Sábado, 31 de Julho de 2010
Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos aos seus pés, disse:
Senhor tem piedade de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois cai muitas vezes no fogo e, muitas vezes, na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui este menino.
E, tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são.
Os discípulos, então, vieram ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daí para ali e ela se transportaria e nada vos seria impossível. (Mateus,17:14-20.)
Muito significativa essa passagem de Jesus.
A parábola da figueira que secou é outra demonstração deixada por Jesus para refletirmos seriamente sobre a fé, encontrada em Lucas (13:6-9). Nela, passamos a ver o homem na figueira que foi plantada, mas que não frutificou. Assim é o religioso que se diz cristão, mas em verdade, não mostra seus “frutos”.
Todos os homens, deliberadamente inúteis por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
Pedro, ao não conseguir andar sobre as águas, mereceu de Jesus uma advertência quanto à sua falta de fé, em Lucas (8:25). Quantos de nós não nos amedrontaríamos como o fez Pedro, e também afundaríamos!?
Tomé, em João (20:24), não acreditou no reaparecimento de Jesus após a sua crucificação. Tornou-se, por isso mesmo, até hoje, um símbolo da falta de fé. Essa passagem é sempre lembrada por todos quantos desejam enfatizar a ausência da fé na criatura.
Jesus, em várias de suas lições, querendo destacar a significativa importância da fé, mostrou, com sua exemplificação, que será necessário ao homem acreditar nas próprias forças, o que o tornará capaz de executar certos feitos materiais. Quem duvida é um pessimista e se vê impossibilitado de crescimento moral. Se não acreditarmos que somos capazes de amar até os inimigos, de que adianta afirmar que acreditamos em Jesus? Estabeleceria, por acaso, Jesus um objetivo educativo para nós impossível de ser alcançado?
Como ficaria sua condição de Mestre dos mestres?
Tiago, em sua Carta (2:14), foi extraordinário quando se referiu à associação que deve existir entre a fé e as ações da criatura, ao afirmar que “[...] nenhum proveito existe, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras. Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.
Uma realidade fica patente: da fé vacilante resulta a incerteza, a dúvida; já a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, nas grandes como nas pequenas tarefas.
Quem acredita no tratamento a que está submetido – dizem os entendidos – está com meio caminho andado para curar-se. Todavia, quem não acredita...
Inquestionavelmente, são a fé e o amor os dois fundamentais instrumentos de trabalho do espírita.
“A fé é a garantia do que se espera a prova das realidades invisíveis”, testificou Paulo, em Carta aos Hebreus (11:1). E ele sabia, perfeitamente, do que falava, pois sem essa virtude, teria fracassado em sua missão de ser o maior divulgador do Cristianismo nascente.
A força e o poder da fé se transmitem à prece, enunciada com emoção e sinceridade. A prece é a manifestação mais pura do diálogo entre o homem e Deus.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma, facultando a paciência que sabe esperar.
A confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si.
Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender tais palavras. As montanhas que a fé, exaltada por Jesus, desloca, são as dificuldades, as resistências, a má vontade; em suma, tudo com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas.
Como se adquire a fé inabalável?
Através do conhecimento que se obtém com o estudo dos postulados da Doutrina Espírita, que não arregimenta, em suas fileiras, crentes devotos, mas homens de fé raciocinada.
Seja, portanto, inabalável a nossa fé, alicerçada nos postulados fundamentais do Espiritismo:
Deus, Espírito, imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade, pluralidade dos mundos habitados, lei de ação e reação, lei da evolução, prática da caridade, vivência do Evangelho de Jesus, e outros.
A “preceterapia” é hoje testada por estudiosos do assunto, renomados homens de ciência. Servindo-se de um número de pacientes portadores da mesma enfermidade, chegaram à conclusão de que em dois grupos, um com 192 enfermos e outro com 214, o número maior dos que apresentaram resultados positivos, após tratamento, foram justamente os que nele acreditavam, e, consequentemente na cura. O mais importante de tudo: igual tratamento foi dispensado a todos.
Relevante é “[...] não confundir a prece com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade [...].” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX – que serviu de base para este artigo –, item 4.) Aquele que a tem deposita mais confiança em Deus do que em si mesmo, porque sabe que nada lhe é possível sem a ação de Deus.
Com a fé pulsante em seu interior, o homem movimenta seu magnetismo atuando sobre o fluido, o agente universal, modificando-lhe as qualidades e lhe dando uma impulsão irresistível. É sempre a fé dirigida para o bem que podem operar os chamados, equivocadamente, “milagres”.
A fé pode ser raciocinada ou cega. A espírita é raciocinada. A fé cega, levada ao excesso, conduz ao fanatismo, ao “homem-bomba”.
A fé cega imposta é sinal de confissão de impotência para demonstrar que se está de posse da verdade. A fé não se prescreve nem se impõe.
A fé não procura ninguém, é ao homem que compete buscá-la, encontrá-la. Quem a procurar sinceramente não deixará de encontrá-la. Ensina Allan Kardec:
A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.
A fé cega já não é deste século [...]. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7.) A criatura deve crer, porque tem certeza, apoiando-se nos fatos e na lógica. Somente tem certeza porque compreendeu.
“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”, é o que encontramos no livro acima citado.
Sob o título “A fé: mãe da esperança e da caridade”, o Espírito protetor José afirma:
Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma [...]. (Op. cit., item 11).
Preguemos pelo exemplo de nossa fé.
Não admitamos a fé sem comprovação: fé cega é filha da cegueira.
Amemos a Deus, mas sabendo por que o amamos; acreditemos em suas promessas, mas sabendo por que acreditamos; sigamos os seus conselhos, mas compenetrados do fim que nos é apontado e dos meios que nos são trazidos para atingi-lo.
Precisamos colocar a vontade a serviço dessa força que todos trazemos – a fé, que é ainda tão pouco utilizada.
A fé é humana e divina.
Se todos nos achássemos persuadidos da força que em nós trazemos, e se quiséssemos pôr a vontade a serviço dessa força, seríamos capazes de realizar o que hoje é considerado prodígios mas que, no entanto, não passa de um natural desenvolvimento das faculdades humanas.
A certeza na obtenção de algo é resultado da vontade de querer e a certeza de que esta vontade pode obter satisfação.
É a fé que conduz a Deus. Deve ser, portanto, ativa para ser proveitosa.
Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade. Assim, preconizar a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Pondera o Codificador:
[...] A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. (Op. cit., cap. XIX, item 3.)
A fé, saibamos em definitivo, não se impõe nem se prescreve.
Ela é adquirida e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários.
Hoje ou amanhã, nesta ou noutra encarnação, todos a possuirão.
Adésio Alves Machado
Reformador Fev.08
Quinta-feira, 29 de Julho de 2010
Os animais e a metempsicose
A providência divina
As religiões parasitárias têm negado com a maior desfaçatez a alma aos animais. Fascinados pela vida material e seu bem-estar, que visam a usufruir; cerceados pelo dogma execrando que condena o raciocínio, oblitera a consciência e impõe a fé passiva, os sacerdotes, presos às suas doutrinas restritas, trabalham para manter a ignorância do povo, negando-lhe o direito de pesquisa e livre-exame, condição indispensável para a conquista dos conhecimentos que acionam a Evolução Espiritual.
Dai o desprezo pelos animais, os maus tratos aos mesmos inflingidos, em completo desacordo com as leis do amor e da caridade, atrás das quais se escondem os ministros e confessores para tirarem delas os proventos materiais. E se é verdade que a caridade tem conseguido fazer alguma coisa pelos pobres animais, muito mais tem concorrido as metempsicose dos antigos que ensinava a volta ao corpo de um animal da alma do homem mau, para pagar o capital e juros das dividas contraídas pelos seus desvarios.
Só o terror de sofrimentos presentes e futuros consegue sofrear as índoles más, o que até faz suspeitar da natureza humana de homens em quem existe a centelha da Luz Imperecível.
Mas não era só a metempsicose; as lendas antigas, que passavam de boca em boca e dizendo do sofrimento que esperava aos que maltratavam os animais, essas estórias cheias de alegorias, em que se destacavam as "almas forçadas a impetrar a intervenção das almas dos animais", também muito concorreram para que fossem diminuídos, em certo tempo, os suplícios por que têm passado os nossos irmãos inferiores.
Entretanto, a providência não tem descurado do bem-estar dos animais, que, se de um lado têm de passar pela escola do trabalho e pelo cadinho do sofrimento, como o gênero humano, para desenvolverem as suas aptidões, de outro lado têm os mesmos direitos que temos do descanso e do bom trato.
Desde os peixes que vivem no mar e os pássaros que trinam melodiosos cantos nos arvoredos, até o leão das selvas e o gorila que habitam os bravios sertões da África, a Previdência proporciona meios de vida, para todos faz levantar o seu Sol, para todos faz descer as suas chuvas; aos peixes dá os rochedos como aconchego; às aves dá os ramos das árvores, o feno dos campos para seus ninhos; aos demais; as frondosas matas e as cavernas para habitação!
"Olhai as aves do céu, diz o Mestre ensinando a Fé e o Amor aos seus discípulos, não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros e o vosso PAI Celestial as alimenta".
O saber é a melhor fortuna que o homem poda conquistar. É pela aquisição de conhecimentos que a alma se desenvolve e se prepara para os surtos da Vida Imortal.
Diz o prolóquio que "o saber não ocupa lugar". Esta proposição é toda falsa.
Um Espírito sem sabedoria é semelhante a uma casa sem móveis e desabitada; a ninguém oferece comodidade, e em breve vê a sua própria ruína. Ao passo que uma casa bem mobiliada, com todos os requisitos de boa vivenda, bem iluminada, onde não faltam objetos de repouso para o corpo e repouso para o Espírito, se constitui num paraíso por todos desejado.
Assim é a nossa alma: deserta de sabedoria e de virtudes, embora pareça grande é como um desses antigos castelos isolados e temidos, teatro fantasmagórico onde se acendem os "fogos fátuos" da superstição e do fanatismo a denunciar a noite da ignorância que o entenebrece.
Na alma do ignorante, macilenta, abatida, magra, perpassam sombras cruéis, espectros vingadores, visões terríficas!
"O saber ocupa muito lugar", mas quanto mais sabemos, mais lugar temos para oferecer ao saber, porque a nossa individualidade cresce à medida que crescem em nós os conhecimentos; nossa inteligência se dilata, nosso raciocínio se amplia, nosso sentimento aumenta na razão do nosso aperfeiçoamento, tornando-se as nossas percepções mais nítidas, mais puras, mais espiritualizadas! Por isso o saber precisa entrar no nosso Espírito gradativamente, iluminando nossos passos na Vida Espiritual, como o Sol que nos acompanha gradualmente desde o nosso nascimento e sob cujos influxos exprimimos os primeiros sorrisos.
A alma não começa no berço, nem termina no Túmulo. O vento sopra onde quer, e não sabemos donde ele vem". Nasce a criança impulsionada pelo principio anímico, e também compreendemos que, como o vento, ela vem de longe. E um Espírito que se envolveu na carne, que renasceu na carne, e que vem de remotas eras, formando sua consciência, engrandecendo a sua individualidade, para, um dia, galgar os cimos da vida superior!
Excelsa e admirável Doutrina que não nos compara à matéria bruta!
Cairbar Schutel
Livro: A Gênese da alma
Quarta-feira, 28 de Julho de 2010
Mais lamentável que a alienação mental, que atinge Espíritos encarnados e desencarnados, é alienação existencial que lhe dá origem.
É o viver sem noção dos porquês da existência.
De onde viemos, o que estamos fazendo na Terra, para onde vamos?
Fiz certa feita uma pesquisa junto a colegas de trabalho, com destaque para a seguinte pergunta: QUAL O OBJETIVO DA VIDA?
Pasmem amigos! A maioria, mesmo dentre os que se diziam religiosos, não souberam responder!
Agora, pergunto-lhe: Como pode alguém viver de forma disciplinada, corajosa, espiritualizada, se não sabe o que veio fazer na Terra?
Por isso as pessoas desajustam-se diante das vicissitudes, ficam doentes, atribuladas, infelizes, nervosas, desembocando, não raros, nos transtornos mentais que podem culminar na alienação.
Princípios religiosos tradicionais nos dizem que nossa alma foi criada por Deus no momento da concepção e que a felicidade futura vai depender de cumprirmos o que Deus espera de nós. Num espaço de alguns meses para alguns ou decênios para outros, decidiremos o nosso futuro para sempre.
É complicado, porque não somos todos iguais.
Não temos o mesmo caráter.
Não temos as mesmas disposições.
Não temos a mesma inteligência.
Não temos as mesmas virtudes.
Não temos a mesma compreensão.
Há gente boa e gente ruim.
Há gente inteligente e gente obtusa.
Há gente religiosa e gente materialista.
Há gente virtuosa e gente viciosa.
Há gente altruísta e gente egoísta.
Há gente perfeita e outras não.
Será que Deus nos fez assim, com tão gritantes diferenças, como se tivesse criado uns para salvação e outros para perdição?
Tais dúvidas induzem ao amornamento da crença e, não raro, à descrença.
Por isso, habituam-se as pessoas a viver sem questionamentos, preferindo o imediatismo terrestre às cogitações celestes.
O Espiritismo nos ajuda a superar a alienação existencial, a partir da fé racional, como propõe Kardec, compromissada com a lógica e o bom senso.
Somos Espíritos imortais.
Já vivemos múltiplas existências no passado e continuaremos a viver no futuro, desdobrando experiências de aprendizado e aprimoramento.
Cada um de nós tem uma idade espiritual, e nossa personalidade, com nossas facilidades e limitações, com nossas tendências boas ou más, é o somatório de nossas experiências do passado, do que fizemos.
As vicissitudes da Terra, os problemas e dissabores que enfrentamos guardam relação também com o nosso passado.
Tanto melhor os enfrentaremos quanto maior a nossa confiança em Deus e disposição de lutarmos contra nossas imperfeições, buscando fazer o melhor.
Perfeito! Encarar os desafios do caminho, na jornada da vida, com as lentes do Espiritismo, é a melhor maneira de não tropeçarmos na alienação.
Pode parecer um exagero o receber mesmo com alegria, os reveses e as decepções...
Difícil rir na dor ou festejar na frustração.
Mas não seria essa postura lógica de alguém que resgata uma divida? Se chorar diante do credor, não haverá de ser pela euforia de liquidar o debito?
E se difícil nos parece chegar a tanto, diante da adversidade, que pelo menos preservemos a sanidade física e espiritual, cultivando bom ânimo.
Realmente, a lei da reencarnação é a única que responde às perguntas: de onde vim, para onde vou, porque estou na Terra. É a única que justifica todas as anomalias e todas as injustiças aparentes da vida.
Sem a reencarnação, Deus perde a característica da perfeita justiça, deixando de ser Deus.
Só a reencarnação explica as desigualdades morais, sociais, econômicas existentes em nosso mundo.
Somente a reencarnação dá aos homens condições e estímulos para continuar trabalhando no desenvolvimento do bem em si e na Terra, na certeza de que a humanidade de hoje, constituída de espíritos milenares, rebeldes, tornar-se-á um dia uma humanidade melhor, mais justa, e que vale a pena esse esforço no sentir, pensar e fazer o bem.
Sábado, 24 de Julho de 2010
O Diabo do sacerdócio romano está para o Espiritismo, assim como o Diabo do sacerdócio hebreu estava para o Cristianismo; é o mesmo espírito de intolerância e aversão a todas as verdades que vêm libertar os homens do sofrimento e da ignorância.
Nada há mais prejudicial, dizia o saudoso mestre Doutor Bezerra de Menezes, do que o espírito de sistema.
O sectarismo ferrenho e retrógrado vê perigos em toda parte, e, não contente com os sofrimentos da Humanidade, inventa males, imagina suplícios que só podem ser concebidos por inteligências maléficas, destruidoras de todos os sentimentos nobres.
O Diabo e o Inferno são os cavalos de batalha do Catolicismo Romano, que já começa a ver os seus dogmas se esboroarem a mais leve aragem da Verdade, e, com eles, tombar por terra todo esse castelo de convenções de que os homens já se estão afastando. Remontemos à origem dessas palavras que tanto lucro têm dado aos sacerdotes de Roma e tanto pavores têm infundido nas almas ingênuas!
Diabo vem da palavra latina diabolus e originou-se do grego, em que significa: acusador, caluniador.
Demônio vem do grego, e, antes do Catolicismo lhe dar a significação de anjo mau, anjo decaído, já a palavra significava gênio.
Lúcifer, que é o mesmo que ferens lucem, significa a estrela Vênus, quando aparece de manhã, e Lusbel, ou Luzbel, é corruptela da palavra Lúcifer.
Satanás, ou Satã, é uma palavra hebraica, que passou para o grego e significa: adversário, inimigo.
Belzebu, ou belzebul, na língua santa quer dizer ídolo da mosca: assim se chamava o ídolo que os Acaronitas adoravam e que invocavam contra a praga das moscas. Os hebreus, que tinham por sacerdotes os escribas e fariseus, viram-se obrigados a crer no diabo dos Acaronitas, inventado pelos seus curas de almas, assim como os católicos crêem no diabo do Hebraísmo, herdado, pelos sacerdotes do Vaticano, dos seus antecessores hebreus.
Note-se que Belzebu não é uma invenção do Cristo, mas, sim, dos padres que crucificaram o Cristo! Lê-se em Lucas, XI, 15 (palavras do Apóstolo): "Porém alguns deles diziam - ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios: E no versículo 18, Jesus diz: “Pois dizeis que expulso os demônios por Belzebu:”
Os fariseus e os escribas faziam causa comum e os sacerdotes dedicavam-se, como o atual sacerdócio romano, a estudar as Escrituras, constituindo as suas deliberações artigos de fé.
Como os ministros do Vaticano, os escribas e fariseus eram observadores servis das práticas exteriores, do culto e das cerimônias: cheios de um zelo ardente de proselitismo - e inimigos acérrimos dos inovadores, afetavam grande devoção, mas ocultavam hábitos dissolutos, muito orgulho e, ainda mais, amor de dominação. A religião para eles era um meio de chegarem aos seus fins; de virtudes só tinham aparências; eram, como dizia Jesus, "lobos cobertos com pele de cordeiros".
É preciso não esquecer que o Divino Mestre dedicou muito tempo da sua missão na Terra em desmascarar a hipocrisia desses falsos apóstolos, ministros fraudulentos, na frase do iluminado de Damasco; e quem tiver a paciência de percorrer as páginas dos Evangelhos verá o terrível libelo de condenação contra aqueles impostores que ligavam pesados fardos aos ombros dos homens; eles porém, nem com um dedo queriam movê-los.
"Eles fazem todas as obras - dizia o Cristo - para serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios e estendem as franjas dos seus vestidos; amam os primeiros lugares nas ceias, as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados Rabi, Rabi (padre mestre)". (Mateus, XXIII)
Eram esses os verdadeiros diabos, os Satanases ou adversários, inimigos da Verdade: só das forjas das suas consciências podia ter saído à personificação do mal, assalariado pelos vícios e pelas paixões que tornavam tenebrosos os seus espíritos!
A questão 202 de O Livro dos Espíritos afirma: “Quando errante o que prefere o espírito: encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher? Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar”.
Essa colocação da codificação demonstra a existência da bissexualidade psicológica do espírito, o que não identifica uma concordância com a vivência bissexual do ser enquanto encarnado no campo da genitalidade.
Posteriormente, essa postura doutrinária encontraria confirmação nos estudos da psicanálise.
Na Revista Espírita, Allan Kardec assim se expressa quanto às experiências sexuais do espírito em suas diversas encarnações: “É com o mesmo objetivo que os espíritos encarnam Homossexualidade nos diferentes sexos. Aquele que foi homem poderá renascer mulher e aquele que foi mulher poderá renascer homem, a fim de realizar os deveres de cada uma dessas posições e sofrer as provas. (...) Pode acontecer que o espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, fazendo com que, durante muito tempo, possa conservar no estado de espírito o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa”.
Por meio da mediunidade de Chico Xavier, André Luiz assim esclarece: “Na essência, o sexo é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser. É natural que o espírito acentuadamente feminino se demore séculos e séculos nas linhas evolutivas da mulher e que o espírito marcadamente masculino se detenha por longo tempo nas experiências do homem”.
É essa condição de que o sexo seja mental, como bem esclarece a codificação e as obras secundárias, que pode explicar a questão da homossexualidade. Se o sexo não fosse mental, não haveria razão para a existência de tal condição, já que a morfologia do corpo não se superpõe aos poderes da mente, mas se sujeita às suas ordens. E essa estrutura psicológica na qual se erguem os destinos foi manipulada com os ingredientes do sexo através de milhares de reencarnações, conforme afirma Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier.
As causas morais
No campo das causas morais, encontramos aquelas criaturas que abusaram das faculdades genésicas tanto da posição masculina como da feminina, arruinando a vida de outros indivíduos, destruindo uniões e lares diversos. Elas são induzidas a procurar uma nova posição ao reencarnarem, em corpos físicos opostos às suas estruturas psicológicas, a fim de que possam aprender, em regime de prisão, a reajustarem seus próprios sentimentos.
Encontramos também aqueles que persistem nessas práticas por uma busca hedonista, sem maior compromisso com a vida, que reencarnam assim na tentativa de retratarem suas posições em nova chance de resgate. São espíritos rebeldes, pertinazes em seus erros, que encontram na questão da inversão sexual uma oportunidade para o refazimento de suas vidas, na qual a lei divina lhes coloca diante de situações semelhantes ao passado de faltas, cobrando-lhes posturas mais éticas perante si e o outro.
Causas educacionais
As causas educacionais podem ser agrupadas em atávicas e atuais. A atávica é resultado de vivências repetitivas dos espíritos em culturas e comunidades onde a prática homossexual seria aceita e até estimulada, como na Grécia antiga e em certas tribos indígenas, ou nas sociedades culturais e religiosas que segregavam ou segregam seus membros, facilitando esse comportamento nas criaturas. Assim, ao reencarnarem em um local onde o homossexualismo não fosse mais aceito como prática livre esbarrariam em sua condição viciosa.
Já dentro das atuais, temos aquelas causas advindas dos defeitos de educação nos lares, onde o comprometimento dos afetos já estaria presente anteriormente, em que as paixões deterioradas do passado tendem a levar pais e parentes ascendentes a estimularem posturas psicológicas e sexuais inversas ao seu estado físico em seus descendentes, sem que necessariamente ocorressem comportamentos ostensivamente incestuosos. Encontramos também os casos de pais contrariados em seus desejos quanto ao sexo do rebento, levando-o a uma condição inversa ao de seu sexo físico ou aqueles dos quais a entidade reencarnante, ao perceber esse desejo inconsciente dos pais, busca se adaptar patologicamente a essa situação durante o processo da gestação.
Outra causa está na presença de segmentos atuais da sociedade e da cultura estimulando esse tipo de conduta, quando uma linguagem mais política e sem qualquer comprometimento ético, através dos vários meios de comunicação de massa, estimula e condiciona as criaturas a acreditarem que essas vivências seriam uma postura natural, dependendo unicamente da escolha realizada pelo indivíduo. Esse posicionamento vai de encontro a uma visão social mais ampla, que continua atribuindo ao homossexualismo uma condição de marginalidade, mantendo um processo de segregação social e associando a ele outras posturas marginalizadas, como o abuso das drogas e a prostituição, agravando ainda mais a situação daqueles que optaram por esse caminho sexual.
Causas obsessivas
Entre esse tipo de causa, podemos citar os casos em que parceiros do passado delituoso, em processos homossexuais ou vivências heterossexuais pervertidas, reencontram-se em condição de ódio ou paixão doentia, estimulando uma postura homossexual no encarnado com o objetivo de atender o desencarnado em seus anseios viciosos ou de levar sua vítima para uma situação constrangedora e de intenso sofrimento.
Esses desencarnados poderiam estar em uma condição mental de homossexualidade ou não, induzindo o encarnado em um projeto de total desestruturação íntima e social.
O processo obsessivo não precisa necessariamente ter sua origem em uma encarnação anterior. Ocorre que, nos casos de uma obsessão atual, os parceiros da vivência patológica participam de opções de vida viciosas, onde geralmente o encarnado invigilante busca posições mentais sexualmente pervertidas ou locais nos quais esses comportamentos são socialmente aceitos, condicionando-se a essas práticas.
Outra situação possível, oriunda de um processo obsessivo, seria aquela na qual um espírito obsediando um encarnado em posição sexual inversa à sua enfermado por uma interação intensa e duradoura, passa a sentir prazer sexual semelhante à sua vítima, pervertendo-se nesse campo e se condicionando a uma vivência homossexual em uma próxima encarnação.
Nesses casos, a situação obsessiva teria existido em uma encarnação anterior e a homossexualidade seria a desdita daquele que teria sido o algoz naquela vivência.
Seria o famoso caso em que “o tiro saiu pela culatra”.
Terça-feira, 6 de Julho de 2010
Às vezes, você acorda e imediatamente os problemas lhe tomam a mente,impedindo seus olhos de contemplar as belezas que estão ao seu redor.
São tantos desgostos que em seu mundo não há espaço para alegrias...
É como se a vida se resumisse em obstáculos e mais obstáculos, desafiando sua capacidade de superação.
Que importa se o sol está brilhando, se a sua alma está envolta em sombras?
Como admirar a beleza, se seus olhos estão nublados pelas lágrimas contidas no peito, denunciando preocupações com a própria existência?
Em seu mundo não há espaço para alegrias...
Aliás, em seu mundo não há alegrias...
Mas, será que suas impressões retratam mesmo a realidade?
Ou será que ao seu redor há uma outra realidade esperando um pouco da sua atenção?
Se você parar, alguns instantes, talvez possa ouvir a resposta. Mais do que isso: você sentirá a resposta...
Um breve olhar mais detido e perceberá que ao seu lado existem pessoas. E que essas pessoas têm um coração que pulsa como o seu.
Pare um pouco e ouça o que elas estão a lhe dizer, mesmo que seus lábios estejam mudos.
Observe quantos sorrisos se abrem a sua volta. Note que perto, bem perto mesmo, tem uma criança a brincar.
Você deve estar pensando: "como encontrar tempo para essas coisas quando é preciso lutar pela própria sobrevivência num mundo de competições?"
No entanto, enquanto você mergulha em seus problemas, as flores se abrem,silenciosas...
E não é só a beleza que elas lhe oferecem. Trazem também seu perfume...
Acaso ainda não percebeu o pequeno pardal, com seu canto, meio sem graça, a buscar alimento por entre automóveis e pedestres?
E o zumbir da abelha, buscando o néctar onde as flores escasseiam?
Talvez você não tenha notado, mas as dificuldades e a concorrência não são motivos de desânimo para a natureza, que luta com bravura, apesar das dificuldades.
Vale a pena olhar a pequena planta que brota na fenda estreita da calçada,em busca de um lugar ao sol, em meio aos pés apressados que passam sem notá-la.
Vale a pena observar os pássaros cantarolando, alegres, construindo ninhos para agasalhar as novas gerações que Deus lhes confia.
Vale a pena notar o sol, que espia por entre as nuvens só para dizer que está lá, apesar dos obstáculos.
É importante perceber que, apesar da escuridão da noite, o orvalho não deixa de beijar a flor...
Apesar da chuva torrencial, as formigas não desanimam, e reconstroem o ninho tantas vezes quantas eles sejam destruídos.
Assim, se a situação está difícil, tentando desanimar você com fatos
deprimentes, faça como o Sol.
Espie por entre os obstáculos e perceberá muitas pequenas alegrias esperando para lhe dizer: "olá! Eu estou aqui para lhe fazer feliz."
Desenvolva a sua capacidade de perceber as coisas boas, positivas e
otimistas. Elas são em maior número do que os motivos de desânimo.
Pense nisso!
Se for verdade que as circunstâncias têm mil maneiras de lhe fazer chorar, também é verdade que não têm o poder de lhe tirar a alegria nem a vontade de viver.
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.
Segunda-feira, 5 de Julho de 2010
O espiritismo está incomodando os líderes religiosos de diferentes correntes, os quais estão dando-se as mãos para formarem uma frente única para atacarem-no, pois ele é a restauração do Cristianismo Primitivo e está avançando principalmente entre os intelectuais, já que é a religião mais sintonizada com a Bíblia, a razão e a ciência.
O fenômeno da reencarnação é o alvo principal dos ataques. Mas a reencarnação já é aceita, hoje, por 2/3 da população do Planeta.
Acontece com ela o que aconteceu com a verdade do Heliocentrismo (giro da Terra em torno do Sol). Não adiantou a Igreja Católica e as protestantes terem dado as suas broncas, pois acabou sendo derrotado o seu Geocentrismo (o giro do Sol ao redor da Terra).
E a reencarnação, só condenada pela Igreja em 553, não é anticristã, já que a ressurreição bíblica é do espírito, inclusive a do próprio Jesus (1a Carta de 1 Pedro 3,18 e 1 Coríntios 15,44), e não da carne. E, justamente por essa ressurreição da carne ser contra a Bíblia, é que ela foi transformada em dogma inserido no Credo recitado nas missas.
Relembremo-nos de que as próprias palavras gregas "palingenesia", "anastásis" e "egérom" significam ressurreição e reencarnação. Alguns líderes religiosos afirmam que o espiritismo é feitiçaria, que os médiuns são loucos e que os espíritos dos mortos são demônios. Neste particular até que eles estão certos, pois os espíritos dos mortos são mesmo demônios (almas boas ou más).
Porém ainda há aqueles que alegam que os fenômenos espíritas são fraudes.
São os "quevedos" da vida, que fazem mágicas e truques, dando a entender que os fenômenos espíritas são essas coisas! Mas, se os espíritas são voluntários, por que eles fariam trapaças?
E temos agora uma piada, qual seja, que os espíritas, por não acreditarem em todos os dogmas, não são cristãos. No entanto, o Nazareno disse: "Conhecereis meus discípulos por muito se amarem uns aos outros." Se estivessem certos esses líderes religiosos, os apóstolos não seriam também cristãos, pois nem sequer eles conheciam os dogmas polêmicos ainda não criados pelos teólogos! Não nos surpreendamos pelo fato de os espíritas terem sido e estarem sendo sempre atacados e caluniados, pois os mais cristãos sempre incomodam os menos cristãos!
José Reis Chaves
www.apologiaespirita.org
No principio do século V, o debate sofre o sofrimento humano centrou-se nos bebês recém-nascidos, que obviamente não haviam cometido ainda qualquer pecado. Se não havia pecado, por que alguns nasciam com deficiências, ou poucos inteligentes, enquanto outros eram normais? A Igreja rejeitara a resposta de Orígenes a esta pergunta: os seus destinos eram resultados direto de suas ações no passado. Por isso tiveram que providenciar outra resposta para a mesma questão: por que os bebês inocentes( e as pessoas boas em geral) sofrem e morrem?
Os primeiros teólogos contemplavam a ideia de que o estado lamentável da condição humana relacionava-se, de alguma forma, com a Queda de Adão e Eva no Paraíso. Mas foi Santo Agostinho (354-430) que apanhou do chão esta maçã empoeirada, limpou-a em seu manto de bispo e transformou-a naquilo que ainda hoje é fundamento da teologia cristã – o pecado original.
Coisas más acontecem às pessoas boas porque todas as pessoas são más por natureza, dizia Agostinho, e à única oportunidade para se recuperarem desta maldade natural era alcançar a graça de Deus através da Igreja. Como escreveu: “Ninguém será bom, se antes não tiver sido mau”.
Embora a Igreja tenha, desde então, rejeitado alguns dos argumentos de Agostinho, o catecismo católico ainda nos diz: “Não podemos interferir com a revelação do pecado original sem minarmos o mistério do Cristo”. O pecado original está intimamente vinculado ao Cristo, afirma a Igreja, pois é o Cristo que nos liberta do pecado original.
Agostinho acreditava que Adão e Eva viviam num estado de imortalidade física. Não teriam morrido nem envelhecido se não tivessem provado do fruto proibido e, assim, perdido o privilégio da graça divina. Depois da sua queda, as pessoas passaram a sofre, envelhecer e morrer.
De acordo com Agostinho, a vinda do Cristo deu-nos a oportunidade de restabelecermos o estado de graça. Ele atuaria como um mediador entre o Pai e uma criação desobediente. Embora a intercessão do Cristo não salvasse da morte física, permitira o seu retorno ao estado de imortalidade física através da ressurreição do corpo. A graça não impediria que coisas más acontecessem às pessoas na Terra, mas garantiria a sua imortalidade após a morte.
A principal implicação do pecado original é que, como descendente de Adão, temos também a sua natureza imperfeita. “O homem... não tem poder de ser bom”, escreve Agostinho. Ele acreditava que somos tão capazes de fazer o bem como um macaco de falar. Só podemos fazer o bem através da graça. (as ideias de Agostinho, levadas ao extremo, provavelmente induziram as pessoas a pecar. “Não posso fazer nada” seria uma boa desculpa).
A abordagem de Agostinho sobre o sexo deixou profundas marcas na nossa civilização. Mais do que qualquer outro, foi responsável pela ideia de que o sexo é inerentemente mau. A seu ver, o sexo, era indicação mais visível do estado caído do homem, ele via o desejo sexual como a “prova” e o “castigo” pelo pecado original.
MOSTRE-ME NA BIBLIA
Muitas pessoas reagem à ideia do pecado original com descrença. Ele não existe em parte alguma da bíblia, dizem.
Agostinho encontrou apoio para sua doutrina nas Escrituras, em Romanos 5:12. Na nova tradução Revista, o versículo diz: “O pecado veio ao mundo através do homem, e a morte veio através do pecado, e a morte espalhou-se por todos porque todos havia pecado”.
A versão que Agostinho possuía deste versículo havia sido mal traduzido. Ele não lia grego, a língua original do Novo Testamento, por isso usou a tradução em latim, agora conhecida como Vulgata. Nela lemos na segunda parte deste versículo: “E assim, a morte espalhou-se por todos os homens, através de um homem, através do qual todos os homens pecaram”. Agostinho conclui que “através do qual” referia-se a Adão e que, de alguma forma, todas as pessoas havia pecado quando Adão pecou.
Fez de Adão uma personalidade que incorporava a natureza de todos os homens futuros, transmitida através de seu sêmen. Agostinho escreveu: “Todos nós estávamos naquele homem”. Embora não tivéssemos ainda uma forma física, “a natureza seminal pela qual seriamos propagado já se encontrava ali”.
Por isso todos os descendentes de Adão seriam corruptos e condenáveis, porque estavam presentes dentro dele(como sêmen) quando pecou. Agostinho descreveu o pecado como algo que fora “contraído” e que se espalhara pela raça humana como uma doença venérea. Jesus ficou isento do pecado original porque, de acordo com os ortodoxos, foi concebido sem sêmen.
Agostinho concluiu que, como resultado do pecado de Adão, toda a raça humana era um “comboio do mal” dirigindo-se para “destruição pela segunda morte”. Com exceção, é claro, daqueles que conseguem alcançar a graça divina através da igreja.
A CONTROVÉRSIA DO BEBÊ
A doutrina de Agostinho sobre o pecado original gerou uma discussão sobre o batismo infantil. A pergunta central era: O QUE ACONTECE AOS BEBÊS QUE MORRESSEM SEM TEREM SIDO BATIZADOS? VÃO PARA O CÉU OU PARA O INFERNO?
Parecia difícil acreditar que Deus os mandaria para o inferno, uma vez que não tinham cometido qualquer pecado. Mas, se fossem mandados para o céu, porque então precisariam ser batizados? Na verdade, por que alguém precisa ser batizado? Esta controvérsia ameaçava grandemente a autoridade da igreja.
Na época de Agostinho, muitas pessoas adiavam o batismo até a idade adulta, pela mesma razão que Constantino adiara o seu batismo, cerca de um século antes. Não queriam perder a oportunidade de se libertar de todos os pecados. Alem disso, não apreciavam a ideia de fazer penitência pública, exigida pela igreja para pecados cometidos depois do batismo.
Agostinho foi capaz de convencer a cristandade de que todas as crianças precisavam ser batizadas, porque haviam sido maculadas pelo pecado origina. Como os bebês não haviam cometidos pecado algum, ele escreveu: “Só resta o pecado original” para explicar o seu sofrimento. A menos que os bebês sejam batizados, “correm perigo de danação” – de irem para o inferno – alertava ele.
Durante a vida de Agostinho esta doutrina transformou-se numa terrível ameaça para os pais, como vemos na seguinte história, relatada por ele 1 a sua congregação; uma mãe estava desesperada porque seu filho havia morrido sem ser batizado. Levou o corpo da criança para o santuário de Santo Estevão. A criança ressuscitou milagrosamente, foi batizada e morreu outra vez. A mãe aceitou esta segunda morte com muito mais resignação, pois agora estava certa de que seu filho seria poupado da dor eterna do inferno.
O medo da danação das crianças persiste até hoje. Pouco antes do dia 06 de Junho de 1996, milhares de mulheres colombianas encheram as igrejas de Bogotá exigindo que seus filhos fossem batizados. Temiam que, se as crianças não fossem protegidas pelo batismo, ficariam vulneráveis ao Anticristo, cuja vinda estava sendo anunciada para breve. Este rumor surgiu a partir de uma predição feita por uma seita fundamentalista cristã.
VENDENDO A MAÇÃ
Fazer com que a igreja engolisse a pílula amarga do pecado original não foi uma tarefa fácil. Mas Agostinho devotou 20 anos a este fim. Depois da sua conversão ao Cristianismo, deixou a Itália e retornou a África, tornando-se bispo no porto marítimo de Hippo Regius, no norte da África, hoje Algéria. Começou a escrever cartas e tratados, que enviava pelos navios carregados de milho que se dirigiam ao já decadente Império Romano. Instalado em segurança entre os olivais e vinhedos férteis, enfrentava bispos e influenciava papas e concílios da igreja.
Combateu com eficácia as ideias de João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla (347-407), que dizia que não deveríamos ser acusados dos pecados cometidos por Adão. Crisóstomo afirmava que, quando alguma coisa de mal acontecia, era uma punição pelos nossos próprios pecados, e não pelos pecados de Adão. Embora a sua argumentação fosse lógica, não explicava as iniquidades da vida – incluindo o sofrimento dos bebês inocentes.
A explicação de Agostinho para o pecado original tinha certa consistência e moldava-se perfeitamente à imagem de Deus como um imperador criado por Constantino. Agostinho escreveu: “Deus, o mais alto governante do universo, decretou com justiça que nós, que descendemos da primeira união, nascêssemos na ignorância e nas adversidades e sujeitos à morte, pois eles (Adão e Eva) pecaram e foram lançados no meio do erro, das dificuldades e da morte”.
O maior oponente de Agostinho foi o teólogo britânico Pelágio (354-418) que considerava o conceito de pecado original absurdo. Ele não podia compreender uma crença que dizia que os homens eram maus por natureza e incapazes de se aperfeiçoar. Pelágio, como Ário, acreditava que o homem tinha um destino mais elevado. Escreveu: “Não existe uma exortação mais premente do que esta: que devemos ser chamados filhos de Deus”.
Mas Agostinho conseguiu convencer o papa e Honório, governante da metade do império, a excomungar Pelágio (que vivia em Roma) e a envia-lo para o exílio, junto com seus seguidores. Pelágio morreu pouco tempo depois. Mas um dos seus seguidores, Juliano, o jovem bispo italiano de Eclanum, continuou a luta no exílio, na Ásia Menor. Juliano e Agostinho trocaram mísseis de pergaminho através do Mediterrâneo, de 418 até a morte de Agostinho, em 430. Agostinho, porem, já havia vencido.
Juliano perdeu a batalha por não conseguir defender a justiça Divina que permitia o sofrimento dos bebês.
Agostinho argumentava que se Deus era justo e as pessoas eram boas, por que os bebês deveriam sofrer? Mais especificamente, por que Deus permitiria que as almas dos bebês fossem “atormentadas nesta vida pelas aflições da carne”.
Disse Juliano: “É preciso responder que tão grande inocência às vezes nasce cega, “surda” ou “retardada””. A única explicação, acreditava, era o pecado original que os pais da criança lhe haviam “transmitido”.
Juliano contra-atacou perguntando por que um Deus justo condenaria uma criança a sofrer pelos “pecados dos outros” (os de Adão), que contraíra “sem saber nem querer”.
Agostinho respondeu: “Se não existiu o pecado (original), então os bebês... não sofreriam nenhum mal no corpo ou na alma, sob o grande poder do Deus justo”. Se alguém liberta as crianças do pecado original, este individuo esta acusando Deus de ser injusto. “Ambos percebemos a punição”, escreveu Agostinho a Juliano, “mas vós que dizeis que não foram os pais que transmitiram algo que mereça castigo – quando ambos concordamos que Deus é justo – precisais provar se fordes capazes, que existe num bebê alguma culpa que mereça punição”.
A menos que recorresse à reencarnação, Juliano não poderia provar que as crianças tinham feito algo que justificasse os “castigos”que sofriam. Por isso a igreja acabou rejeitando os argumentos de Juliano.
Agostinho conhecia bem o conceito de reencarnação. Em seus 9 anos como maniqueísta, provavelmente aceitou a ideia, pois era um dos princípios fundamentais daquela fé. Sabemos que alguns dos seus oponentes no debate sobre o pecado original sugeriram a reencarnação como uma explicação alternativa para o sofrimento humano.
Mas Agostinho – e finalmente a igreja – rejeitou imediatamente a reencarnação. Disse que era uma “ideia revoltante” considerar que almas precisassem “retornar novamente ao jugo da carne corrupta para pagar as penas do tormento”. Aparentemente, Agostinho achava que o tormento do inferno e da segunda morte eram preferíveis aos “tormentos” da “carne corrupta”.
A controvérsia sobre o pecado original foi resolvida no ano de 529, quando o Concilio de Orange aceitou a doutrina do pecado original elaborada por Agostinho. O concilio declarou que o pecado de Adão corrompera o corpo e alma de toda a raça humana e que o pecado e a morte eram resultado da desobediência de Adão.
Texto retirado do livro Reencarnação – o elo perdido do Cristianismo. De Elizabeth Clare Prophet.
Domingo, 4 de Julho de 2010
Livro “A GÊNESE” cap. XI
1. - O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.
Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre unia modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.
O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.
Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atraí por uma força irresistível, desde o momento da concepção. A medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.
Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.
Dado que, um instante após a morte, completa é a integração do Espírito; que suas faculdades adquirem até maior poder de penetração, ao passo que o princípio de vida se acha extinto no corpo, provado evidentemente fica que são distintos o princípio vital e o princípio espiritual.
2. - O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.
3. - Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra cm estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.
4. - Mas, ao mesmo tempo que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga de como empregou o tempo, se bem ou mal.
5. - Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida pela matéria.
6. - Tomando-se a Humanidade no grau mais ínfimo da escala espiritual, como se encontra entre os mais atrasados selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto inicial da alma humana.
Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal.
Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade, atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria animal, como o fruto não é a raiz, como o sábio não é o feto informe que o pôs no mundo.
Mas, este sistema levanta múltiplas questões, cujos prós e contras não é oportuno discutir aqui, como não o é o exame das diferentes hipóteses que se têm formulado sobre este assunto. Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado, tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral e de livre-arbítrio, começa a pesar-lhe a responsabilidade dos seus atos.
7. - A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.
8. - Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre.
No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para a frente no caminho do progresso, um a espécie de escola de aplicação.
9. - Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir. (O Céu e o Inferno, cap. III, nos 8 e seguintes.)
À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio, pode ele, por negligência ou má-vontade, retardar o seu avanço; prolonga, consequentemente, a duração de suas encarnações materiais, que, então, se lhe tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele permanece nas categorias inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito abreviar, pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do período das encarnações.
10. - O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes. Ora, sendo incessante, como é, a criação dos mundos e dos Espíritos e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude. Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros orbes, havendo-os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo ditoso.
11. - Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação cm corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, em a qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.
Assim, qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do Universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil.
A coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a alma do Universo. Por toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis.
12. - Quando a Terra se encontrou em condições climáticas apropriadas à existência da espécie humana, encarnaram nela Espíritos humanos. Donde vinham? Quer eles tenham sido criados naquele momento; quer tenham procedido, completamente formados, do espaço, de outros mundos, ou da própria Terra, a presença deles nesta, a partir de certa época, ê um fato, pois que antes deles só animais havia. Revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às suas aptidões, e que, fisionomicamente, tinham as características da animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades, esses corpos se modificaram e aperfeiçoaram é o que a observação comprova. Deixemos então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação. Mau grado a analogia do seu envoltório com o dos animais, poderemos diferençá-lo destes últimos pelas faculdades intelectuais e morais que o caracterizam. como, debaixo das mesmas vestes grosseiras, distinguimos o rústico do homem civilizado.
13. - Conquanto devessem ser pouco adiantados os primeiros que vieram, pela razão mesma de terem de encarnar em corpos muito imperfeitos, diferenças sensíveis haveria decerto entre seus caracteres e aptidões. Os que se assemelhavam, naturalmente se agruparam por analogia e simpatia. Achou-se a Terra, assim, povoada de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso. Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral (n.º 11). Continuando a encarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, das raças e dos povos, caráter que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso deles. (Revue Spirite, julho de 1860, página 198: «Frenologia e fisiognomia».)
14. - Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de emigrantes de origens diversas, que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios.
15. - Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, mesmo sem se levar em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo encarnar na Terra juntamente com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a diferença em matéria de progresso. Fora, com efeito, impossível atribuir-se a mesma ancianidade de criação aos selvagens, que mal se distinguem do macaco, e aos chineses, nem, ainda menos, aos europeus civilizados.
Entretanto, os Espíritos dos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para encarnar noutro mais elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passar a mundos mais avançados. (Revue Spirite, abril de 1862, pág. 97: «Perfectibilidade da raça negra».)