No principio do século V, o debate sofre o sofrimento humano centrou-se nos bebês recém-nascidos, que obviamente não haviam cometido ainda qualquer pecado. Se não havia pecado, por que alguns nasciam com deficiências, ou poucos inteligentes, enquanto outros eram normais? A Igreja rejeitara a resposta de Orígenes a esta pergunta: os seus destinos eram resultados direto de suas ações no passado. Por isso tiveram que providenciar outra resposta para a mesma questão: por que os bebês inocentes( e as pessoas boas em geral) sofrem e morrem?
Os primeiros teólogos contemplavam a ideia de que o estado lamentável da condição humana relacionava-se, de alguma forma, com a Queda de Adão e Eva no Paraíso. Mas foi Santo Agostinho (354-430) que apanhou do chão esta maçã empoeirada, limpou-a em seu manto de bispo e transformou-a naquilo que ainda hoje é fundamento da teologia cristã – o pecado original.
Coisas más acontecem às pessoas boas porque todas as pessoas são más por natureza, dizia Agostinho, e à única oportunidade para se recuperarem desta maldade natural era alcançar a graça de Deus através da Igreja. Como escreveu: “Ninguém será bom, se antes não tiver sido mau”.
Embora a Igreja tenha, desde então, rejeitado alguns dos argumentos de Agostinho, o catecismo católico ainda nos diz: “Não podemos interferir com a revelação do pecado original sem minarmos o mistério do Cristo”. O pecado original está intimamente vinculado ao Cristo, afirma a Igreja, pois é o Cristo que nos liberta do pecado original.
Agostinho acreditava que Adão e Eva viviam num estado de imortalidade física. Não teriam morrido nem envelhecido se não tivessem provado do fruto proibido e, assim, perdido o privilégio da graça divina. Depois da sua queda, as pessoas passaram a sofre, envelhecer e morrer.
De acordo com Agostinho, a vinda do Cristo deu-nos a oportunidade de restabelecermos o estado de graça. Ele atuaria como um mediador entre o Pai e uma criação desobediente. Embora a intercessão do Cristo não salvasse da morte física, permitira o seu retorno ao estado de imortalidade física através da ressurreição do corpo. A graça não impediria que coisas más acontecessem às pessoas na Terra, mas garantiria a sua imortalidade após a morte.
A principal implicação do pecado original é que, como descendente de Adão, temos também a sua natureza imperfeita. “O homem... não tem poder de ser bom”, escreve Agostinho. Ele acreditava que somos tão capazes de fazer o bem como um macaco de falar. Só podemos fazer o bem através da graça. (as ideias de Agostinho, levadas ao extremo, provavelmente induziram as pessoas a pecar. “Não posso fazer nada” seria uma boa desculpa).
A abordagem de Agostinho sobre o sexo deixou profundas marcas na nossa civilização. Mais do que qualquer outro, foi responsável pela ideia de que o sexo é inerentemente mau. A seu ver, o sexo, era indicação mais visível do estado caído do homem, ele via o desejo sexual como a “prova” e o “castigo” pelo pecado original.
MOSTRE-ME NA BIBLIA
Muitas pessoas reagem à ideia do pecado original com descrença. Ele não existe em parte alguma da bíblia, dizem.
Agostinho encontrou apoio para sua doutrina nas Escrituras, em Romanos 5:12. Na nova tradução Revista, o versículo diz: “O pecado veio ao mundo através do homem, e a morte veio através do pecado, e a morte espalhou-se por todos porque todos havia pecado”.
A versão que Agostinho possuía deste versículo havia sido mal traduzido. Ele não lia grego, a língua original do Novo Testamento, por isso usou a tradução em latim, agora conhecida como Vulgata. Nela lemos na segunda parte deste versículo: “E assim, a morte espalhou-se por todos os homens, através de um homem, através do qual todos os homens pecaram”. Agostinho conclui que “através do qual” referia-se a Adão e que, de alguma forma, todas as pessoas havia pecado quando Adão pecou.
Fez de Adão uma personalidade que incorporava a natureza de todos os homens futuros, transmitida através de seu sêmen. Agostinho escreveu: “Todos nós estávamos naquele homem”. Embora não tivéssemos ainda uma forma física, “a natureza seminal pela qual seriamos propagado já se encontrava ali”.
Por isso todos os descendentes de Adão seriam corruptos e condenáveis, porque estavam presentes dentro dele(como sêmen) quando pecou. Agostinho descreveu o pecado como algo que fora “contraído” e que se espalhara pela raça humana como uma doença venérea. Jesus ficou isento do pecado original porque, de acordo com os ortodoxos, foi concebido sem sêmen.
Agostinho concluiu que, como resultado do pecado de Adão, toda a raça humana era um “comboio do mal” dirigindo-se para “destruição pela segunda morte”. Com exceção, é claro, daqueles que conseguem alcançar a graça divina através da igreja.
A CONTROVÉRSIA DO BEBÊ
A doutrina de Agostinho sobre o pecado original gerou uma discussão sobre o batismo infantil. A pergunta central era: O QUE ACONTECE AOS BEBÊS QUE MORRESSEM SEM TEREM SIDO BATIZADOS? VÃO PARA O CÉU OU PARA O INFERNO?
Parecia difícil acreditar que Deus os mandaria para o inferno, uma vez que não tinham cometido qualquer pecado. Mas, se fossem mandados para o céu, porque então precisariam ser batizados? Na verdade, por que alguém precisa ser batizado? Esta controvérsia ameaçava grandemente a autoridade da igreja.
Na época de Agostinho, muitas pessoas adiavam o batismo até a idade adulta, pela mesma razão que Constantino adiara o seu batismo, cerca de um século antes. Não queriam perder a oportunidade de se libertar de todos os pecados. Alem disso, não apreciavam a ideia de fazer penitência pública, exigida pela igreja para pecados cometidos depois do batismo.
Agostinho foi capaz de convencer a cristandade de que todas as crianças precisavam ser batizadas, porque haviam sido maculadas pelo pecado origina. Como os bebês não haviam cometidos pecado algum, ele escreveu: “Só resta o pecado original” para explicar o seu sofrimento. A menos que os bebês sejam batizados, “correm perigo de danação” – de irem para o inferno – alertava ele.
Durante a vida de Agostinho esta doutrina transformou-se numa terrível ameaça para os pais, como vemos na seguinte história, relatada por ele 1 a sua congregação; uma mãe estava desesperada porque seu filho havia morrido sem ser batizado. Levou o corpo da criança para o santuário de Santo Estevão. A criança ressuscitou milagrosamente, foi batizada e morreu outra vez. A mãe aceitou esta segunda morte com muito mais resignação, pois agora estava certa de que seu filho seria poupado da dor eterna do inferno.
O medo da danação das crianças persiste até hoje. Pouco antes do dia 06 de Junho de 1996, milhares de mulheres colombianas encheram as igrejas de Bogotá exigindo que seus filhos fossem batizados. Temiam que, se as crianças não fossem protegidas pelo batismo, ficariam vulneráveis ao Anticristo, cuja vinda estava sendo anunciada para breve. Este rumor surgiu a partir de uma predição feita por uma seita fundamentalista cristã.
VENDENDO A MAÇÃ
Fazer com que a igreja engolisse a pílula amarga do pecado original não foi uma tarefa fácil. Mas Agostinho devotou 20 anos a este fim. Depois da sua conversão ao Cristianismo, deixou a Itália e retornou a África, tornando-se bispo no porto marítimo de Hippo Regius, no norte da África, hoje Algéria. Começou a escrever cartas e tratados, que enviava pelos navios carregados de milho que se dirigiam ao já decadente Império Romano. Instalado em segurança entre os olivais e vinhedos férteis, enfrentava bispos e influenciava papas e concílios da igreja.
Combateu com eficácia as ideias de João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla (347-407), que dizia que não deveríamos ser acusados dos pecados cometidos por Adão. Crisóstomo afirmava que, quando alguma coisa de mal acontecia, era uma punição pelos nossos próprios pecados, e não pelos pecados de Adão. Embora a sua argumentação fosse lógica, não explicava as iniquidades da vida – incluindo o sofrimento dos bebês inocentes.
A explicação de Agostinho para o pecado original tinha certa consistência e moldava-se perfeitamente à imagem de Deus como um imperador criado por Constantino. Agostinho escreveu: “Deus, o mais alto governante do universo, decretou com justiça que nós, que descendemos da primeira união, nascêssemos na ignorância e nas adversidades e sujeitos à morte, pois eles (Adão e Eva) pecaram e foram lançados no meio do erro, das dificuldades e da morte”.
O maior oponente de Agostinho foi o teólogo britânico Pelágio (354-418) que considerava o conceito de pecado original absurdo. Ele não podia compreender uma crença que dizia que os homens eram maus por natureza e incapazes de se aperfeiçoar. Pelágio, como Ário, acreditava que o homem tinha um destino mais elevado. Escreveu: “Não existe uma exortação mais premente do que esta: que devemos ser chamados filhos de Deus”.
Mas Agostinho conseguiu convencer o papa e Honório, governante da metade do império, a excomungar Pelágio (que vivia em Roma) e a envia-lo para o exílio, junto com seus seguidores. Pelágio morreu pouco tempo depois. Mas um dos seus seguidores, Juliano, o jovem bispo italiano de Eclanum, continuou a luta no exílio, na Ásia Menor. Juliano e Agostinho trocaram mísseis de pergaminho através do Mediterrâneo, de 418 até a morte de Agostinho, em 430. Agostinho, porem, já havia vencido.
Juliano perdeu a batalha por não conseguir defender a justiça Divina que permitia o sofrimento dos bebês.
Agostinho argumentava que se Deus era justo e as pessoas eram boas, por que os bebês deveriam sofrer? Mais especificamente, por que Deus permitiria que as almas dos bebês fossem “atormentadas nesta vida pelas aflições da carne”.
Disse Juliano: “É preciso responder que tão grande inocência às vezes nasce cega, “surda” ou “retardada””. A única explicação, acreditava, era o pecado original que os pais da criança lhe haviam “transmitido”.
Juliano contra-atacou perguntando por que um Deus justo condenaria uma criança a sofrer pelos “pecados dos outros” (os de Adão), que contraíra “sem saber nem querer”.
Agostinho respondeu: “Se não existiu o pecado (original), então os bebês... não sofreriam nenhum mal no corpo ou na alma, sob o grande poder do Deus justo”. Se alguém liberta as crianças do pecado original, este individuo esta acusando Deus de ser injusto. “Ambos percebemos a punição”, escreveu Agostinho a Juliano, “mas vós que dizeis que não foram os pais que transmitiram algo que mereça castigo – quando ambos concordamos que Deus é justo – precisais provar se fordes capazes, que existe num bebê alguma culpa que mereça punição”.
A menos que recorresse à reencarnação, Juliano não poderia provar que as crianças tinham feito algo que justificasse os “castigos”que sofriam. Por isso a igreja acabou rejeitando os argumentos de Juliano.
Agostinho conhecia bem o conceito de reencarnação. Em seus 9 anos como maniqueísta, provavelmente aceitou a ideia, pois era um dos princípios fundamentais daquela fé. Sabemos que alguns dos seus oponentes no debate sobre o pecado original sugeriram a reencarnação como uma explicação alternativa para o sofrimento humano.
Mas Agostinho – e finalmente a igreja – rejeitou imediatamente a reencarnação. Disse que era uma “ideia revoltante” considerar que almas precisassem “retornar novamente ao jugo da carne corrupta para pagar as penas do tormento”. Aparentemente, Agostinho achava que o tormento do inferno e da segunda morte eram preferíveis aos “tormentos” da “carne corrupta”.
A controvérsia sobre o pecado original foi resolvida no ano de 529, quando o Concilio de Orange aceitou a doutrina do pecado original elaborada por Agostinho. O concilio declarou que o pecado de Adão corrompera o corpo e alma de toda a raça humana e que o pecado e a morte eram resultado da desobediência de Adão.
Texto retirado do livro Reencarnação – o elo perdido do Cristianismo. De Elizabeth Clare Prophet.
No capítulo XVII, item 4, de O Evangelho segundo o Espiritismo, edição FEB, encontramos uma frase de Kardec muito citada nas palestras espíritas: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”.
Nesse mesmo capítulo, item 1, Kardec cita os versículos 44, 46 a 48, do capítulo 5, do Evangelho de Mateus, com a recomendação de Jesus para amarmos os nossos inimigos, fazermos o bem aos que nos odeiam e orarmos pelos que nos perseguem e caluniam. Pois se amarmos apenas os que nos amam e se saudarmos somente os nossos irmãos estaremos fazendo o mesmo que os publicanos e pagãos já faziam. E termina Jesus: “– Sede, pois, vós outros, perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial” (entenda-se aqui a perfeição relativa, ou da caridade ampla, que abrange todas as virtudes).
Exemplo: ao tomar café da manhã com a família, sua filha derrama café em sua camisa branca de trabalho. Você não tem controle sobre isso, mas sua ação, em seguida, pode provocar uma reação em cadeia.
Primeira hipótese: Você briga com sua filha e ela chora, critica sua esposa por ter colocado a xícara muito na beirada da mesa e começa uma discussão. Você fica estressado e troca a camisa. Sua filha continua chorando e perde o ônibus escolar. Sua esposa vai para o trabalho chateada.
Você tem que levar sua filha de carro para a escola. Como está atrasado, dirige em alta velocidade e é multado. Discute com o guarda e perde mais 15 minutos. Quando chega à escola, sua filha entra e não se despede de você. Ao chegar atrasado ao escritório, percebe que esqueceu sua pasta. Ansioso para o dia acabar, quando chega a casa, sua esposa e filha estão aborrecidas com você. Tudo isso por causa de sua reação ao café derramado na camisa.
Segunda hipótese: o café cai na sua camisa e você diz, gentilmente, à filha: – Não fique triste, acidentes acontecem. Troca de camisa dá um beijo em sua esposa e na filha e, antes de sair de carro para o escritório, vê a filha, ao longe, pegando o ônibus e lhe acenando adeus com uma das mãos.
A situação foi a mesma, mas sua reação pode determinar se seu dia será bom ou ruim.
Segundo Kardec, o homem de bem:
• cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza, consulta sua consciência para saber se violou essa lei, se fez todo o bem que podia;
• tem fé na bondade, na justiça e na sabedoria de Deus e se submete à sua Vontade;
• tem fé no futuro, colocando os bens espirituais acima dos temporais; aceita as dificuldades da vida como provas ou expiações;
• faz o bem pelo bem, retribui o mal com o bem e sacrifica seus interesses à justiça;
• pensa primeiro nos outros antes de pensar em si mesmo e faz o bem com satisfação; o egoísta, ao contrário, calcula as vantagens e os prejuízos de sua ação; Reconhece-se o bem pelas suas obras;
• vê todas as pessoas como irmãs;
• respeita as crenças alheias;
• não alimenta ódio nem desejo de vingança;
• perdoa e esquece as ofensas;
• é tolerante com as fraquezas alheias, pois sabe que precisa de tolerância para com as suas;
• não comenta os defeitos alheios, mas se obrigado a isso, procura ver o lado bom das pessoas;
• estuda as próprias imperfeições e trabalha incessantemente para corrigi-las;
• é modesto com as próprias qualidades e procura destacar as dos outros;
• usa os bens que possui sem vaidade e com consciência;
• trata com respeito seus superiores, e com bondade e simplicidade seus subordinados;
• respeita todos os direitos naturais do próximo como deseja que sejam respeitados os seus. (Op. cit., item 3.)
Conclui Kardec que não ficam assim enumeradas todas as qualidades do homem de bem, mas, quem se esforçar em praticá-las encontra-se no caminho que conduz a todas as demais qualidades.
Em seguida, tratando sobre os bons espíritas, ele informa que, bem compreendido e bem sentido, o Espiritismo leva-nos à condição de homem de bem. “[...] O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.” (Op. cit., item 4.)
Infelizmente, muitas pessoas acham que a moral espírita ou cristã se aplica às outras pessoas e não a si próprias. A Doutrina Espírita é muito clara, não necessita de uma inteligência fora do comum para praticá-la. Prova disso é que muitas pessoas sem instrução compreendem perfeitamente o Espiritismo, enquanto que outras, mesmo possuindo muito estudo, não o aceitam. O mesmo ocorreu com os apóstolos de Jesus e os cristãos... Quanto mais espiritualizada, mais facilmente a pessoa compreende as mensagens da vida espiritual... É preciso, pois, domínio sobre a matéria... Daí a conclusão de Allan Kardec, citada na introdução: “Reconhece-se o verdadeiro espírita [...]”.
Quando percebermos e pusermos em prática os amoráveis conselhos do Mestre Divino, certamente reconheceremos as vantagens de vivermos em harmonia com o nosso próximo. Em O Livro dos Espíritos, temos algumas informações fundamentais para uma vida melhor. Uma delas é a de que a fonte de nossos sofrimentos se baseia em dois sentimentos: egoísmo e orgulho. A outra é a de que uma só coisa é necessária para vivermos bem: devotamento ao próximo, ou seja, vivenciar o amor na sua mais alta expressão.
Assim, pelo devotamento e abnegação, dizem os bons Espíritos, estaremos pondo em prática a mais excelsa das virtudes: a Caridade. Quando entendermos isso, estaremos no caminho que nos tornará homens e mulheres bons. Junho 2010
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
Reformador Junho 2010
Esse é o título da passagem em que João narra o primeiro milagre de Jesus. Apesar de temos refletido muito sobre ela, ainda não tínhamos nenhuma explicação que justificasse a atitude de Jesus em transformar água em vinho, para embebedar os convidados da festa de que participava.
Vejamos o episódio:
“No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos.
Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse:
- Eles não têm mais vinho!
Jesus respondeu:
- Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.
A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo:
- Façam o que ele mandar.
Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus.
Jesus disse aos que serviam:
- Encham de água esses potes.
Eles encheram os potes até a boca.
Depois Jesus disse:
- Agora tirem e levem ao mestre-sala.
Então levaram ao mestre-sala. Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo e disse:
- Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora.
Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele.
Depois disso, Jesus desceu para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E aí ficaram apenas alguns dias”. (Jo 2,1-12).
Ao lermos essa passagem, podemos achar que Jesus tenha faltado com respeito à sua mãe quando diz: “Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou”. Hoje, se usássemos a expressão “mulher”, talvez pensaríamos ser mesmo um desprezo, entretanto, naquela época correspondia à palavra “senhora”, com que, atualmente, tratamos com respeito as mulheres. Jesus não estava negando qualquer relação entre Ele e sua mãe. A explicação que encontramos foi que o sentido seria “em si nós nada temos a ver com esta falta de vinho. Minha hora de fazer milagres ainda não chegou. Contudo, a teu pedido, antecipo esta hora” (Bíblia Sagrada Ave Maria, pág. 1385).
Mas qual é o verdadeiro sentido dessa passagem? Nós o vamos encontrar no que a pessoa encarregada da festa disse para o noivo: Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora.
Considerando que, com esse primeiro ato público, Jesus inicia a sua missão, podemos dizer que o “vinho bom guardado até agora” são os ensinamentos de Jesus, superiores aos recebidos anteriormente, por meio de Moisés que seria simbolicamente o vinho de pior qualidade,. Até mesmo porque, e sem querer desmerecê-los, a humanidade daquela época não estava preparada para receber vinho de melhor qualidade, se assim podemos nos expressar.
O que podemos confirmar com o que, por várias vezes, foi dito por Jesus: “aprendeste o que foi dito, eu porém vos digo”, deixando-nos bem claro que os ensinamentos anteriores não eram, daquele momento em diante, suficientes para “encher” o coração dos homens da verdade do Pai. Fatos que nos levam à conclusão de que Jesus veio trazer coisas novas. Os fariseus ficavam inconformados por Jesus não seguir as prescrições da Lei Mosaica, ao que obtiveram como resposta: “Não se coloca remendo de pano novo em pano velho, nem vinho novo em odres velhos” (Mt 9,16-27).
Podemos ainda trazer como apoio a isso: “Em comparação com esta imensa glória, o esplendor do ministério da antiga aliança já não é mais nada” (2Cor 3,10), e “Dessa maneira é que se dá a ab-rogação do regulamento anterior em virtude de sua fraqueza e inutilidade – a Lei, na verdade, nada levou à perfeição – e foi introduzida uma esperança melhor pela qual nos aproximamos de Deus” (Hb 7,18-19).
Assim, não temos dúvida alguma quanto à superioridade dos ensinamentos de Jesus, principalmente se entendermos o sentido dessa passagem como o que estamos propondo.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Referência bibliográfica
Bíblia Sagrada, São Paulo, Ave Maria, 1968.
Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos aos seus pés, disse:
Senhor tem piedade de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois cai muitas vezes no fogo e, muitas vezes, na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui este menino.
E, tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são.
Os discípulos, então, vieram ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daí para ali e ela se transportaria e nada vos seria impossível. (Mateus,17:14-20.)
Muito significativa essa passagem de Jesus.
A parábola da figueira que secou é outra demonstração deixada por Jesus para refletirmos seriamente sobre a fé, encontrada em Lucas (13:6-9). Nela, passamos a ver o homem na figueira que foi plantada, mas que não frutificou. Assim é o religioso que se diz cristão, mas em verdade, não mostra seus “frutos”.
Todos os homens, deliberadamente inúteis por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
Pedro, ao não conseguir andar sobre as águas, mereceu de Jesus uma advertência quanto à sua falta de fé, em Lucas (8:25). Quantos de nós não nos amedrontaríamos como o fez Pedro, e também afundaríamos!?
Tomé, em João (20:24), não acreditou no reaparecimento de Jesus após a sua crucificação. Tornou-se, por isso mesmo, até hoje, um símbolo da falta de fé. Essa passagem é sempre lembrada por todos quantos desejam enfatizar a ausência da fé na criatura.
Jesus, em várias de suas lições, querendo destacar a significativa importância da fé, mostrou, com sua exemplificação, que será necessário ao homem acreditar nas próprias forças, o que o tornará capaz de executar certos feitos materiais. Quem duvida é um pessimista e se vê impossibilitado de crescimento moral. Se não acreditarmos que somos capazes de amar até os inimigos, de que adianta afirmar que acreditamos em Jesus? Estabeleceria, por acaso, Jesus um objetivo educativo para nós impossível de ser alcançado?
Como ficaria sua condição de Mestre dos mestres?
Tiago, em sua Carta (2:14), foi extraordinário quando se referiu à associação que deve existir entre a fé e as ações da criatura, ao afirmar que “[...] nenhum proveito existe, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras. Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.
Uma realidade fica patente: da fé vacilante resulta a incerteza, a dúvida; já a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, nas grandes como nas pequenas tarefas.
Quem acredita no tratamento a que está submetido – dizem os entendidos – está com meio caminho andado para curar-se. Todavia, quem não acredita...
Inquestionavelmente, são a fé e o amor os dois fundamentais instrumentos de trabalho do espírita.
“A fé é a garantia do que se espera a prova das realidades invisíveis”, testificou Paulo, em Carta aos Hebreus (11:1). E ele sabia, perfeitamente, do que falava, pois sem essa virtude, teria fracassado em sua missão de ser o maior divulgador do Cristianismo nascente.
A força e o poder da fé se transmitem à prece, enunciada com emoção e sinceridade. A prece é a manifestação mais pura do diálogo entre o homem e Deus.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma, facultando a paciência que sabe esperar.
A confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si.
Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender tais palavras. As montanhas que a fé, exaltada por Jesus, desloca, são as dificuldades, as resistências, a má vontade; em suma, tudo com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas.
Como se adquire a fé inabalável?
Através do conhecimento que se obtém com o estudo dos postulados da Doutrina Espírita, que não arregimenta, em suas fileiras, crentes devotos, mas homens de fé raciocinada.
Seja, portanto, inabalável a nossa fé, alicerçada nos postulados fundamentais do Espiritismo:
Deus, Espírito, imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade, pluralidade dos mundos habitados, lei de ação e reação, lei da evolução, prática da caridade, vivência do Evangelho de Jesus, e outros.
A “preceterapia” é hoje testada por estudiosos do assunto, renomados homens de ciência. Servindo-se de um número de pacientes portadores da mesma enfermidade, chegaram à conclusão de que em dois grupos, um com 192 enfermos e outro com 214, o número maior dos que apresentaram resultados positivos, após tratamento, foram justamente os que nele acreditavam, e, consequentemente na cura. O mais importante de tudo: igual tratamento foi dispensado a todos.
Relevante é “[...] não confundir a prece com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade [...].” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX – que serviu de base para este artigo –, item 4.) Aquele que a tem deposita mais confiança em Deus do que em si mesmo, porque sabe que nada lhe é possível sem a ação de Deus.
Com a fé pulsante em seu interior, o homem movimenta seu magnetismo atuando sobre o fluido, o agente universal, modificando-lhe as qualidades e lhe dando uma impulsão irresistível. É sempre a fé dirigida para o bem que podem operar os chamados, equivocadamente, “milagres”.
A fé pode ser raciocinada ou cega. A espírita é raciocinada. A fé cega, levada ao excesso, conduz ao fanatismo, ao “homem-bomba”.
A fé cega imposta é sinal de confissão de impotência para demonstrar que se está de posse da verdade. A fé não se prescreve nem se impõe.
A fé não procura ninguém, é ao homem que compete buscá-la, encontrá-la. Quem a procurar sinceramente não deixará de encontrá-la. Ensina Allan Kardec:
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.
A fé cega já não é deste século [...]. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7.) A criatura deve crer, porque tem certeza, apoiando-se nos fatos e na lógica. Somente tem certeza porque compreendeu.
“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”, é o que encontramos no livro acima citado.
Sob o título “A fé: mãe da esperança e da caridade”, o Espírito protetor José afirma:
Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma [...]. (Op. cit., item 11).
Preguemos pelo exemplo de nossa fé.
Não admitamos a fé sem comprovação: fé cega é filha da cegueira.
Amemos a Deus, mas sabendo por que o amamos; acreditemos em suas promessas, mas sabendo por que acreditamos; sigamos os seus conselhos, mas compenetrados do fim que nos é apontado e dos meios que nos são trazidos para atingi-lo.
Precisamos colocar a vontade a serviço dessa força que todos trazemos – a fé, que é ainda tão pouco utilizada.
A fé é humana e divina.
Se todos nos achássemos persuadidos da força que em nós trazemos, e se quiséssemos pôr a vontade a serviço dessa força, seríamos capazes de realizar o que hoje é considerado prodígios mas que, no entanto, não passa de um natural desenvolvimento das faculdades humanas.
A certeza na obtenção de algo é resultado da vontade de querer e a certeza de que esta vontade pode obter satisfação.
É a fé que conduz a Deus. Deve ser, portanto, ativa para ser proveitosa.
Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade. Assim, preconizar a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Pondera o Codificador:
[...] A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (Op. cit., cap. XIX, item 3.)
A fé, saibamos em definitivo, não se impõe nem se prescreve.
Ela é adquirida e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários.
Hoje ou amanhã, nesta ou noutra encarnação, todos a possuirão.
Reformador Fev.08
A Associação Cultural e Beneficente Mudança Interior promoverá no dia 6 de junho, em Vale de Cambra, mais um encontro espírita voltado ao público infantil.
Chamado de Convívio Nacional da Criança Espírita (Concesp), o evento chega à sua 14ª edição tendo o tema “A família” como foco central de seus estudos. O Concesp ocorrerá no Pavilhão Ilídio Pedro, em Lordelo, com participação aberta a todos os inscritos nas Casas Espíritas daquela região e de outras partes do país.
Outros detalhes, pelo telefone 256 403 021, ou pelos correios eletrônicos:
concesp 2010@gmail.com
geral@acbmi.org.
. COISAS TERRÍVEIS E INGÊNU...
. CAIM FUNDOU UMA CIDADE SE...
. CONFLITOS E PERFEIÇOAMENT...
. GRATIDÃO: UM NOVO OLHAR S...
. A FÉ: MÃE DA ESPERANÇA E ...
. NO CRISTIANISMO RENASCENT...