Quando a ponte do diálogo é construída sobre as bases da confiança e do respeito mútuo, não há nada capaz de derrubá-la, e as relações afetivas estarão sempre preservadas.
Pense nisso, mas pense agora!
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 22:52

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Quarta-feira, 26 de Agosto de 2009

A CERTEZA DA VIDA APÓS A MORTE

Não há nenhuma possibilidade de dúvida sobre a continuação da vida humana após a morte. Tudo quanto sabemos sobre a Natureza, as coisas e os seres mostra-nos que as formas vivas estão sujeitas a morrer, mas não a se extinguirem. A extinção total, absoluta, de qualquer coisa ou ser implica um ilogismo, um contra-senso no campo do conhecimento, uma violação das leis admitidas até hoje em nosso esquema epistemológico. Se, por um lado, nada se acaba nem se perde, tudo se transforma na Natureza, por outro lado, como estabeleceu Kardec com a expressão: “Tudo se encadeia no universo”, a nossa concepção possível da realidade universal é monista, não podendo admitir nada separado ou isolado na estrutura do Universo. Se uma folha de relva se perder em definitivo, com a nadificação total de todos os seus elementos constitutivos, toda a nossa mundividência ruirá, nada mais nos cabendo fazer do que uma revisão total dos nossos conhecimentos.
A Física atual tornou ainda mais inviolável essa estrutura monista, com suas descobertas no campo atômico e subatômico.
Não se trata apenas de teorias, de suposições ou intuições, mas do resultado evidente e suficientemente provado e comprovado das pesquisas científicas. Esse monismo, além disso, não é apenas constatado no macrocosmo, mas também nas estruturas microscópicas, pois cada uma delas, por mais isolada ou estranha que se apresente, é sempre um reflexo do monismo cósmico, dividindo-se em unidades interligadas interiormente e ligadas exteriormente a outros campos de forças estruturados segundo esse mesmo princípio.
Dessa maneira a morte, como frustração e nadificação do ser, simplesmente não pode existir. A impossibilidade, nesse caso, não é apenas lógica ou filosófica, mas também genésica, jurídica e metafísica. Os campos de forças no cosmos e os centros padronizadores das estruturas orgânicas, desde o mineral ao hominal, mostram que a realidade é uma rede de causas e efeitos reciprocamente conjugados, com a determinação específica de jurisdições invioláveis, como, por exemplo, a jurisdição de si mesmo conferida ao homem através da consciência. Genesicamente temos a interdependência das coisas, dos seres, dos fatos, das palavras, dos pensamentos, dos sentimentos e assim por diante, de tal maneira que o cair da folha seca de uma árvore, o desabrochar de uma flor, o canto de um pássaro ou o sussurro do vento está na dependência das leis que ordenam e regem a totalidade do real.
Foi por isso que Espinosa deu à sua doutrina panteísta a inflexibilidade de um fatalismo arábico, tipicamente islâmico. Não obstante, o próprio Espinosa admitiu, na teoria da natura naturans e natura naturata a duplicidade necessária da substância e do modo, em que a jurisdição se infiltra no desenvolvimento livre de suas atividades. Hartmann negaria mais tarde o sentido teleológico da rés como finalidade humana, mas não como finalidade intrínseca do Todo. A impassibilidade de Espinosa em face da morte, confiante no seu retorno a Deus, confirma a tese de Heidegger sobre o diálogo entre o Homem e o Outro como única possibilidade de comunicação, ao mesmo tempo em que explica a negação da comunicabilidade humana por ele alegada, pois em última instância só pode comunicar ao Ser Supremo a sua angústia existencial. Essa posição, aparentemente ilógica e contraditada pelo desenvolvimento mundial dos meios de comunicação no plano sensorial, nada significa ante a única forma válida de comunicação profunda e integral da criatura com o Criador. Remanescia no teólogo Kierkegaard a herança da tradição judaica da comunicação vertical, mais tarde adotada e proclamada por Jaspers como uma realidade ôntica. A intuição de Espinosa captava, apoiada na herança bíblica, a realidade essencial da imortalidade do ser. Encontramos nesse episódio, talvez, a mais lógica explicação da criação do homem à imagem e semelhança de Deus. Não se trata da semelhança modal, baseada na teoria do modo, como pensaram os teólogos cristãos, mas da semelhança platônica proveniente de Sócrates na teoria do conceito. Isso quer dizer que o conceito de Deus, fragmentando-se no sensível, na projeção da imagem real de Deus nas sombras da caverna, deu ao Cristianismo, que não soube reconhecê-la, a única forma possível de identificação da criatura com o Criador. Nessa identificação temos também a única prova realmente ontológica da imortalidade do homem como ser. O ser do homem se define essencialmente como espírito, sem o qual o corpo material sem vida nem consciência seria um abortivo, segundo a clássica expressão do Apóstolo Paulo. Os que não aceitam essa concepção do homem colocam-no e colocam-se abaixo do nível da animalidade. Desclassificam-se a si mesmos na escala ontológica.
A densidade da matéria em nosso mundo terreno é suficiente para mostrar às criaturas capazes de raciocínio que vivemos numa condição inferior. Friedrich Zöllner, em suas experiências físicas, na Universidade de Leipzig, sobre as dimensões da matéria, obteve resultados positivos e explicou os fenômenos paranormais como produzidos por entidades espirituais da quarta dimensão.
Elaborou a teoria dessa nova dimensão da realidade, dando início ao que chamou de Física Transcendental. A possibilidade dessas pesquisas parecia absurda naquele tempo, em meados do século XIX. Zöllner demonstrou que essa possibilidade decorria da estrutura hierárquica do universo em sua totalidade unitária. Como Kardec, provou que a passagem de seres e objetos de uma dimensão para outra dava origem a uma fenomenologia que sempre existira, mas para a qual somente alguns cientistas se interessavam.
A Física Transcendental não era uma ciência abstrata, mas concreta, assentada em bases fenomênicas. Conseguiu mesmo verificar que certos objetos – como nos fenômenos de apport (passagem de um objeto material através de paredes e tampas de madeira ou de metal) – produziam calor ao serem transportados de uma dimensão para outra. Mas os seus colegas o consideraram perturbado e não levaram a sério as suas pesquisas. Hoje as pesquisas da Física avançaram além dessa descoberta, provando que Zöllner tinha razão. Mas os preconceitos religiosos, a dogmática asfixiante das igrejas e os próprios preconceitos científicos impediram até hoje que a memória de Zöllner fosse restabelecida em nossa cultura incipiente e medrosa, comodista e interesseira, na sua dignidade de pioneiro. Se os objetos podem passar de uma dimensão da matéria para outra, em que permanecem ocultos ao nosso sensório, e isso pode ser provado cientificamente de maneira irrefutável, qual a impossibilidade existente para que os seres possam também, e com mais razão, transitar de um plano para outro?
No livro O Cosmos e seus Sete Estados, de M. Vasiliev e K. Staniukovich, lançado pela Editorial Paz, de Moscou – baseado em resultados das pesquisas astronáuticas –, dizem os autores:
“Universo, ilimitado no espaço, sem começo nem fim no tempo, infinitamente diverso, que não se repete no espaço e no tempo, o que sabe o homem atual a teu respeito? Habitando num sistema de astro pouco luminoso, colocado num arrabalde provinciano da Galáxia, longe do luminoso núcleo central da mesma, densamente povoado. Vive sobre um dos planetas mais modestos, que é um grão de areia entre os milhares de milhões que compõem somente a nossa ilha estelar, morando no fundo de uma nuvem pouco transparente de gás que rodeia o planeta. O que pode esse homem saber de ti, Universo, desde este rincão perdido? Não passaram ainda quinhentos anos do momento em que ele descobriu pela primeira vez o teu planeta, viajou ao teu redor e só recentemente ele conheceu, a princípio de modo especulativo, as primeiras leis que o ligam e abrangem o espaço, a velocidade e o tempo. Faz pouco tempo que ele tocou o segredo da constituição da tua substância.”
Esta confissão dos materialistas soviéticos sobre a nossa condição e posição no Cosmos bastaria para acordar as mentes que se congelaram numa concepção estupidamente dogmática do Universo e do Homem. Vivemos num planetinho minúsculo de um sistema solar cosmicamente insignificante e nos atrevemos a dogmatizar, religiosa e cientificamente, sobre questões que desafiam as nossas possibilidades de pesquisas eficazes. Somos praticamente – como dizia o Lobo do Mar de Jack London – minúsculos pedacinhos de fermento que se arrogam o domínio do saber universal. Teólogos modernos chegaram a anunciar a Morte de Deus em nosso tempo, suicidando-se sem o perceber ante a cova que o louco de Nietzsche abriu para enterrar o cadáver divino.
Não seria sensato pingarmos umas gotas de humildade na ácida e ridícula pretensão desse fermento?
A rejeição das ciências ao Espiritismo decorre dessa pretensão humana que denuncia o infantilismo da nossa Humanidade, apegada aos tabus e superstições da selva. As pesquisas de Kardec, louvadas e repetidas pelos grandes cientistas da época, que comprovaram o seu acerto, serviram para a avaliação da nossa imaturidade. Kardec mesmo denunciou esse resultado, lamentando que os homens aparentemente mais sérios revelassem uma leviandade assustadora quando se pronunciavam sobre o problema espírita.
As ciências do século passado condenaram uma doutrina eminentemente científica para se defenderem das superstições.
Eram ciências medrosas, porque incipientes, que se apegavam às suas descobertas como o avarento ao seu cofre. Tendo lutado contra o dogmatismo e a violência eclesiástica, essas ciências adotaram os mesmos métodos e a mesma posição de seus algozes, passando a condenar, ridicularizar e caluniar os que avançavam além dela, embora usando todo o rigor científico em suas pesquisas.
Ridicularizaram Kardec por se interessar pela dança das mesas, e Kardec perguntou-lhes se isso era mais ridículo do que o interesse de Galvani pela dança das rãs. Quando Flammarion declarou, corajosamente, que a teoria da reencarnação era o corolário necessário da teoria da pluralidade dos mundos habitados, acusaram-no de visionário. Hoje os cientistas mais esclarecidos não recusam a hipótese, que cada vez mais se impõe nos meios científicos, da existência de mundos habitados em todo o Cosmos e a reencarnação deixou de ser uma questão religiosa para se transformar em objeto de graves e insistentes pesquisas científicas.
Com o pouco que avançamos nesse meio século de pesquisas cósmicas, como acentuaram Vasiliev e Staniukovich, já nos vemos lançados na rota de Flammarion. A posição espírita foi mais científica do que a das ciências do século passado, porque inteiramente aberta, antidogmática e confiante no valor da pesquisa.
Richet chegou a louvar o espírito científico de Kardec e a reconhecer que Kardec nunca fizera uma só afirmação que não se baseasse em resultados de pesquisas. Os retrógrados quiseram então invalidar as pesquisas de Kardec, ao que o mestre respondeu convidando-os a pesquisar. Não houve jamais uma contraprova científica das pesquisas de Kardec, mas apenas encenações, muitas vezes teatrais, como no caso das materializações de Vila Carmem, na Argélia, com um cocheiro do General Noel, residente francês despedido pelo general por ser mentiroso e ladrão, que levaram ao palco para mostrar como burlara os cientistas presentes.
Interrogado a respeito por jornalistas, Richet respondeu que se tratava de uma questão de opção. “Quem quiser – disse ele – pode ficar com o cocheiro.” Hoje podemos dizer o mesmo, no tocante aos padres e frades que tentam transformar a Parapsicologia em nova forma de negação do Espiritismo: Quem quiser, fique com esses padres e frades pelotiqueiros, exibidores de falsos fenômenos de magia teatral em palcos e televisões. Mas quem preferir os cientistas, que leiam e estudem os seus livros, antes de se atreverem a dar palpites sobre o que não conhecem.
Nos trechos do livro soviético que reproduzimos acima transparece a lei de adoração, quando vemos os cientistas se dirigirem ao Universo como a uma entidade cósmica. Basta trocarmos a palavra Universo pela palavra Deus para termos uma imprecação religiosa à divindade. É uma nova demonstração de que, como afirmou Descartes, a idéia de Deus está no homem como a marca do obreiro na sua obra. Ante o esplendor e a grandeza das constelações no Infinito, os físicos materialistas soviéticos se curvam reverentes. Em outro trecho, em seguida, ameaçam o Deus Universo com o poder do homem que pouco a pouco vai aprendendo a dominá-lo. Voltamos à imagem do pedacinho de fermento que cresce no navio pirata do Lobo do Mar. O fermentinho atrevido não se sente humilde, tornando-se ainda mais arrogante para ameaçar o Universo. Não há dúvida que a epopéia cósmica do nosso tempo é empolgante, mas usá-la como bravata não fica bem a cientistas. Porque estes sabem, ou devem saber, por obrigação profissional, que o homem só consegue fazer alguma coisa na Natureza depois de interrogá-la sobre as suas leis e submeter-se a obedecê-las. Frances Bacon já advertira, quando se estabeleciam as leis do método científico, que a Ciência é um ato de obediência a Deus. Quando os cientistas deixam de obedecer rigorosamente a essas leis, seus foguetes explodem e suas sondas espaciais não enviam informações à Terra. O trágico regresso da cápsula da nave espacial soviética Sayoz à Terra, com seus tripulantes mortos sem tempo de piscar, por causa de um defeito de calefação na nave, mostra a necessidade da obediência rigorosíssima aos poderes superiores que o fermentinho atrevido pretende ignorar. Eça de Queiroz, em A Cidade, põe um estudante materialista de Coimbra a fazer uma demonstração da inexistência de Deus. Tirando um patacão português do bolso, o estudante dá o prazo de cinco minutos a Deus para fulminá-lo com um raio. Passado o tempo, ele guarda o relógio dizendo: “Está provado que Deus não existe”.
Essas fanfarronadas acadêmicas ainda se repetem na abertura da Era Cósmica.
A Ciência Espírita, fundada por Kardec, revela a sua inteireza em todos os sentidos: nasceu de pesquisas rigorosas de fenômenos materiais, sujeitas a confrontos e repetições, aplicando o método indutivo, não aceitando coisa alguma que não pudesse ser provada dessa maneira. Entendendo que o método de pesquisa deve corresponder à natureza do objeto, Kardec formulou a metodologia necessária e a divulgou amplamente. Aberta a todas as possibilidades do conhecimento cientifico, não deixou dogmas, declarando que conquista científica provinda de outras fontes, mas realmente comprovada, poderia modificar a estrutura doutrinária flexível.
Criaturas inscientes e levianas tomaram essa franquia como um convite à mixórdia e ao sincretismo, lançando teorias absurdas e até mesmo ridículas em nome da doutrina. Kardec sempre as repeliu através de exames e verificação experimental. Nenhuma ciência se mostrou tão científica como essa, nem tão sólida na inteireza dos seus princípios. Há dogmas no Espiritismo, afirmam criaturas desavisadas. Kardec mesmo falou no dogma da reencarnação, mas não como dogma de fé e sim como dogma de razão, princípio doutrinário enquanto válido.
Por mais estranho que pareça aos que desconhecem o Espiritismo, o dogma da existência de Deus é também de razão e não de fé, fundando-se no princípio seguinte: “Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, e a grandeza do efeito nos prova a grandeza da causa”. Assim, a prova de existência de Deus está em nós mesmos e na Natureza, pois a nossa inteligência e toda a estrutura inteligente do Universo provam a existência de uma Inteligência Suprema. Querem uma prova mais objetiva do que a Natureza terrena somada à grandeza do Cosmos?
Podem tranqüilizar-se os que perderam seres amados na voragem da morte. Nada se perde, tudo se transforma. O homem deixa o corpo na Terra e passa naturalmente para outra dimensão da matéria, que se refina e aprimora na escalada gloriosa das hipóstases de Plotino. A imortalidade do ser humano foi provada sempre nas pesquisas espíritas mais rigorosas e continua a provar-se nas investigações atuais em todo o mundo. Há sempre um reencontro à nossa espera, nas dimensões infinitas do Cosmos. A morte do corpo não é a morte do ser. Este apenas se liberta da prisão material para prosseguir sua evolução no tempo e no espaço.
Os mortos não morreram, são almas viajoras que partiram para mundos mais belos e livres.
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 23:17

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Domingo, 23 de Agosto de 2009

MOISÉS E O ESPIRITISMO


A condenação do Espiritismo pela Bíblia, que é a mais citada e repetida, figura no Cap. 19 do Deuteronômio. É a condenação de Moisés, que vai do versículo 9 ao 14.
A tradução, como sempre, varia de um tradutor para outro, e às vezes nas diversas edições da mesma tradução.
Moisés proíbe os judeus, quando se estabeleceram em Canaã, de praticar estas abominações: fazer os filhos passarem pelo fogo; entregar-se à adivinhação, prognosticar, agourar ou fazer feitiçaria; fazer encantamento, necromancia, magia, ou consultar os mortos. E Moisés acrescenta, no versículo 14: “Porque essas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores, porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa”. Assim está na tradução de Almeida, mas variando de forma, por exemplo, na edição das Sociedades Bíblicas Unidas e na edição mais recente da Sociedade Bíblica do Brasil.
Na primeira dessas edições (ambas da mesma tradução de João Ferreira de Almeida) lê-se, por exemplo: “quem pergunte a um espírito adivinhante”, e na segunda: “quem consulte os mortos”. Na tradução de António Pereira de Figueiredo, lê-se: “nem quem indague dos mortos a verdade”.
Qual delas estará mais de acordo com o texto? Seja qual for, pouco importa, pois a verdade dita pelos mortos ou pelos vivos (estes, mortos na carne) é que tudo isso que Moisés condena, também o Espiritismo condena.
Não esqueçamos, porém, de que a condenação de Moisés era circunstancial, pois os povos de Canaã, que os judeus iam conquistar a fio de espada, eram os que praticavam essas coisas.
Mas a condenação do Espiritismo é permanente e geral, pois o Espiritismo, sendo essencialmente cristão, não se interessa por conquistas guerreiras e não faz divisão entre os povos.
Kardec adverte em O Evangelho Segundo o Espiritismo, livro de estudo das partes morais do Evangelho: “Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo, porque ele declara formalmente que não os produz”. (Cap. XXI: 7).
Em O Livro dos Médiuns, Kardec adverte: “Julgar o Espiritismo pelo que ele não admite, é dar prova de ignorância e desvalorizar a própria opinião”. (Cap. 11:14).
Em A Gênese e em O Livro dos Espíritos, como nos já citados, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é moralizar os homens e os povos.
Quem conhece o Espiritismo sabe que todo interesse pessoal, particular, é rigorosamente condenado.
Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos, consultar interesseiras, são práticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o Espiritismo condena hoje.
Mas o próprio Moisés aprovou a mediunidade moralizadora, a prática espiritual da relação com o mundo invisível, como veremos.
Moisés, o grande legislador judeu, médium de excepcionais faculdades, não condenou, mas praticou a mediunidade e desejava vê-la praticada pelo seu povo. Ele recebia espíritos, conversava com espíritos, evocava espíritos, e além disso fazia-se acompanhar no deserto por uma equipe de médiuns, provocando até mesmo fenômenos de materialização. Mas vamos agora a um episódio que pastores e padres não citam, mas que está na Bíblia, em todas as traduções.
O professor Romeu do Amaral Camargo, que foi diácono da l Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita De cá e de Lá. É o constante do livro de Números, Cap. 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová.
Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o fato a Josué. Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações.
A resposta de Moisés é um golpe de morte em todas as pretensas condenações do Espiritismo pela Bíblia. Eis o que diz o grande condutor do povo hebreu: “Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito”!
Comenta o professor Camargo: “Médium de extraordinárias faculdades, Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pelos espíritos”.
Como acabamos de ver, Moisés aprovava a mediunidade pura que o Espiritismo aprova e defende. Mas o pior cego é o que não quer ver, principalmente quando fechar os olhos é conveniente e proveitoso.
José Herculano Pires
No livro “Visão Espírita da Bíblia”
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 11:21

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Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009

O REPOUSO ETERNO

                                                                        

     Quando deixei o invólucro terreno, fizeram vários discursos em meu túmulo e todos eram marcados pela mesma idéia. Sonnez, meu amigo, dizia um, ides gozar do repouso eterno. Alma, dizia o padre, repousa na contemplação divina. Amigo, repetia o terceiro, dorme em paz após uma vida bem vivida. Enfim, era o repouso eterno contínuo, que ressaltava do fundo de todos adeuses tocantes.
     O repouso eterno! que entendiam por esta expressão e pelas mesmas palavras continuamente repetidas, cada vez que um homem desaparecia da Terra e ia para o desconhecido?
     Ah! meus amigos, dizeis que repousamos. Que erro estranho! compreendeis o repouso à vossa maneira. Olhai em torno de vós; existe repouso? Neste momento as árvores vão se despojar de seus envoltórios encantadores; tudo geme nesta estação; a natureza para preparar a morte e, contudo, se se procurar, achar-se-á a vida em preparação sob essa morte aparente; tudo se depura nesse grande laboratório terrestre: a seiva e a flor, o inseto e o fruto, tudo o que deve adornar e fecundar.
     Esta montanha, que parece ter uma imobilidade eterna, não repousa. As infinitas moléculas que a compõem realizam um trabalho enorme; elas tendem, umas a se agregar, outras a se separar; e essa lenta transformação causa espanto a princípio e depois admiração ao pesquisador que acha em tudo instintos diversos e mistérios a explorar. E se a Terra assim se agita em suas entranhas, é que esse grande cadinho elabora e prepara o ar que respirais, os gazes que devem sustentar a natureza inteira. É que ela imita os milhões de planetas, que percebeis no espaço, e cujos movimentos diários, o trabalho contínuo obedecem à vontade soberana. Sua evolução é matemática e se eles encerram outros elementos além dos que vos fazem agir, ide! crede-o, esses elementos trabalham a sua depuração, a sua perfeição.

     Sim, a sua perfeição. Porque é a palavra eterna. A perfeição é o objetivo e para atingi-lo, átomos, moléculas, seiva, minerais, árvores, animais, homens, planetas e Espíritos se empenham nesse movimento geral, que é admirável por sua diversidade, pois é harmonia. Todas as tendências são ao mesmo fim e esse fim é Deus, centro de toda atração.

     Depois de minha partida da Terra, minha missão não está realizada. Busco e trabalho todos os dias; meu pensamento aumentado abarca melhor o poder dirigente; sinto-me melhor fazendo o bem e, como eu, legiões inumeráveis de Espíritos preparam o futuro. Não acrediteis no repouso eterno! Os que pronunciam estas palavras não compreendem o seu vazio. Vós todos que me ouvis, podeis matar o pensamento, forçá-lo ao repouso? Oh! não. A vagabunda procura e procura sempre e não desagrada aos amáveis e úteis charlatães, que negam o Espírito e o seu poder. O Espírito existe: nós o provamos e o provaremos melhor quando chegar a hora. Nós lhes ensinaremos, a esses apóstolos da incredulidade, que o homem não é o nada, um agregado de átomos reunidos por acaso e pelo mesmo destruídos. Nós lhes mostraremos o homem radiante por sua vontade e seu livre-arbítrio, senhor de seus destinos e elaborando na geena* terrestre o poder da ação necessária a outras vidas, a outras provas. (Espírito de Sonnez - R. E. 1865).
Nota do compilador: geena = O inferno, lugar de suplício.
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PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 01:01

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Terça-feira, 18 de Agosto de 2009

ONDE É O CÉU ?


O vocábulo céu se diz, em geral, do espaço indefinido que circunda a Terra e, mais particularmente, da parte que está acima do nosso horizonte. Vem do latim coelum, formado do grego koitos, oco, côncavo, porque o céu parece aos nossos olhos como uma imensa concavidade. Os antigos acreditavam na existência de vários céus superpostos, compostos de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas, das quais a Terra era o centro. Girando em torno da Terra, essas esferas arrastavam consigo os astros, que se achavam em seu circuito.

Esta idéia, devida à insuficiência dos conhecimentos astronômicos, foi a de todas as teologias, que fizeram dos céus, assim escalonados, os diversos graus da beatificação; o último era a morada da suprema felicidade. Segundo a opinião mais comum, havia sete. Daí a expressão Estar no sétimo céu, para exprimir a felicidade perfeita. Os Muçulmanos admitiam nove, em cada um dos quais aumenta a felicidade dos crentes. O astrônomo Ptolomeu(1) contava onze, dos quais o último era chamado Empíreo(2), devido à deslumbrante luz que ali reina. É ainda hoje o nome poético, dado ao lugar da eterna beatitude. A teologia cristã reconhece três céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens; o segundo é o espaço onde se movem os astros; o terceiro, além da região dos astros, é a morada do Altíssimo, a casa dos eleitos, que contemplam Deus face a face. É em vista desta crença que se diz que São Paulo foi levado ao terceiro céu.

As diversas doutrinas concernentes à morada dos bem-aventurados repousam, todas, no duplo erro que a Terra seja o centro do universo, e que a região dos astros é limitada. Foi para além deste limite imaginário que todas colocaram a morada feliz e morada do Todo-Poderoso. Singular anomalia, que coloca o autor de todas as coisas, o que as governa todas, nos confins da criação, em vez de no centro de onde a radiação de seu pensamento poderia estender-se a tudo!

Com a inexorável lógica dos fatos e da observação, a ciência levou seu facho até às profundezas do espaço e mostrou a inanidade de todas essas teorias. A Terra já não é o pivô do universo, mas um dos menores astros rodando na imensidade; o próprio sol não passa de um centro de um turbilhão planetário; estrelas são inumeráveis sóis, em torno dos quais circulam mundos incontáveis, separados por distâncias apenas acessíveis ao pensamento, posto que pareçam tocar-se. Nesse conjunto, regido por leis eternas, nas quais se revelam a sabedoria e a onipotência do Criador, a Terra não aparece senão como um ponto imperceptível e um dos menos favorecidos para a habitabilidade. Desde então se pergunta por que Deus a teria feito como única sede da vida e para aí teria relegado suas criaturas prediletas. Ao contrário, indica que a vida está por toda a parte, que a humanidade é infinita como o universo. Revelando-nos a ciência, mundos semelhantes à Terra, Deus não os podia ter criado sem objetivo. Deveria tê-los povoado por seres capazes de os governar.

As idéias do homem estão na razão do que sabe. Como todas as descobertas importantes, a da constituição dos mundos lhe deve ter dado um outro curso. Sob o império desses novos conhecimentos, suas crenças devem ter-se modificado. O céu foi deslocado; a região das estrelas, não tendo limites, não mais lhe pode servir. Onde está ele? Ante uma tal questão, todas as religiões ficam mudas.

O Espiritismo vem resolvê-la, demonstrando o verdadeiro destino do homem. A natureza deste último, e os atributos de Deus, tomados como ponto de partida, levam à conclusão.

O homem é composto do corpo e do Espírito. O Espírito é o ser principal, o ser de razão, o ser inteligente; o corpo é o envoltório material, que reveste temporariamente o Espírito, para a execução de sua missão na Terra e ao trabalho necessário ao seu adiantamento. Uma vez gasto, o corpo se destrói e o Espírito sobrevive à sua destruição. Sem o Espírito, o corpo é apenas matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o maneja; sem o corpo, o Espírito é tudo: vida e inteligência. Deixando o corpo, entra no mundo espiritual, de onde havia saído para encarnar-se.

Há, pois, o mundo corporal, composto de Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, pelo mesmo fato de seu envoltório material, estão presos à Terra, ou a um globo qualquer; o mundo espiritual está por toda a parte, em redor de nós e no espaço; nenhum limite lhe é marcado. Em razão da natureza fluídica de seu envoltório, os seres que o compõem, em vez de se arrastarem penosamente no solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que os retêm cativos.

Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com aptidão para tudo adquirir e para progredir, em vista de seu livre-arbítrio. Pelo progresso, adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, em conseqüência, novos prazeres desconhecidos aos Espíritos inferiores; eles vêem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, nem ouvir, nem sentir, nem compreender. A felicidade está na razão do progresso realizado; de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente porque é tão adiantado intelectual e moralmente, sem que haja necessidade de se acharem em lugares diferentes. Posto estejam um ao lado do outro, um pode estar nas trevas, enquanto tudo é resplendente em redor do outro, absolutamente como para um cego e um vidente que se dessem as mãos: um percebe a luz, que não faz qualquer impressão sobre seu vizinho. A felicidade dos Espíritos é inerente às qualidades que possuem: assim, a desfrutam onde quer que se encontrem, na superfície da Terra, entre encarnados ou no espaço.

Uma comparação vulgar dará melhor ainda a compreender esta situação. Se num concerto estiverem dois homens, um bom músico e de ouvido educado, o outro sem conhecimento de música e com o ouvido pouco delicado: o primeiro experimenta uma sensação de satisfação, ao passo que o segundo fica insensível, porque um compreende e percebe o que no outro não causa nenhuma impressão. Assim é com todos os prazeres dos Espíritos, que estão na razão da aptidão para os sentir. O mundo espiritual tem esplendores em toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, ainda submetidos às influências da matéria, nem mesmo entrevêem, pois só são acessíveis aos Espíritos depurados.

Nos Espíritos o progresso é fruto do próprio trabalho. Mas, como são livres, trabalham por seu adiantamento com maior ou menor atividade ou negligência, conforme sua vontade; assim, apressam ou retardam seu progresso, e, por isto mesmo, sua felicidade. Ao passo que uns avançam rapidamente, outros se arrastam por longos séculos nas fileiras inferiores. São, pois, os próprios artífices de sua situação, feliz ou infeliz, conforme a palavra do Cristo: “A cada um segundo as suas obras.” Todo Espírito que fica para trás não pode lamentar-se senão de si mesmo; o que avança tem mérito. A felicidade que conquistou não passa de prêmio aos seus olhos.

A felicidade suprema só é partilha dos Espíritos perfeitos, isto é, dos puros Espíritos. Eles só a atingem depois de haver progredido em inteligência e moralidade. O progresso intelectual e o progresso moral raramente marcham juntos; mas o que o Espírito não faz num tempo, fá-lo-á em outro; de sorte que os dois progressos acabam por atingir o mesmo nível. Eis a razão pela qual, por vezes, se vêem homens inteligentes e instruídos muito pouco adiantados moralmente, e reciprocamente.

A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual, pela atividade que é obrigado a desenvolver no trabalho; ao progresso moral, pela necessidade que os homens têm uns dos outros. A vida social é a pedra de toque das boas e más qualidades. A bondade, a maldade, a suavidade, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, numa palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o homem perverso, tem por móvel, por objetivo e por estimulante as relações do homem com os seus semelhantes. Por isto, quem vivesse só, nem teria vícios, nem virtudes. Se, pelo isolamento, se preserva contra o mal, todavia, anula-se o bem.

Uma única existência corporal é manifestamente insuficiente para que o Espírito possa adquirir tudo o que lhe falta em bem e se desfazer de tudo o que em si é mau. O selvagem, por exemplo, jamais poderia, numa só encarnação, atingir o nível moral e intelectual do mais adiantado Europeu? Isto é materialmente impossível. Deve-se, pois, ficar eternamente na ignorância e na barbárie, privado dos prazeres que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar? O simples bom senso repele tal suposição, que seria, ao mesmo tempo, a negação da justiça e da bondade de Deus, e a da lei progressiva da natureza. Eis porque Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao Espírito do homem tantas existências quantas necessárias para atingir o objetivo que é a perfeição. Em cada nova existência ele traz o que adquiriu nas precedentes, em aptidão, em conhecimentos intuitivos, em inteligência e em moralidade. Cada existência é, assim, um passo à frente na via do progresso, a menos que, pela preguiça, por sua despreocupação ou por sua obstinação no mal, não a aproveite, caso em que deve recomeçar. Dele depende, pois, aumentar ou diminuir o número de suas encarnações, sempre mais ou menos penosas e laboriosas.

No intervalo das existências corpóreas o Espírito entra, por um período mais ou menos longo, no mundo espiritual, onde é feliz ou infeliz, conforme o bem ou o mal que haja feito. O estado espiritual é o estado normal do Espírito, desde que teve o seu estado definitivo e o corpo espiritual não morre. O estado corporal é apenas transitório e passageiro. É o estado espiritual, sobretudo, que recolhe os frutos do progresso realizado por seu trabalho na encarnação; também é quando se prepara para novas lutas e toma resolução que se esforça para pôr em prática, ao voltar à humanidade.

A reencarnação pode dar-se na Terra ou em outros mundos. Entre os mundos, uns são mais adiantados que outros e neles a existência se realiza em condições menos penosas do que na Terra, física e moralmente, mas onde não são admitidos senão Espíritos que atingiram um grau de perfeição compatível com o estado desses mundos.

A vida nos mundos superiores já é uma recompensa, porque aí se está isento dos males e vicissitudes a que se está exposto aqui. Os corpos menos materiais, quase fluídicos, ali não estão sujeitos nem às doenças, nem às enfermidades, nem às mesmas necessidades. Estando excluídos os maus Espíritos, os homens ali vivem em paz, sem outro cuidado senão o de seu adiantamento pelo trabalho da inteligência. Ali reinam a verdadeira fraternidade, pois não há egoísmo, a verdadeira liberdade, pois não há desordens a reprimir, nem ambiciosos procurando oprimir o fraco. Comparados à Terra, esses mundos são um verdadeiro paraíso; são as etapas da via do progresso, que conduz à morada definitiva. Sendo a Terra, um mundo inferior, destinado à depuração dos Espíritos imperfeitos, eis a razão pela qual o mal aqui domina até que a Deus apraza dela fazer a morada de Espíritos mais adiantados.

Assim é que o Espírito, progredindo gradualmente, à medida em que se desenvolve, chega ao apogeu da felicidade; mas, antes de haver atingido o ponto culminante da perfeição, goza de uma felicidade relativa ao seu adiantamento. Como a criança gosta dos prazeres da primeira infância, mais tarde, os da juventude e, finalmente, os mais sólidos da idade madura.

A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não é a ociosidade contemplativa, que seria, como muitas vezes já foi dito, uma eterna e fastidiosa inutilidade. Em todos os graus, a vida espiritual é, ao contrário, uma atividade constante, mas isenta de fadigas. A suprema felicidade consiste no gozo de todos os esplendores da criação, que nenhuma linguagem poderia pintar, que a mais fecunda imaginação poderia conceber; no conhecimento e na penetração de todas as coisas; na ausência de todo cansaço físico e moral; numa satisfação íntima, uma serenidade de alma, que nada altera; no amor que une todos os seres, devido à ausência de todo atrito pelo contato dos maus e acima de tudo pela visão de Deus e a compreensão de seus mistérios, revelados aos mais dignos. Ela está, também, nas funções de cujo encargo se sentem felizes. Os puros Espíritos são os Messias ou mensageiros de Deus, para transmissão e execução de suas vontades; eles realizam as grandes missões, presidem à formação dos mundos e à harmonia geral do universo, encargo glorioso, ao qual só se chega pela perfeição. Só os da ordem mais elevada estão nos segredos de Deus, inspirando-se em seu pensamento, do qual são os representantes diretos.

As atribuições dos Espíritos são proporcionais ao seu adiantamento, às luzes que possuem, à suas capacidades, às suas experiências e ao grau de confiança que inspiram ao soberano Mestre. Aí não há privilégios ou favores, que não sejam o preço do mérito: tudo é medido ao peso da estrita justiça. As mais importantes missões não são confiadas senão aos que são capazes de as desempenhar e incapazes de falhar ou de as comprometer. Ao passo que sob os olhos do próprio Deus, os mais dignos compõem o conselho supremo, a chefes superiores é confiada a direção de um turbilhão planetário, a outros é confiada a de um mundo especial. Vêm a seguir, na ordem de adiantamento e de subordinação hierárquica, as atribuições mais restritas dos que são prepostos à marcha dos povos, à proteção das famílias e dos indivíduos, ao impulso de cada ramo do progresso, às diversas operações da natureza, até aos mínimos detalhes da criação. Nessa vasto e harmonioso conjunto, há ocupação para todas as capacidades, todas as aptidões, todas as boas vontades, ocupações aceitas com alegria, solicitadas com ardor, porque são um meio de adiantamento para os Espíritos que aspiram elevar-se.

A encarnação é inerente à inferioridade dos Espíritos; não é mais necessária aos que transpuseram o seu limite e que progridem no estado espiritual, ou em existências corporais em mundos superiores, que nada mais têm da materialidade terrestre. Da parte destes é voluntária, visto como exerce sobre os encarnados uma ação direta para a realização da missão de que estão encarregados junto àqueles. Aceitam as suas vicissitudes e os sofrimentos por devotamento.

Ao lado das grandes missões confiadas aos Espíritos superiores, os há de todos os graus de importância, confiadas aos de todas as ordens. De onde poder dizer-se que cada encarnado tem a sua, isto é, deveres a cumprir para ao bem de seus semelhantes, desde o pai de família, a quem incumbe o cuidado de fazer os filhos progredirem, até o homem de gênio, que lança na sociedade novos elementos de progresso. É nessas missões secundárias que muitas vezes se encontram fracassos, prevaricações, renúncias, mas que só prejudicam o indivíduo, e não o conjunto.

Todas as inteligências concorrem, pois, para a obra geral, seja qual for o grau que tenham atingido, e cada uma na medida de suas forças; umas no estado de encarnação, outras, no de Espírito. Por toda parte a atividade, de baixo ao alto da escala, todas se instruindo, se ajudando entre si, se prestando mútuo apoio, se dando as mãos, para chegarem ao topo.

Assim se estabelece a solidariedade entre o mundo espiritual e o mundo corporal, isto é, entre os homens e os Espíritos, entre os Espíritos livres e os Espíritos escravizados. Assim se perpetuam e se consolidam, pela depuração e pela continuidade das relações, as verdadeiras simpatias, as afeições santas.

Por toda a parte, pois, há vida e movimento; nenhum recanto da espaço infinito que não esteja povoado; nenhuma região que não seja incessantemente percorrida por inumeráveis legiões de seres radiosos, invisíveis para os sentidos grosseiros dos encarnados, mas cuja vista deslumbra de admiração e de alegria as almas desprendidas da matéria. Enfim, por toda a parte há uma felicidade relativa para todos os progressos, para todos os deveres cumpridos; cada um leva consigo os elementos de sua felicidade, na razão da categoria onde o coloca seu grau de adiantamento.

A felicidade depende das qualidades próprias dos indivíduos e não o estado material do meio em que se acham; está, pois, em toda a parte onde haja Espíritos capazes de ser felizes; nenhum lugar circunscrito lhes é assinado no universo. Em qualquer lugar onde se encontrem, os puros Espíritos podem contemplar a majestade divina, porque Deus está em toda parte.

Entretanto a felicidade não é pessoal. Se só se a encontrasse em si mesmo, se se não pudesse fazer que outros a partilhassem, seria egoísta e triste; ela está também na comunhão de pensamentos que une os seres simpáticos. Os Espíritos felizes atraídos uns para os outros pela similitude de idéias, gostos, sentimentos, formam vastos grupos ou famílias homogêneas, no seio das quais cada individualidade irradia suas próprias qualidades, e se penetra dos eflúvios serenos e benéficos, que emanam do conjunto, cujos membros, tanto se dispersam para se darem às suas missões, tanto se reúnem num ponto qualquer do espaço para comunicar o resultado de seus trabalhos, ou se reúnem em torno de um Espírito de ordem mais elevada, para receber conselhos e instruções.

Posto estejam os Espíritos por toda a parte, os mundos são focos onde de preferência se reúnem, em razão da analogia que existe entre si e os que os habitam. Em torno dos mundos adiantados abundam os Espíritos superiores; em torno dos atrasados pululam os Espíritos inferiores. A Terra é ainda um destes últimos. Cada globo, pois, de certo modo, tem sua população própria de Espíritos encarnados e desencarnados, que se alimenta, em maioria, pela encarnação e desencarnação dos mesmos Espíritos. Essa população é mais estável nos mundos inferiores, onde os Espíritos são mais ligados à matéria, e mais flutuante nos mundos superiores. Mas dos mundos focos de luz e felicidade, destacam-se Espíritos para mundos inferiores, a fim de aí semearem os germes do progresso e levar a consolação e a esperança, levantar os ânimos abatidos pelas provações da vida e, por vezes, aí se encarnam para cumprir sua missão com mais eficácia.

Nessa imensidade sem limites, onde, pois, está o céu? Por toda a parte; nenhum muro o limita; os mundos felizes são as últimas estações que a ele conduzem, as virtudes lhes abrindo o caminho e os vícios lhes barrando o acesso.

Ao lado deste quadro grandioso, que povoa todos os recantos do universo, que dá a todos os objetos da criação um objetivo e uma razão de ser, como é pequena e mesquinha a doutrina que circunscreve a humanidade num imperceptível ponto do espaço, que nô-la mostra começando num dado instante, para terminar, igualmente, num dia, com o mundo que a leva, não abarcando, assim, senão um minuto na eternidade! Como é triste, fria, glacial, quando nos mostra o resto do universo antes, durante, e depois da humanidade terrena, sem vida, sem movimento, como um imenso deserto mergulhado no silêncio! Como é desesperadora, pelo quadro que apresenta do pequeno número dos eleitos votados à perpétua contemplação, enquanto a maioria das criaturas é condenada a sofrimentos sem fim! Como é pungente para os corações amantes, pela barreira que põe entre os vivos e os mortos! Dizem que as almas felizes só pensam em sua felicidade; as infelizes, em suas dores. É de espantar que o egoísmo reine na Terra, quando o mostram no céu? Então como é acanhada a idéia que ela dá da grandeza, do poder e da bondade do Criador!

Ao contrário, quanto é sublime o que apresenta o Espiritismo! Como sua doutrina amplia as idéias e alarga o pensamento! - Mas quem diz que ele é verdadeiro? Primeiro a razão, depois a revelação; finalmente a concordância com o progresso da ciência. Entre duas doutrinas, das quais uma apequena e a outra amplia os atributos de Deus; das quais uma se atrasa e a outra vai à frente, diz o bom senso de que lado está a verdade. Que em presença dos dois, cada um, no foro íntimo, interrogue as suas aspirações e uma voz íntima lhe responderá. As aspirações são a voz de Deus, que não pode enganar os homens.

Mas, então, porque, desde o princípio, Deus não lhes revelou toda a verdade? Pela mesma razão por que não se ensina à criança o que se lhe ensina na idade madura. A revelação restrita era bastante durante um certo período da humanidade; Deus as proporciona às forças do Espírito. Os que hoje recebem uma revelação mais completa são os mesmos Espíritos que noutros tempos receberam apenas uma parcela, mas que depois cresceram em inteligência. Antes que a ciência lhes tivesse revelado as forças vivas da natureza, a constituição dos astros, o verdadeiro papel e a formação da Terra, teriam compreendido a imensidade do espaço, a pluralidade dos mundos? Teriam podido identificar-se com a vida espiritual? conceber, depois da morte, uma vida feliz ou infeliz, a não ser num lugar circunscrito e sob uma forma material? Não. Compreendendo mais pelos sentidos do que pelo pensamento, o universo era demasiado vasto para seu cérebro. Era preciso reduzi-lo a menores proporções, para o pôr em seu ponto de vista, livre de o ampliar mais tarde. Uma revelação parcial tinha sua utilidade, então; era sábia; hoje é insuficiente. O erro é daqueles que, não levando em conta o progresso das idéias, crêem poder governar homens maduros com as andadeiras da infância.
(Allan Kardec - Revista Espírita de 1865).
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 17:20

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Domingo, 16 de Agosto de 2009

OS FENÔMENOS ESPÍRITAS

(Sua universalidade)

Rodolfo Calligaris

O ESPIRITISMO PROPRIAMENTE dito, coordenado sob o tríplice aspecto de Ciência, Filosofia e Religião, só existe há pouco mais de um século, ou, mais precisamente, a partir de 18 de abril de 1857, data em que se deu a publicação de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.

Os fenômenos sobre que ele se apóia, porém — atribuídos à ação dos Espíritos —, pode dizer-se que remontam aos primeiros dias da existência do homem na Terra.

A literatura mais antiga que se conhece a eles se refere, ora sob a forma de lendas e alegorias, ora de maneira clara e positiva.

Na Índia, a prática da evocação dos mortos sempre existiu e ainda hoje existe, principalmente na casta sacerdotal.

No antigo Egito os mortos tinham grande influência sobre os vivos: imiscuíam-se nos negócios mundanos, obsediavam, manifestavam sua presença e sua ação por diversas formas (Ermann, “A Religião Egípcia”).

Maspero, em Estudos Egiptológicos, conta que há em Leide um papiro datando da 58 dinastia (3500-3300 a.C.), onde se narra que um viúvo caiu gravemente enfermo por atuação da falecida esposa, que lhe conservava grande rancor.

Na literatura e na história da Grécia e de Roma encontram-se, em abundância, casos de comunicações com as almas trespassadas.

Segundo Homero, Ulisses valia-se da mediunidade de Circe para interrogar o Espírito Tirésia, o de sua mãe e de vários outros defuntos, e todos lhe respondiam claramente (“Odisséia”, X e XI).

Em uma obra ainda hoje lida pelos eruditos, Plínio, o Moço, relata o caso do espectro de Atenas, em virtude do qual Atenodoro adquiriu uma casa a preço irrisório. Esse filósofo, na primeira noite em que a ocupou, estando a ler e escrever como de costume, ouviu um ruído semelhante ao arrastar de correntes. Erguendo os olhos, viu um velho, triste, carregado de ferros, que se aproximou e lhe fez sinal para que o acompanhasse, conduzindo-o a um ponto do corredor, onde desapareceu. Levado o fato ao conhecimento dos juízes, estes ordenaram que fossem feitas escavações no lugar e acabaram encontrando um esqueleto acorrentado. Deram-lhe honrosa sepultura e os fenômenos cessaram (Cartas, LVII, 27).

Sócrates, Fílon e Plotino comunicavam-se com seus guias espirituais, a que chamavam “gênios”.

Informa Cícero que seu amigo Apio conversava freqüentemente com os trespassados (“De Devinatione”).

Plínio, o Antigo, narra que Tibério também se dava à prática de evocar e confabular com os Espíritos (“História”, XXX, 6).

Pela mediunidade de Erato, a famosa mágica de Tessália, soube Sexto Pompeu de vários episódios que o interessavam (Lucano, “Pharsalia”).

O historiador Cesar de Vesme, diante das pesquisas etnográficas, assegura que entre os selvagens a crença na sobrevivência e manifestação dos Espíritos “se impôs, bon gré, mal gré, independente de seus desejos, pela observação dos fatos” (“História do Espiritualismo Experimental”).

Lapponi, escritor católico, em “Hipnotismo e Espiritismo”, diz que “desde tempos remotíssimos se tem acreditado e se acredita nas relações reais entre os homens ainda vivos e os defuntos, bem como entre aqueles e outros seres imateriais de ordem superior. E a justificação de tais crenças, em todos os séculos, está ligada a narrativas imemoriais de fatos maravilhosos”. (Os grifos são nossos.)

Referindo-se aos fenômenos espiríticos, observa William James, notável filósofo norte-americano, que foi professor na Universidade de Harvard:

“A Fisiologia nada quer com eles. A Psicologia ortodoxa lhes vira as costas. A Medicina os expulsa; ou, quando muito, se está em veia de anedotas, citam-se alguns casos como efeitos da imaginação. Entrementes, os fenômenos aí estão, vastamente espalhados em toda a extensão da História. Abri-a à página que quiserdes e achareis muitas coisas narradas sob os nomes de adivinhação, inspiração, possessão demoníaca, aparições, transes, estudos, curas miraculosas, malefícios, feitiçarias.

Supõe-se que a mediunidade é originária de Rochester, USA, e que o magnetismo animal data de Mesmer; mas, perlustrai um dia o avesso das páginas da história oficial, consultai as memórias, os documentos legais, as legendas, e os livros de anedotas populares, e vereis que não existe época em que esses fatos não deixem de ter sido tão abundantemente relatados como em nossos dias” (“Estudos e Reflexões de um Psiquista”).

Maiores subsídios a respeito poderão ser encontrados em “A Evolução”, de Carlos lmbassahy, onde colhemos grande parte das citações feitas neste artigo.

MÚSICA: CAROLE KING
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PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 19:02

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VISÃO CORRETA DO ESPIRITISMO

É inegável que o Espiritismo, essencialmente, como fato natural, como lei da vida, é de todos os tempos, encontra-se ainda que de modo difuso ou velado no alicerce de todas as crenças imortalistas, razão por que deve ser concebido não como uma seita particular e sim como elemento capaz de fortalecer as diversas religiões e abrir caminho para que elas se encontrem com as várias ciências, levando o homem a cumprir de maneira integral seu destino neste mundo, através do desenvolvimento tanto das potencialidades sentimentais quanto intelectivas. Assim sendo, nada impede que um católico, um teosofista, um amante da umbanda ou do esoterismo seja também espírita, em face do caráter universalista, cósmico, do Espiritismo, e quem quiser defender esta posição certamente descobrirá algumas frases de Allan Kardec para se apoiar. Contudo, somente será espírita em parte, e não de modo completo, pois é igualmente indiscutível que a verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíritos deram (“O Livro dos Espíritos”, introdução, item XVII), e tal ensino é suficientemente claro quando estabelece os fundamentos de uma filosofia racional (idem, Prolegômenos) que incompatibiliza a teoria e prática do Espiritismo com tudo aquilo que tem sabor místico e é destituído de conteúdo lógico. Daí porque ninguém pode ser fiel à causa espírita se deixar de agir com bom senso.
Não basta tirarmos carteirinha no Clube da Pureza Doutrinária para servirmos com proficiência ao Espiritismo. Importa termos a sua visão correta e o bom senso indica que, para isso, o primeiro cuidado é não sermos radicais. Na história de todos os movimentos que hão surgido para alargar os horizontes mentais do ser humano sempre foram as concepções extremistas que estragaram tudo... São elas as fontes geradoras da ortodoxia e toda ortodoxia é fechadura dogmática trancando as janelas da livre análise, sem a qual torna-se impossível o progresso. Acontece que tanto há uma ortodoxia excessivamente conservadora, vocacionada para sustentar o tradicionalismo, quanto há uma ortodoxia exageradamente renovadora, que nada respeita, nem mesmo os valores fundamentais e imprescindíveis à identidade de um pensamento filosófico. A primeira produz por imobilismo a fé cega e a segunda vai tão longe que destrói qualquer fé, ainda que nascida do conhecimento bem construído. Ê lamentável, mas ainda não aprendemos uma grande lição da Antiguidade clássica: virtude está no meio...
Com o devido apreço aos que lutam por fixar o Espiritismo unicamente no plano científico ou exclusivamente na esfera religiosa, e ainda com a justa consideração àqueles que de sejam conservá-lo em sua feição primitiva ou modernizá-lo por completo, ousamos afirmar que a providência básica para termos uma ótica senão perfeita, pelo menos razoável, do Espiritismo, consiste em abandonarmos a presunção de sabedoria infusa e estudarmos com inteligente humildade obra de Kardec, onde são limpidamente expostos os princípios inquestionáveis de nossa Doutrina e os pontos sobre o quais ela própria recomenda reflexão, pesquisa e debate para amadurecimento das idéias.
O mal é que, ao invés de examinarmos sem premeditação os livros do mestre lionês, recorremos a eles com o deliberado ânimo de catar argumentos esparsos alimentadores de nossas tendências ideológicas, sem admitir que, como as demais pessoas, estamos sujeitos a limitações perceptivas. Ora, como todos nos situamos em graus de evolução diferenciados, cada um vê o Espiritismo de uma forma distinta, resultando daí as insanáveis divergências opiniáticas Se sabemos administrá-las, cultivando-as com equilíbrio e moderação, ainda dá para convivermos em regime de trabalho solidariedade e tolerância, consoante a divisa, ou lema, da Codificação. Se caímos no radicalismo, terminamos sendo nocivos e não úteis ao ideal comum. É o que parece, salvo melhor juízo...
Fonte: Reformador nº2000 – Novembro/1995
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 14:16

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