Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011
Mais poderoso do que os povos e as suas realizações através dos séculos, o Livro de cada época é um marco decisivo na história da evolução do pensamento.
Os Vedas, ditados por Brama aos richis, enriqueceram a India de espiritualidade durante milênios, e o Vedanta, que tem por objeto a sua explicação mística, até hoje domina a alma filosófica do povo hindu, iluminando-a com luz inextinguível.
A Pérsia milenária deixou-se conduzir pelo Zendavestá, atribuído a Zoroastro, e inundou-se de sabedoria que, há milênios, lhe norteia os caminhos, na busca da Imortalidade.
Israel, entre tormentos e inquietações, tem encontrado no Antigo Testamento, há quase cinco mil anos, o roteiro espiritual da liberdade buscada em todos os séculos.
Toda a Arábia passou a beber nas fontes augustas do Alcorão a Mensagem de Alá, transmitida ao Profeta em visões.
Desde então, sejam os pensamentos de Marco Aurélio ou os conceitos de Sócrates, apresentados por Platão, as poesias de Vergílio ou as antigas tragédias de Sófocles, o Novo Testamento, que nos apresenta a nobre vida do Homem que se fez maior do que a Humanidade, ou os Sermões de Vieira, o Livro é uma luz incomparável, colocando marcos históricos nos fastos da Humanidade.
Seja através da Divina Comédia, de Dante Alighieri, ou da Obra grandiosa de Cervantes, ou manuseando os conceitos de Castelar, após a Imprensa o homem passou a considerar o Livro como um monumento colossal dentro do qual se pode refugiar a Civilização, mesmo quando o horror da guerra ameaça a vida de extermínio total...
O Século XIX com as conquistas fulgurantes da Ciência, com as conclusões notáveis da Filosofia e com as pesquisas na Moral e na Religião, recebeu, numa Obra, o mais vigoroso trabalho filosófico de que se tem notícia: «O Livro dos Espíritos» que, embora a singeleza com que foi apresentado, em Paris, se fez o marco básico dos tempos novos, clareando mentes e conduzindo almas ao aprisco da paz, onde é possível uma felicidade imorredoura. Isto porque «O Livro dos Espíritos» difere, na essência, na estrutura e na planificação, de todos os que o precederam como daqueles que lhe vieram depois.
Não é a Obra de um homem nem a manifestação revelada de um só Espírito. É, talvez, a maior síntese que a Humanidade já leu em Filosofia Espiritualista, porquanto examina as consequências morais, através das Civilizações, apresentando os efeitos calamitosos dos desequilíbrios sociais, no homem reencarnado...
Não é um diálogo entre a alma que inquire e a voz que responde, embora o método dialético em que se apresenta. E' grandioso, igualmente, pelas conclusões do indagador e, na sua síntese preciosa, vai além dos problemas filosóficos, demorando-se em estudos de ordem metafísica, sociológica... Tentando oferecer soluções claras às diversidades étnicas, dentro de princípios essencialmente morais, conduzindo o pensamento em superior roteiro, capaz de libertar o homem das expiações amargas e dolorosas, em que se vem debatendo.
«O Livro dos Espíritos» é um Sol conduzindo, intrinsecamente, o seu próprio combustível. Guarda, na sua planificação, sabiamente, toda a Doutrina Espírita Codificada. Nele estão em germe os livros que viriam depois, abrindo novos horizontes à Ciência em «O Livro dos Médiuns», clareando os meandros da Religião em «O Evangelho...”. », explicando a essência da vida e sua origem em «A Gênese» e apresentando em «O Céu e o Inferno» consolações e punições necessárias ao progresso da alma encarnada ou desencarnada. E mais do que isto, a Introdução e os Prolegômenos deram origem aos opúsculos «Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita» e ao «O que é o Espiritismo».
Monumento mais grandioso que as tradicionais obras da Engenharia que o tempo corrói, «O Livro dos Espíritos» amplia o pensamento filosófico da Humanidade, derramando luz sobre a Razão entorpecida nas limitações do materialismo.
Espíritas! Homenageando a data de publicação d'«O Livro dos Espíritos», banhemo-nos na sua luz, estudando-o carinhosamente.
Não o olhar precipitado de quem se empolga com a narrativa romanceada, não a observação impensada de quem procura concluir antes de terminar o conteúdo, mas, estudo sério para sorvê-lo lentamente na taça augusta da meditação, e exame continuado e intermitente para absorver o pensamento divino que os Espíritos Superiores trouxeram ao espírito de escol do «Professor Rivail», o escolhido para projeção da Mensagem grandiosa que brilha como farol sublime na Doutrina Espírita.
Divulgá-lo e entendê-lo, senti-lo e apresentá-lo ao mundo é tarefa inadiável que a todos, espíritas e Espíritos, nos impomos como corolário natural das nossas convicções.
E recordando o seu aparecimento em Paris, há 113 anos, penetremo-nos de sua sublime mensagem, tornando-nos interiormente iluminados, para levar essa chama grandiosa às gerações do futuro, como ainda brilha entre nós a palavra de Crisna, Moisés, Jesus e tantos outros Embaixadores do Céu, e que «O Livro dos Espíritos» confirma e aclara.
Vianna de Carvalho
Por Divaldo P. Franco
Reformador’ (FEB) Abril 1970
Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011
Hoje em dia, as Relações Humanas estão elevadas à condição de estudo especializado.
Firmas há que chegaram a instituir, em seu quadro de funcionários, o cargo de recepcionista, especialmente criado para lidar com o público.
Existe mesmo uma literatura específica, ensinando como fazer amigos, liderar grupos, influenciar os outros, fazer-se agradável no trato com os semelhantes, etc.
No entanto, isto que parece uma novidade ou que aparece como tal, é matéria elementar da Doutrina Espírita, herança do Cristianismo, sobre o qual erige ela os fundamentos da educação do ser.
Independente de muitos outros textos, esparsos pelas obras da Codificação Kardequiana, há este, inserto no tópico 8· do livro «O Céu e o Inferno», lª parte, capítulo IIl:
“A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.
“A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, ,o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso, tem por móvel, por alvo e estímulo, as relações do homem com os seus semelhantes.
“Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia.”
Dentro da vida é que o Espiritismo nos situa o campo de lutas e tarefas.
Seus conceitos renovadores nos fixaram rumos novos ·aos passos.
Segundo sua essência ideológica, muita coisa teve que ser refundida e reajustada.
Salvação equivale a esforço próprio, adquirida nos prélios redentores de nossa pauta de testemunhos, em estreito e íntimo contato com os nossos Irmãos em Humanidade.
Isolamento vale por expressão de vida interior, traduzida em estudo e trabalho, em oração e recolhimento espiritual, Cursos de preparação moral-religiosa, temo-los nos sistemas de acontecimentos com que nos defrontamos e por força dos quais aprendemos a viver e, cada vez mais, vivemos a aprender.
Religiosidade não é fanatismo, nem alheamento às coisas que nos cercam, antes significa dinâmica espiritual sustentada por cogitações mentais mais altas e ordens de ideias melhores e superiores.
Retiro espiritual representa tão somente afastamento do mal, libertação do erro e do vício, sem quaisquer barreiras divisórias entre nós e o próximo, como se nos isolássemos de alguém portador de moléstia infecto-contagiosa.
Adoração a Deus corresponde a consagração de nossa existência a serviço da Humanidade, a bem dos semelhantes, no templo do corpo pela iluminação crescente do Espírito.
O Lar, a Escola, a Igreja, a Oficina, o Laboratório, os múltiplos setores, enfim, das experiências e atividades humanas, são estágios ativos e fases dinâmicas de aprendizagem variada e diferente, em cada um dos quais nos é dado conseguir e consolidar, por vezes, maiores parcelas de conhecimentos e virtudes, de luzes e aquisições espirituais.
Aprendamos com Jesus que não devemos temer o mundo. Cultuemos a Vida, no que ela nos oferece de nobre e sublime, dando-lhe o melhor de nós mesmos. E, certamente, não será fora da engrenagem do mecanismo social, com seus altos e baixos, com seus dramas e tragédias, com suas grandezas e misérias, que iremos colher flores e frutos da semeadura dos ensinamentos cristãos. De outro modo, como poderíamos desenvolver o raciocínio, aprimorar os sentimentos, burilar as arestas de nossa alma, enrijecer a vontade, temperar o caráter, educar a mente, espiritualizar o coração, engrandecer os dons espirituais?
Necessitamos da Vida e do Mundo.
Todos poderemos prestar bons serviços, se soubermos prestar bons serviços a todos.
A luz que dermos aos outros contribuirá para aumentar nossa capacidade de iluminação própria.
Instruídos, os ignorantes proclamarão as excelências do Conhecimento e exaltarão a grandeza da Sabedoria.
Consolados, os sofredores bendirão da alegria de viver.
Assistidos, os necessitados encontrarão estímulos para a luta.
Orientados, os inexperientes saberão compreender as realidades benfeitoras da trajetória terrena.
Esclarecidos, os perturbados recobrarão novo ânimo para a marcha triunfal de sua redenção.
Convertidos, os maus e pervertidos renascerão das próprias cinzas do pecado, seguindo novos rumos em busca de outros objetivos.
Perdoados, os adversários orarão por nós.
Amados, um dia, os ingratos amarão também.
Tais situações só serão possíveis em função de intercâmbio e convívio diário.
Precisamos de ouvir e falar, de sentir e amar, de lutar e viver, de assimilar e dar bons exemplos, de permutar impressões, de conhecer os homens, e de fazer que os homens conheçam os ensinos de Jesus, através de nossa conduta.
Carecemos da presença do nosso próximo, para com quem devemos estar animados do sincero e profundo desejo de prodigalizar todo o bem possível, buscando, por ele e com ele, edificar o reino dos céus em nós mesmos.
Lucas Pardal
Reformador’ Março de 1970.
Terça-feira, 15 de Novembro de 2011
“Segundo várias comunicações, recebidas em ocasiões e lugares diversos, de elevados espíritos a serviço da verdade divina, este infeliz apóstolo, que tão desastrosamente faliu na missão que com instância solicitara, conseguiu, depois de múltiplas encarnações sofridas através de séculos, reparar todo o seu passado de triste memória, transformando-se, afinal, em Espírito de Luz, digno de volver a ocupar o posto que deixara vago no Colégio Apostólico, a sentar-se no trono de onde devera estar de há muito, como os seus companheiros de apostolado, exercendo o governo de uma das doze tribos de Israel, conforme a palavra evangélica. Tornou-se, em suma, digno do amor de Jesus que, por mais de uma vez afirmou que nenhuma se perderia das ovelhas que o Pai lhe dera para apascentar.
Tendo pago a sua dívida até o último centil, como o exige a Lei: a ovelha que tão gravemente desgarra, havendo alijado de si o pesado fardo da ambição que tantas desgraças lhe ocasionara, voltou ao aprisco, perlustrando a estrada das tarefas e missões humildes e dolorosas e elevando-se assim, gradativamente, aos olhos daquele que nunca deixara de amá-lo com entranhado amor.
Judas passou a História como símbolo da Traição. Só agora, decorridos quase dois milênios, graças à revelação espírita, os fatos se nos apresentam claramente compreensíveis, através de mensagens explicativas de Espíritos que foram seus contemporâneos e que, certamente com o propósito de nos advertirem, a nós que tivemos a felicidade, como aquele apóstolo, de conhecer o Cristo, na sua excelsitude espiritual e na grandiosidade do seu messianato, de que os tempos atuais são semelhantes, senão idênticos aos desse messianato e que, portanto, muito nos devemos precatar, para que não tenhamos de passar pelas mesmas dores e sofrimentos, pelas mesmas expiações e provas, a que se condenou o mesmo Judas pelo seu desvario. Dizem-nos as mensagens ou comunicações a que aludimos que ele foi vítima da sua tresloucada ambição.
Espírito inteligente, de grande desenvolvimento intelectual, ambicionou constituir-se elemento de grande prestígio social, capaz de resolver o problema do seu povo e de alça-lo a uma posição de completo domínio político.
Não concordava, pois, com a mansuetude, a humildade e o desinteresse do Mestre, com a sua preferência pelo convívio dos pequeninos, dos párias, dos oprimidos, dos que os grandes e poderosos exploravam, entendendo que tudo isso obstaria sempre a que o Senhor ascendesse ao fastígio a que ele, Judas o julgava com inconcusso direito. Achava que, pela força moral que demonstrava, pelo poder extraordinário de que dispunha o meigo Rabi, este seria precioso elemento para que ele, seu apóstolo, realizasse a conquista da posição de destaque e de mando com que sonhava.
Indubitavelmente, Judas não necessitava dos trinta dinheiros do seu trato com os príncipes dos sacerdotes. Que valor teria essa importância pecuniária, para ele que era o depositário do dinheiro da comunidade? O que queria, e a que visava era guindar-se ao mando supremo. Essa idéia o obsidiava e faz imaginar que Jesus não se entregaria e consentiria em ser proclamado Rei da Judéia; que lhe daria a ele o posto de seu primeiro ministro, investido, de modo absoluto, na direção política do país.
Logo, no entanto, viu que se enganara redondamente, que nada do que concebera se realizava que nada mais fizera do que sacrificar o Mestre amado ao ódio dos seus piores inimigos e perseguidores. Caindo então em si, foi presa de pavoroso remorso do mal que a sua ambição o levara a praticar contra aquele que tantas provas de amor lhe dera, depois de o haver admitido na companhia dos seus escolhidos. Desvairado, pois, alucinado, com a razão inteiramente obliterada, novo crime cometeu, maior talvez do que o primeiro, visto que, em face das leis divinas, acarreta conseqüências bem mais aflitivas e prolongadas do que qualquer outro, visto que se estendem quase sempre por múltiplas encarnações sucessivas.
Ora, pensando nesses acontecimentos, em que foi saliente protagonista o Iscariotes, cuja ambição de poder e mando o fez perder o muito que havia recebido à mente nos vem o que se passa nos dias de hoje, em que o Cristo nos envia, conforme prometera o Consolador, para relembrar e ampliar os seus ensinamentos. E o temor nos assalta, enchendo-nos de tristeza e amargura o espírito, de que também agora surjam, como desgraçadamente parece que já vai acontecendo, personalidades qual a do apóstolo que traiu, com ambições semelhantes às que o cegava, dominados igualmente pelo personalismo, pela vaidade, pela presunção, a quererem, na sua cegueira, valerem-se do Espiritismo para se colocarem em evidência, não só entre os companheiros que, por menos cautelosos, lhes sancionam, sem ponderação maior, as atitudes, senão ainda entre os profanos, induzindo-os a supor que o Espiritismo é uma seita, como tantas outras, onde o que domina é a política religiosa, servindo o Evangelho apenas de entorpecente espiritual empregado em doses adrede preparadas convenientemente. Aflige-nos a possibilidade de que tal se dê, porque esses se constituirão assim, sem disso muitas vezes se aperceberem por falta de vigilância e oração, elementos de perturbação e discórdia, de desarmonia e separatividade, num meio onde tudo deve ser união, bonomia, fraternidade e benignidade, já que ainda não pode ser amor.
Lamentabilíssimo que tal aconteça como lamentável foi o ato irrefletido do ambicioso irmão que supôs fácil utilizar-se do Cristo para execução de seus projetos de criatura falível, ainda carente do espírito da doutrina que lhe era pregada e exemplificada, ainda bem longe de compreender, em espírito e verdade, as palavras daquele que se dizia que era e será sempre - Caminho, Verdade e Vida.
Lamentabilíssimo sim, porque esses tais se condenarão a mais longa, penosa e árdua caminhada, para atingir a meta que todos havemos de alcançar, embora tenhamos a consoladora certeza de que lá chegarão como chegou o filho de Iscariotes; de que todos um dia nos reuniremos, pela misericórdia do Pai, em torno do Pastor divino, como se reuniu Judas aos onze companheiros que permaneceram fiéis aos compromissos que haviam assumido para com o mesmo Pastor.
Essa certeza não somente no-la dá a revelação atual, em seus desenvolvimentos da revelação anterior, como o próprio Judas, nas suas comunicações ou mensagens, dentre as quais destacaremos, pela sua tocante beleza e expressividade, a seguinte, que se encontra à pág. 392 do terceiro volume da grandiosa obra - “Os Quatro Evangelhos” de J. -B. Roustaing.:
“Segundo as explicações que os homens deram desses fatos (os da traição), Judas houvera sido de antemão escolhido e entregue ao ‘demônio’; fora criado para cometer o crime que praticou; sua alma fora vil, baixa, invejosa, cupidez, sanguinária, unicamente para que se cumprissem as profecias do Antigo Testamento. Quão manifesta, entretanto, é a justiça de Deus no ato do Espírito presunçoso, que pede para cooperar na grande obra e que, apesar de todas as observações, de todos os conselhos, se obstina em levar por diante a orgulhosa tentativa, confiando mais na sua presunção, do que na presciência daquele sob cuja inspiração seus guias lhe declaravam: Tu vais falir. Quão patente se mostra, ao mesmo tempo, naquele ato, a mão paternal sempre estendida para o filho indócil, a fim de levantá-lo após a queda, que lhe serviria de ensinamento e lhe faria germinar no coração a salutar humildade, que aí até então não encontrara acesso!
Oh! Como é grande esse Deus que permite que o filho culpado encontre, na sua própria indignidade, o ponto de apoio que o ajudará a subir para a perfeição! Oh! Quanto é bom aquele que está sempre pronto a perdoar ao que sinceramente se arrepende que pensa com suas mãos benfazejas as chagas dos nossos corações culpados, que nelas derrama o bálsamo da esperança e as cicatriza com o auxílio da expiação!
Bendito sejas tu, meu Deus!”
Antônio Wantuil de Freitas que publicou, no Reformador (FEB) de Abril de 1943.
Segunda-feira, 14 de Novembro de 2011
Vou explicar-vos as razões porque efetivamente não sou cristão no sentido emprestado erroneamente a esta palavra pela igreja romana.
Para esta seita, ser cristão não é cumprir os preceitos admiráveis do Evangelho; não é imitar, quanto possível, as sublimes lições da vida de Jesus.
Tanto assim que, sendo o Mestre um simples carpinteiro, o papa é rei com todo o cortejo de mundanas grandezas.
Enquanto o Cristo vestia a túnica dos pastores que não tem onde repousar a cabeça, seus pretensos continuadores cobrem-se de ouro e de púrpuras, alardeiam uma pompa de caráter pagão, cercam-se de luxo familiar aos tiranos do tempo de Sermacherib.
O Filho de Maria era humilde e perdoava as ofensas alheias; a igreja católica mostra-se sob um orgulho indomável e amaldiçoa, desde séculos, a quantos se não submetam a seus dessarroados caprichos.
Cristo espalhava, sem remuneração, os benefícios de um amor incomparável; a igreja vende os sacramentos, negocia com a salvação das almas, trafica com o reino dos céus.
Cristo profligava os erros e o despotismo dos fariseus bafejados pela riqueza da Terra; a igreja rasteja aos pés dos potentados.
No Rabino genial, conjugam-se as perfeições do missionário cumprindo à risca os desígnios da Providência; na igreja proliferam os crimes e os atentados contra a vida e a consciência de nosso semelhante.
A disparidade entre o ensino de Jesus e o dos concílios romanos não precisa de mais exemplos para se impor com a força dos axiomas irrespondíveis.
Cristo, no conceito católico, é o homem escravizado ao culto externo, às regrinhas da disciplina religiosa, às bulas e pastorais ejaculadas, de vez em vez, pelo ralo das autoridades eclesiásticas.
Ouve missa, bate nos peitos, confessa ao padre as suas mazelas espirituais, usa a veste das procissões, torce entre os dedos, maquinalmente, as contas dos rosários e crê no sortilégio dos escapulários.
Vive transido com o horror blasfemo de um Deus vingativo e implacável que tem embaixadores na Terra para a regularização dos negócios celestes. Isto não o impede, entretanto, de alimentar ódios, intolerância, dureza de coração, maledicências venenosas, invejas surdas, ambições insuportáveis e apego aos bens temporais. Não o impede de desejar todo o mal possível ao próximo, de vangloriar-se com o alheio infortúnio, de rogar pragas, atirar esconjuros sobre os que não comungam com os seus ideais.
A piedade, a doçura, a indulgência, a mansidão... São coisas de que não se ocupa absolutamente.
Rezando a sua ‘salve rainha’ e pondo uma vela a arder em face do oratório bento, dá-se por satisfeito, repousa a consciência no cumprimento dessas puerilidades.
De tempos em tempos, a penitência dos confessionários, com a deglutição complementar da hóstia, lavam-lhe os pecados velhos. Julga-se, então, apto para subir entre serafins tangendo liras vaporosas aos esplendores da felicidade eterna.
Mas, como a morte parece-lhe longe, torna a pecar e copiosamente, fiado no perdão já tantas vezes concedido às suas faltas anteriores.
Entre a prática do bem, das virtudes humildes e o abster-se de carne às sextas-feiras, ele prefere este “último sacrifício”. É mais cômodo, mais ortodoxo e produz resultados extraordinários.
Pode-se realizá-lo conservando o orgulho, o egoísmo, a vaidade, os rancores rubros que geram as explosões de criminalidade.
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Agora, vede o que é ser cristão segundo o espiritismo:
É ter gravado no recesso de nosso entendimento as passagens maravilhosas do Evangelho a fim de evitá-las nos casos concretos da existência humana. O espírita não bate nos peitos soturnamente, mas ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Não veste opa (capa sem mangas, mas com aberturas para enfiar os braços) nem se ajoelha ante imagens talhadas no mármore ou fundidas no bronze; adora o ser sensível com as efusões de sua alma extasiada com as magnificências da criação universal.
Para chegar no céu, dispensa o caminho dos confessionários e considera muito mais benéficos o perdão das injúrias, o amor à justiça, a piedade para todas as fraquezas, a doçura e o amparo para todos os infortúnios.
Faz-se menor entre os menores, combate a iniquidade, difunde a instrução, protege ao órfão, enxuga as lágrimas da viuvez desconsolada.
Não incensa aos orgulhosos cercados de grandezas e de glórias efêmeras, lastima-os.
Põe seus cuidados na vida futura, encara a dor como instrumento de progresso, resigna-se às opressoras contingências do planeta, porque a sua verdadeira pátria está além, no seio augusto da Misericórdia Suprema.
As suas paixões guerreia sem cessar. E só se empenha tenazmente em conseguir moldar seu caráter nas linhas puras traçadas por Jesus para a edificação de todas as gerações.
Vianna de Carvalho
Reformador (FEB) 1.6.1918
Domingo, 13 de Novembro de 2011
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXV, item 11, lemos esta sábia recomendação:
“(...) não violenteis nenhuma consciência; a ninguém forceis para que deixe a sua crença, a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; acolhei os que venham ter convosco e deixai tranqüilos os que vos repelem”.
Lembrai-vos das palavras do Cristo. “Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”
(KARDEC, 2001, p. 361.)
Tais palavras, se mal interpretadas, podem ser entendidas como estímulo à nossa indiferença no que se refere à divulgação da Doutrina Espírita. Afinal, dirão os que assim pensam, para que nos preocuparmos com a pressa em tornar universais esses conhecimentos? Um dia, todos pensarão como nós. Deus não tem pressa. A verdade está acima dos julgamentos humanos. O Espiritismo se imporá por si mesmo...
Em parte, isso é verdade. Precisamos, entretanto, refletir sobre o conteúdo das palavras transcritas.
Elas não autorizam a interpretação acima. Para seu melhor entendimento, vamos desmembrar a frase citada em duas partes.
Primeiramente, recomenda-se não “violentar nenhuma consciência”, etc. Nesse sentido, até mesmo entre os adeptos do Espiritismo pode haver divergência de pensamento sem que deixemos de nos estimar e respeitar fraternalmente. É preciso compreender que uma das coisas mais detestáveis, para quem acalenta uma idéia, ainda que errada, é ser desmentido publicamente.
Carnegie (2003, p. 257) afirma que para alguém ser levado a pensar como queremos, entre outras coisas, é preciso evitar discutir e respeitar sua opinião, por mais equivocada seja a pessoa. Isso porque, após ter ouvido, tomado parte de milhares de discussões, concluiu que “há apenas um caminho para conseguir o melhor numa discussão – é correr dela, correr como você correria de uma cobra ou de um tremor de terra”. (CARNEGIE, 2003, p. 166-167.)
As coisas mais óbvias, em questão de crença, podem nos deixar com má vontade sobre elas, quando nos sentimos pressionados a aceitá-las como condição única de obter a proteção divina. Isso ocorre, principalmente, se já temos nossa posição firmada a respeito do assunto.
Um exemplo disso são essas mensagens cristãs que recebemos na rua ou são colocadas em nossas caixas de correspondência. Aparentemente, não há nada demais nisso, e até mesmo seria de se desejar que ficássemos gratos a quem as oferta.
Entretanto, exceto quando compartilhamos da mesma crença dos portadores das mensagens, se já temos nossa fé, sempre vemos nelas uma forma direta de proselitismo. Mesmo quando simplesmente lemos:
basta crer no Senhor e serás salvo.
Condição única: “crer no Senhor”.
Podemos continuar perversos, viciosos, hipócritas, invejosos, descaridosos, etc., mas se “cremos no Senhor”, ah, isso é o bastante. Nada de preocupações com nossa reforma íntima, afinal, a fé nos basta.
Ainda que concordemos com o conteúdo dessas mensagens, pois quase sempre nada mais são do que reproduções literais de passagens evangélicas ou do Antigo Testamento, a impressão que temos é a de que se não procurarmos a igreja X e nos filiarmos à mesma estaremos excluídos, definitivamente, das bem-aventuranças celestiais.
Isso não significa que também os espíritas não incomodemos, os não espíritas com nossas mensagens impressas em papel ou mesmo enviadas por e-mail sem que no-las tenham solicitado. Também entendemos que não há nada mais desagradável, para quem não acredita nas comunicações dos Espíritos com os homens, do que receber uma mensagem psicografada por alguém, ainda que essa pessoa esteja acima de qualquer suspeita. Nenhum tipo de violência à consciência alheia é aceitável, por mais bem-intencionados estejamos.
Entretanto, não podemos negar os imensos benefícios, para milhares de pessoas, que, tanto umas, quanto outras mensagens proporcionam quando oportunas. Quantos enfermos nos hospitais, quantos presidiários não se têm sentido confortados e agradecidos aos que lhes fazem uma prece, estendem as mãos e lhes deixam sua mensagem de fé, escrita ou falada! A forma de transmiti-las e a intenção existente por trás dessa divulgação é que podem ser questionadas.
Se a pessoa se sente bem com sua crença, ou mesmo descrença, não temos que tentar convertê-la ao nosso modo de crer. Quando chegar o momento adequado, os bons Espíritos encaminharão cada um para o templo religioso adequado ao seu estado mental e necessidade de desenvolvimento espiritual.
A segunda parte da mensagem que encima este texto afirma:
“Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”
Durante muito tempo, acreditou-se que quando algo era bom para a Humanidade tinha que ser imposto pelas armas. Ainda hoje, algumas nações e sociedades pensam equivocadamente dessa forma. Em especial na política e na religião, imaginam que aquilo que é bom para si também o é para os outros sem qualquer respeito à sua cultura. Todavia, se é assim, por que os que pensam desse modo continuam sendo detestados por muitos? Por tentarem impor, à força, seu sistema político, sua religião, seus valores intelectuais e morais. É pela brandura, pelo amor que convencemos, e não pela imposição de nossas idéias. E não pela força.
Segundo Kardec, o maior adversário do Espiritismo não é qualquer religião, e sim o materialismo.
É este o mais devastador sistema filosófico já imaginado pela mente humana, que tudo reduz aos fenômenos da matéria. A vida, segundo tal teoria, seria obra do acaso e se extinguiria com a morte.
Mas até mesmo aos que em nada crêem não devemos violentar com nossa crença na imortalidade da alma, comunicação dos Espíritos, reencarnação e existência de Deus, entre outros aspectos básicos do Espiritismo.
Esclareçamo-los, sobretudo pela razão, sem deixar de tocar-lhes, amavelmente, o sentimento quando nos questionarem.
A Doutrina Espírita, como outrora a mensagem de Jesus, não veio para os sãos do espírito, e sim para os enfermos da alma, para os que buscam uma esperança, um consolo para as suas existências atribuladas.
Desse modo, é útil refletirmos nas seguintes palavras do Espírito Emmanuel (XAVIER, 1988, p. 190):
Convençamo-nos, porém, de que todo desequilíbrio do espírito pede, por remédio justo, a educação do espírito.
Veiculemos, assim, o livro nobre.
Estendamos a mensagem edificante.
Acendamos a luz dos nossos princípios nas colunas da imprensa.
Utilizemos a onda radiofônica, auxiliando o povo a pensar em termos de vida eterna.
Relatemos as nossas experiências pessoais, no caminho da fé, com o desassombro de quem se coloca acima dos preconceitos.
Amparemos a infância e a juventude para que não desfaleçam à míngua de assistência espiritual.
Instruamos a mediunidade.
Aperfeiçoemos nossos próprios conhecimentos, através da leitura construtiva e meditada.
Instituamos cursos de estudo do Evangelho de Jesus e da obra de Allan Kardec, em nossas organizações, preparando o futuro.
Ofereçamos pão ao estômago faminto e alfabeto ao raciocínio embotado.
Plantemos no culto da caridade o culto da escola.
E, sobretudo, considerando o materialismo como chaga oculta, não nos afastemos da terapia do exemplo, porque, em todos os climas da Humanidade, se a palavra esclarece, o exemplo arrasta sempre.
Cabe, pois, a nós, espíritas, observar o momento propício de auxiliar aqueles que não possuem uma fé a lhes consolar o coração e a lhes satisfazer o cérebro, mas que se encontram à procura dela. Também há os que têm sua crença, entretanto, continuam sentindo um vazio em seus corações. Os templos religiosos que frequentam lhes parecem frios; o deus que lhes dão a conhecer parece distante de nós, seus filhos; as misérias e desigualdades humanas não lhes são suficientemente explicadas. Para esses veio o Espiritismo ou Consolador prometido por Jesus.
É, pois, pela doçura, pela boa palavra, pela brandura de nossos atos que divulgaremos o Espiritismo, e não pela discussão estéril, pelo ataque sistemático às outras e às nossas instituições, e aos irmãos de ideal. E não pela violência.
É pelo estudo sistemático das que nos iluminaremos com o saber renovado por Jesus. Comecemos por O Livro dos Espíritos, continuemos com O Livro dos Médiuns, prossigamos com O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e concluamos com A Gênese.
Essas obras maravilhosas que compõem o chamado pentateuco kardequiano é que nos darão a base da Nova Revelação.
Prosseguindo no estudo, que se leia as informações da Revista Espírita, de Allan Kardec, e nelas reflita. Ensaio profundo para a publicação das obras posteriores da Codificação, ela nos traz ao conhecimento as primeiras experiências, relatos sobre fatos extraordinários e reflexões de Kardec, bem como de muitos outros ilustres pioneiros do Espiritismo no mundo.
Mas não fiquemos nisso, leiamos as boas obras, mediúnicas ou não, que analisam ou complementam o conteúdo das obras acima.
Em especial, recomendamos a chamada Série Nosso Lar, atualmente publicada pela Federação Espírita Brasileira sob o título genérico de A Vida no Mundo Espiritual, em treze volumes, ditada pelo Espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. São tantos os médiuns, escritores e livros a serem lidos e meditados por nós que, se enumerados todos, transformaríamos este artigo em catálogo. O mais importante, porém, é que conheçamos bem, para melhor praticar a Doutrina, as obras da Codificação Kardequiana já referidas.
Allan Kardec nos lembra de que “fora da caridade não há salvação”.
E o Espírito Emmanuel nos faz refletir que, em Espiritismo, sua maior caridade é a divulgação mesma dos ensinamentos elevados dos emissários do Cristo, para serem vivenciados, e nossa exemplificação permanente no Bem. Assim, pelos nossos pensamentos e atos sempre coerentes com a Doutrina dos Espíritos, pelo estudo permanente das obras da Codificação Espírita, na vontade de vencer as próprias limitações, e pelo trabalho em prol de um mundo cada vez melhor, renovando o próprio mundo íntimo, estaremos promovendo a melhor divulgação do Espiritismo.
Reformador Nov/2005
BIBLIOGRAFIA:
CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 51. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 82. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. 117. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988.
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011
Um dos grandes obstáculos ao progresso humano está na preguiça mental. O homem prefere receber as informações “mastigadas” pela mídia ao invés de dedicar-se ao estudo que exige o raciocínio. A TV ainda impera sobre o livro.
Sabendo disso, muitos mestres, em todos os tempos, utilizam o recurso de contar estórias ou histórias para transmitir o ensinamento que se propõem a divulgar. E para prender a atenção do público a que se destina toda mensagem são revestida das mais variadas recursos que atraem.
Assim a TV, o rádio, o vídeo, o teatro. Muitas vezes o conteúdo não é bom, mas a embalagem atrai e prende a atenção. E engana como ocorre com a publicidade do cigarro, por exemplo...
E os espíritas, como ficamos? Temos uma maravilhosa mensagem, toda ela voltada para o crescimento do ser humano. Precisamos, sem dúvida, utilizar todos os modernos meios de comunicação para transmitir essa mensagem ao grande público. Os recursos tecnológicos da atualidade, como microfone, telão, vídeo, retroprojetor, projetor de slides, som, computador e outros facilitam muito a divulgação das idéias espíritas.
Voltando ao início de nosso pensamento, verificamos que o recurso de contar estórias ou histórias facilita e muito à transmissão da divulgação doutrinária. Não é por acaso que renomados autores encarnados e desencarnados usam a forma romanceada, e nem foi por outra razão que Jesus também usou as parábolas para ensinar. Este recurso realmente consegue transmitir o ensinamento com muita objetividade, facilita a memorização do ensinamento, prende a atenção. Na tribuna, por exemplo, ele tem um efeito excelente, principalmente se descontraído.
Mas, analisemos uma parábola de Jesus: A Parábola dos Dois Filhos. Em breve resumo, a parábola indica um Pai e dois filhos, convidados para trabalharem na vinha do Pai. O primeiro promete ir, mas não vai. Já o segundo filho, rebela-se dizendo que não vai, arrepende-se depois e acaba indo. À luz da Doutrina Espírita, podemos extrair o ensinamento da parábola. O texto em si é a embalagem que precisamos desembrulhar para conhecer o conteúdo e dele extrair o ensinamento. Também em breve resumo, podemos concluir que o Pai da parábola é Deus. Os filhos somos todos nós, detentores do livre-arbítrio, com a liberdade de opção de trabalhar ou não na seara do Pai. Seara é todo o campo de trabalho que Deus nos oferece.
Observemos que o Pai não impõe condições, nem reprova o comportamento. Respeita a liberdade dos filhos. Com o texto embalado pela estória, podem-se extrair muitos ensinamentos, em conteúdo e grande profundidade.
A parábola é um convite para sairmos da ociosidade, é um apelo ao trabalho em favor de um mundo melhor, porém a decisão é de cada um. Há muito que se fazer em favor uns dos outros, nos variados campos da atividade humana, mas também e principalmente no uso da caridade e do amor...
Já a assimilação do ensinamento só por palavras é como o filho que diz que vai e não vai, fica adiando sua transformação no bem ou o trabalho em favor do semelhante. Como diz a parábola, não é preferível o filho às vezes indisciplinado, mas que toma depois a decisão de se melhorar e trabalhar na vinha do Senhor? No pequeno exemplo da parábola referida está à embalagem a ser aberta e no seu interior a pérola do ensinamento. Libertemo-nos, pois, da preguiça mental e mergulhemos no raciocínio a fim de extrair da Doutrina Espírita, com sua extensa e variada literatura, as luzes do Evangelho de Jesus, a fim de não sermos os indecisos como cristãos de aparência que dizem, mas não fazem que adiem o progresso...
E para os que preferem a acomodação mental, continuemos a utilizar o recurso das estórias e histórias, a fim de fixar com mais facilidade a divulgação das idéias de Jesus e dos ideais de nossa querida Doutrina.
Para concluir, contudo, e considerando os valores libertadores trazidos pela Doutrina Espírita em favor do homem, trago aos leitores transcrição parcial do capítulo A Conclusão da Pesquisa, pelo Espírito Ignácio Bittencourt **, onde o autor, ao referir-se a minuciosa pesquisa levada a efeito nas Esperas Superiores, na qual os Excelsos Dirigentes do Espiritismo “chegaram à conclusão de que, junto às calamitosas quedas morais e às deserções deploráveis de numerosos companheiros responsáveis pelo serviço libertador, entre todas as causas que dificultam a marcha da Nova Revelação na Terra, destaca-se, em posição de espetacular e doloroso relevo, a preguiça mental”.
Orson Peter Carrara
REFORMADOR, NOVEMBRO, 1997
VIEIRA, Waldo. Seareiros de Volta, por Espíritos Diversos. 5ª ed. FEB, 1993.
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011
Os excelentes artigos escritos por Bezerra de Menezes com o pseudônimo Max, para “O Paiz” foram posteriormente enfeixados em 3 volumes que a Federação Espírita Brasileira editou, no ano de 1907, sob o título “Espiritismo – Estudos Filosóficos” todos são extraordinários, não fora seu autor o “Kardec Brasileiro”. Por isso mesmo, a Casa de Ismael está preparando uma nova edição da obra, na convicção de que os espíritas apreciarão sobremaneira possuí-la em sua estante, com o selo da FEB, da qual Bezerra de Menezes foi Presidente. Antecipando essa promessa, o Reformador” pública, a seguir, um dos capítulos já revistos, precisamente aqueles em que, dentre outros, a questão do corpo fluídico de Jesus é defendida pelo “Médico dos Pobres”.
Pareceu-nos sempre repugnante a fórmula sacramentária de estar Jesus, corpo, sangue e alma, consubstanciado na hóstia consagrada.
Se fosse um símbolo, nada opor-lhe-ia nossa razão; mas a igreja impõe aos fiéis à crença de que recebem na hóstia e pela hóstia o corpo e a alma do Cristo, tão real e perfeitamente como está no céu.
A fé passiva o que pode opor a tão formal imposição de quem tem o dom da infalibilidade em matéria dogmática?
O crente fanatizado o que pode divisar em semelhante fórmula, senão a manifestação de uma verdade absoluta?
A razão, porém, clama e clamará sempre contra todo dogma que envolva monstruosidade ou absurdo.
O pensador, embora crente, não admite que a suma perfeição se manifeste sob forma impura.
Aquele dirá: credo guia absurdo; enquanto este protestará, clamando: nihil absurdum a Deo.
Ora, será racional que um Espírito tão elevado, tão puro, tão perfeito, que a igreja crê e manda crer que é um Deus; a segunda pessoa da trindade divina se imiscua se consubstancie com a matéria, de modo que se ache todo nesta?
Jesus é esse Espírito puro e santo, e, no entanto, ei-lo aí todos os dias dado e recebido sob a forma material!
Argumenta-se com as suas próprias palavras, que foram o fundamento do sacramento da eucaristia, pronunciadas na ceia, em que denunciou a traição e o traidor; argumenta- -se com estas palavras que foram: eis o meu corpo, apresentando o pão que havia benzido; eis o meu sangue, apresentando o vinho, também depois de havê-lo benzido.
Com efeito, conclui-se daí que Jesus corporizou-se no pão e no vinho, donde a naturalidade de sua corporização na hóstia consagrada.
É, porém, sabido que o divino Mestre usou sempre da parábola; de linguagem figurada, principalmente quando se referia ao que podemos chamar a parte dogmática de seus ensinamentos.
E isto é devido a não ter a humanidade de seu tempo a precisa clareza intelectual para compreender leis e fenômenos de esfera superior.
Ele dava o ensino sob a figura, para que, mais tarde, quando a humanidade já possuísse mais clara compreensão das coisas, entendesse esse espírito e verdade.
Um exemplo: nós ensinamos a nossos filhos, em criança, o Credo ou símbolo dos apóstolos; mas não Ihes explicamos, porque seria inútil, o sentido ou valor daquelas palavras.
Eles, porém, as guardam de memória, e quando sua faculdade de compreender já tem adquirido o necessário vigor, esse é o tempo em que eles apreciam, em espírito e verdade, aquelas palavras que Ihes ensinamos.
As que Jesus proferiu, quando consagrou o pão e o vinho, foram simbólicas, não podiam ser tomadas, naquele tempo, senão literalmente; mas elas encobriam alto ensinamento para quando a humanidade pudesse compreender as coisas em espírito e verdade, e não mais segundo a letra.
A igreja, recebendo a tradição literal, guardou-há até nosso tempo; mas a igreja de nosso tempo já devera ter compreendido que a corporização de um espírito como o Cristo é absurdo, e, pois devia ter posto de parte a letra e procurado o espírito daquele símbolo.
Se o tivesse feito, como lhe cumpria, mais que a qualquer outro, teria reconhecido que o corpo e o sangue de Jesus, dados a comer e a beber aos apóstolos, são o símbolo de sua doutrina, cujo ensino foi, por aquela cerimônia, confiado àqueles homens.
Se o tivesse feito, como lhe cumpria, teria reconhecido que um Deus não precisava materializar-se, para influir sobre o homem.
Deus, Espírito, influi sobre o homem, Espírito imaterialmente, por sua vontade, por um raio de sua luz.
Para que deixar-nos Jesus o seu corpo e o seu sangue, quando a virtude de seu Espírito está sempre conosco?
Ele, o espiritualista por excelência, consagrar fórmulas materialistas, sem necessidade e até contra seus próprios ensinos!
Como fica claro, racional e sublime considerar o pão e o vinho dados pelo Mestre como o símbolo de sua doutrina, que confiou a seus discípulos como a expressão de sua última vontade?
Recebeu-a Jesus sob a forma de pão, quando Jesus pode-se nos dar sob a forma imaterial, por seu perdão, por sua misericórdia, por seu amor!
Estamos ouvindo redarguir: por que não pode Jesus corporificar-se na hóstia, uma vez que tomou um corpo como o nosso?
Idem por idem! - o mesmo impossível! História do verbo encarnado para a infância da humanidade!
Jesus teve, com efeito, um corpo como o nosso pela forma; mas não pela natureza; teve um corpo fluídico, como tomam os anjos (Espíritos puros) quando descem a nosso mundo.
E é assim que a Virgem não deixou de sê-lo depois do parto, sem necessidade de um milagre, coisa que Deus não pode fazer; porque se o fizesse, transgrediria Suas próprias leis, que são eternas e imutáveis.
Só o imperfeito pode retocar sua máquina!
Ouvimos, ainda, replicarem-nos: então, Jesus não tomou sobre seus ombros os pecados do mundo, não sofreu pela humanidade?
Dizei-nos qual é maior, o sofrimento físico ou o moral?
Se Jesus não teve corpo material para sofrer, teve os sofrimentos mais cruciantes do espírito. E quem nos diz que seu corpo fluídico não se prestava tanto, e porventura mais do que o corpo carnal, à transmissão das sensações materiais?
O que é fora de questão é que repugna à razão o fato de um Espírito divino tomar a carne dos pecadores, e que a concepção espírita de ser fluídico o corpo de Jesus, não somente fala à razão e remove aquela repugnância invencível, como ainda explica, de acordo com as leis naturais, todos os fenômenos da vida do Redentor, e principalmente sua concepção no ventre puríssimo de Maria. Santíssima e seu nascimento, sem que a Mãe deixasse de ser Virgem.
O que é fora de questão é que S. Paulo consagra a doutrina espírita neste ponto, quando diz: que há corpos celestes e corpos terrestres.
Que serão os corpos celestes senão os fluídicos?
*
S. Paulo fala de corpos celestes e de corpos terrestres, que revestem os Espíritos.
Não se pode atribuir-lhe o pensamento de qualificar como corpo celeste o períspirito, certamente distinto do corpo carnal ou terrestre, pois que períspirito tem o Espírito encarnado, como o tem o desencarnado.
Corpo celeste, em oposição a corpo terrestre ou carnal, não pode ser senão de natureza que o torna impossível de coexistir com este, fato que não se dá com o períspirito, indispensável até às relações entre a alma e o corpo do homem.
Além disto, o períspirito acompanha a evolução espiritual, sendo material, pesado e grosseiro, enquanto o Espírito não o é, e desmaterializando-se "pari passu" com este, até tornar-se quase Espírito, até sumir-se, quando o Espírito chega ao estado de completa desmaterialização, que se chama - de puro Espirito.
Ora, falando S. Paulo do corpo que envolve os Espíritos mais elevados: puros Espíritos são óbvios que não se referiu ao períspirito: vestimenta que só usa enquanto não chega aquele grau de elevação, no qual a despe de todo, reduzindo a essência espiritual às três entidades que a constituíram na terra: corpo, períspirito e Espírito.
Se não é, pois, ao períspirito que se refere o apóstolo da caridade, quando fala dos corpos celestes que revestem os Espíritos puros, a que se referirá ele?
A gênese, iluminada pela nova revelação, esparge a mais clara luz sobre este ponto da ciência, até agora envolto em brumas.
Deus criou um único elemento: matéria cósmica, fluido universal, a qual, evoluindo segundo as leis sábias, eternas e imutáveis, que foram postas, desde o princípio, à criação, dá de si tudo o que constitui o Universo, em todas as suas infinitas espécies e variedades.
É porque só apreciam esta evolução da natureza sem possuírem os instrumentos de penetrarem a causa primária criadora dessa natureza e das Ieis que a regem, que certos sábios acreditam que a natureza é a mãe universal, como de fato; e que é incriada - falso juízo que só tem por si as aparências.
Afirmam o que veem, e têm razão; negam, porém, o que não veem, e não têm razão; porque todos os dias descobrimos leis que não conhecíamos, e, portanto que não deviam existir, pois que antes não as víamos ou percebíamos.
O princípio de proceder tudo da natureza ou da matéria cósmica universal é verdadeiro, e nisto vamos com os materialistas; aquele, porém, de ser a natureza ou matéria cósmica universal existente independente de um criador é um erro, cujo fundamento é palpavelmente insubsistente e até ridículo: e que só é verdade, só existe o que vemos, apreciamos e compreendemos.
Não foi, porém, para discutir esta questão que tomamos a pena e, pois, entremos no nosso assunto.
O fluido universal, origem essencial de todos os seres do Universo, elemento integrante de toda a organização, substância componente de tudo o que existe, por sua condensação ou rarefação, que se der sob a ação das leis a que obedece a forma o reino mineral, o vegetal, o animal; forma os seres do mundo material e os do espiritual.
Compreende-se, pois, que por aquele mecanismo de condensação ele pode dar origem a seres como o Espírito e a seres menos essencializados que o Espírito, porém infinitamente mais que os corpos materiais.
Entre a rocha e a alma ou Espírito, os dois extremos da escala, uma variedade infinita das composições fluídicas.
Os Espíritos grosseiros e atrasados tiram do fluido universal seu revestimento, grosseiro como eles, a que chamamos corpo carnal.
Muito naturalmente os Espíritos mais desmaterializados, por seu progresso, tirarão um revestimento mais leve, mais desmaterializado como eles.
E os puros Espíritos tirarão um tão puro, tão vaporoso, tão essencializado como eles.
Isto é lógico, é racional e a experiência o comprova.
A tradição corrente em todos os povos, desde a mais remota antiguidade, consigna o fato de aparecimento dos mortos aos vivos, fato que nunca poderia dar-se, se o Espírito não vestiu um corpo visível.
A história sagrada refere inúmeros casos de anjos (puros Espíritos) baixarem a terra, para transmitirem a certos homens, justos, o pensamento do Senhor.
Poderão estes anjos revestir-se, para se fazerem visíveis, da mesma matéria que reveste as almas em suas aparições.
O meio donde tiram seus corpos instantâneos é o mesmo, é o fluido universal; mas a qualidade do fluido que escolhem é muito diferente.
As almas serve-se de seus períspiritos, mais ou menos grosseiros, substância colhida no meio comum, que elas condensam e tornam visíveis.
Os anjos, porém, que já não têm períspirito, por que são puros espíritos, precisam tomar, na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revista e os torne visíveis.
E como os Espíritos roubam àquela meia substância mais ou menos grosseira, mais ou menos essencializada, segundo seu grau de elevação nas vias do progresso, é óbvio que um Espírito angélico tira do fluido universal a sua mais pura essência; bem se pode dizer: a sua essência espiritual.
É a isto que S. Paulo chamou – corpo celeste - por oposição ao corpo que nos reveste, composto da mesma substância, mas não essencializado, espiritualizado.
De que é verdade o que aí fica exposto, temos a prova nas experiências de William Crookes, que obteve a materialização de um Espírito, ao ponto de tornar-se visível e tangível, tal qual uma pessoa vivente.
Estas agregações do fluido, para constituir um corpo visível, opera-se pela lei dos fluidos, que a ciência de nossos dias ainda ignora; mas que os fatos experimentais já recomendam ao estudo dos sábios, do mesmo modo como tem acontecido em todas as conquistas do saber humano.
Aqui, a ciência já é encaminhada pelas luzes que lhe dão as revelações espíritas.
Assim como o Espírito agrupa os elementos tirados do fluido universal e constitui com eles um corpo, assim, e sempre pelas mesmas leis fluídicas, ele desagrega aqueles elementos e dissolve instantaneamente o corpo fluídico; donde uma gravidez e um parto, com perda da virgindade, verdadeiramente aparente.
Max (pseudônimo do Dr. Bezerra de Menezes)
Reformador (FEB) Março 1974
("Espiritismo - Estudos Filosóficos", 1ª edição FEB, 1907, volume 3, págs. 349 a 358.).
Terça-feira, 8 de Novembro de 2011
Dentre tantos atributos essenciais da alma humana tais como livre-arbítrio, consciência de si mesma, inteligência, racionalidade, percepções, a vontade é, inquestionavelmente, um dos principais.O ser humano, embrutecido em suas origens, tem sido ajudado a caminhar na esteira do tempo por sua vontade. Das brumas do passado aos dias atuais aprendeu a discernir e poder alcançar o senso moral mas ainda hoje não conseguiu adaptar-se à observância das leis naturais. Caminha em largas passadas em inteligência, porém arrasta-se lentamente em moralidade. Transgride reincidentemente as normas divinas, notadamente o postulado universal do amor ao próximo descerrado ao Mundo pelo Divino Mestre. O cediço hábito de ferir é ainda frequente entre as pessoas.
Jesus desceu das luzes do infinito para viver entre os homens arrostando imperfeições, e aflições de toada ordem, sem jamais deixar de tolerar incompreensões, de socorrer, aliviar, curar e encaminhar as criaturas no meio das trevas mais densas do Planeta. Para implantar no solo da Terra a Sua Doutrina recomendou a seus discípulos: “Ide e pregai”.
Hoje, próxima do terceiro milênio da Era Cristã, a Humanidade necessita urgentemente assimilar as verdades da Doutrina Consoladora e Esclarecedora por Ele enviada para se libertar do erro, da ignorância, dos sofrimentos. Fincada definitivamente a bandeira do Espiritismo Cristão, incumbe a seus adeptos conscienciosos espalhar as luzes da sublime candeia da Nova Revelação sob o lema de Deus, Cristo e Caridade.
O Espiritismo é a senda da verdade, a luz que clareia a via do destino. As almas desviadas dos rumos do bem se entediarão de errar e sofrer e serão despertadas do longo letargo da ignorância e das maldades. Suas vontades as conduzirão aos pagos onde se edifica o bem. As que obram com Deus encontram o lenitivo para os sofrimentos, a medicação contra os males.
A sociedade humana exibe muitas chagas morais abomináveis: o egoísmo, a cobiça e ambição delirantes, as guerras, a violência de várias feições, o consumo e o mercado de drogas, vícios e desregramentos diversos, e tantas outras. A descrença em Deus, o desconhecimento de Suas leis fazem com que os portadores dessas nódoas ignorem que têm encontro marcado com a Soberana Justiça Divina.
Por outro lado, grande parte dos homens se esquece de que pequena parcela do supérfluo do que possui é suficiente para minorar a fome, amparar crianças órfãs e desvalidas, idosos desprotegidos e vítimas dos infortúnios. A dureza dos corações é, muitas vezes, o carrasco do erro e da injustiça. Bastaria que se unissem as vontades de socorrer, não com simples esmolas, mas com a ajuda efetiva ou seja, o desejo de cumprir o dever de fraternidade. A certeza da vida futura e a consciência de que somos irmãos, filhos do Pai eterno, sustentam os esforços nesse sentido.
Nossas ações devem estar voltadas para o futuro. Não devemos perder de vista em nenhuma delas que as suas consequências são inexoráveis. Passado, presente e futuro são sempre solidários. O porvir mais próximo ou mais distante nos reserva o efeito das nossas práticas de hoje, isso rigorosamente em decorrência do bem ou do mal que delas resultem, tudo de conformidade com as leis da Divina Providência.
A descrença na vida futura é uma das principais causas do egoísmo, do orgulho e das vicissitudes deles decorrentes. Quando as pessoas somente praticarem o bem não haverá necessidade dos resgates dolorosos. Numa sociedade fraterna em que todos se ajudarem mutuamente, todos serão venturosos. Isso não é utopia. A razão pura nos informa que é perfeitamente realizável. Para tanto o imprescindível é a evolução, a educação em sentido amplo a nos conduzirem às verdades da existência de Deus, da imortalidade da alma, das vidas sucessivas, das leis naturais.
Pelo progresso já feito verifica-se, sem dificuldade, que a evolução não tem termo. Fácil é, pois, entender que há mundos ditosos onde impera a fraternidade e a prática do bem é usual, sendo os sofrimentos limitados à transformação natural da matéria, excluídos, portanto, os resultantes da prática do mal.
Desde que se alcance a consciência da verdade, o desejo de progredir é a poderosa alavanca da evolução e quanto mais se oferece à vida mais ela devolve.
A expressão da vontade varia de um para outro indivíduo. Sendo manifestação da alma revela-se de acordo com o seu grau de adiantamento. Na erraticidade pode não ser a mesma a vontade do Espírito quando encarnado, podendo, também, ser superior às suas forças.
A vontade dos maus está costumeiramente voltada para a inveja, a cobiça, a vaidade, para as más tendências, valendo notar, contudo, que não há seres votados permanentemente ao mal, como entendem algumas crenças, o que atentaria contra a Justiça e a Sabedoria das leis naturais.
Submeter-se à vontade de Deus é o meio seguro de incrementar o progresso, vencer as provas e expiações. Devemos, pois, nos esforçar para aproximar da d’Ele a nossa vontade, já que essa comunhão de propósitos somente nos fará ditosos.
A Doutrina Espírita ensina também que a vontade do Espírito se modifica à medida que ele evolui, podendo apressar ou retardar o próprio progresso.
Bem ou mal dirigida, a vontade gera alegrias ou arrependimentos. Incumbe a cada criatura, portanto, esforçar-se para se aproximar das virtudes, absorvê-las e cultivá-las a fim de sentir a abençoada presença divina em sua vida. O amor, sumário de todas elas, é o agente e o poder capazes de construir e sustentar a vida, de fecundar e fertilizar a alma.
Muitas vezes as pessoas perdem o ânimo de viver por motivos e razões variados. Chegam mesmo a atentar contra a própria vida. Isso constitui afronta gravíssima às leis de Deus a proporcionar padecimentos futuros angustiosos.
Por outro lado, imenso contingente humano tem pavor da morte, quase sempre devido à descrença na vida futura. Santo Agostinho nos lembra que morremos todos os dias. A morte é, na realidade, a passagem para uma vida melhor sob o ponto de vista de que nos livra dos males da matéria. Contudo, não nos livra dos sofrimentos. Para o homem de bem a morte é ensejo de júbilo que o corpo físico não pode proporcionar. A morte é para os bons o encontro da paz enquanto que para os que se desviam do caminho do bem significa a entrada para o suplício.
As pessoas marginalizadas da sociedade, crianças, adolescentes e adultas, que vagueiam pelas vias públicas em grande número, espalhadas pelos recantos da imensa Nação Brasileira, compõem um quadro de penúria. Muitas, estiradas no chão da Pátria, sem teto e sem alimento, em situação degradante, inferior mesmo à dos animais irracionais. Estômagos vazios ulcerados pela carência de alimentação, pulmões minados pela fome, o corpo exibindo chagas. Já não se trata de pobreza aquela que acompanha o homem há milênios, mas de absoluta miséria. Todas as vistas devem voltar-se para essa realidade aviltante. Há necessidade urgente e imperiosa de enfrentar essa questão, fazer cessar a indiferença, pôr cobro em tal situação ou pelo menos minorar tal degradação.
Criam-se programas e impostos, destacam-se verbas para outras destinações, mas esse problema não tem sido solucionado nem mesmo considerado, não faz parte do sentimento das criaturas, não há vontade de resolvê-lo. Não se trata de retirar das ruas desocupados e mendigos para que não criem embaraços à vida e aos olhos dos transeuntes. Trata-se de encarar um realidade que atenta contra a dignidade da pessoa humana. É tema que diz respeito a todos, governantes e governados, religiosos ou não. A comunidade inteira tem obrigação irrecusável de dar solução a essa questão, venham de que fonte for os recursos necessários.
Queiram ou não os orgulhosos e os insensíveis, essas criaturas em infamante miséria são nossas irmãs e como tais devem ser consideradas e tratadas. Que se tribute com eqüidade a coletividade, até mesmo os próprios beneficiados, mas que encontre termo esse panorama desolador que envilece qualquer civilização.
Nem só de pão vive o homem. Entretanto, não se pode nem pensar em fazer discurso ou pregação de qualquer natureza ou procedência para os que têm permanentemente o estômago vazio e o corpo dilacerado pelos pedrouços da vida. É inelutável a necessidade de combate às causas profundas que dão origem a esses quadros tristes. Mas não há como esperar os resultados de outras medidas que possam ter repercussão sobre esses casos. O socorro e o amparo a essas criaturas devem ser urgentes. Quem não prestar colaboração nesse sentido está cometendo infração moral contra a Humanidade.
Neste momento não devemos levar em consideração se merecem ou não ser socorridas todas essas criaturas. Embora saibamos da existência das que preferem morrer na indigência a trabalhar, jamais devemos esquecer que também essas devem ser socorridas, eis que são portadoras de enfermidades da alma e que, por sua vez, serão um dia curadas. A distribuição da infalível justiça cabe às leis de Deus. A nós, filhos do Senhor da Vida, segundo as mesmas leis, incumbe a prática da caridade. .
Reformador Jan.99
Segunda-feira, 7 de Novembro de 2011
Passemos afinal ao ponto capital deste trabalho e que gira em redor do último termo em questão: dogma. Diga-se antes de tudo que ele se origina do verbo grego «dokein» (pensar), significando, na verdadeira acepção etimológica: pensamento, doutrina, convicção. Os antigos queriam significar com essa palavra unia firme resolução e uma decisão de autoridade, quer no campo da Ciência, quer no da vida do Estado. Neste Último sentido encontramo-la no bojo da própria Bíblia, como podemos verificar dos seguintes exemplos:
“Se bem parecer ao rei, decrete-se que sejam mortos, e nas próprias mãos dos que executarem a obra eu pesarei deles dez mil talentos de prata que entrem para os tesouros do rei” (Et. 3-9); “Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.” “Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito, e assina a escritura, para que não seja mudada, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar” (Dn. 2-13 e 6-8); “Naquele dia foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se” (Lc. 2-1); “Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que observassem, as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém.” “Aos quais Jasom hospedou. Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei” (At. 10-4 e 17-7); “Aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo novo homem, fazendo a paz” (Ef. 2-15); “Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl. 2-14); “Pela fé, Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era famosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei” (Hb. 11-23).
Ora, com o tempo a palavra foi ganhando sentido mais radical e acabou por traduzir o ponto fundamental e indiscutível duma doutrina religiosa e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema. Acabaria por significar, ainda, o conjunto das doutrinas fundamentais do Cristianismo, segundo proposta dos alexandrinos. Desde o quarto século, paulatinamente tem início a restrição do termo às doutrinas de fé. O dogma, assim, não há de ser palavra tão feia, tal como muita gente pensa. Até que é bastante inocente. Começa entretanto a assustar quando é adjetivada. Por exemplo: o dogma católico (“dogma catholicum”). Ganha então um significado Inteiramente novo e muito diferente daquele comum, não tanto pelo que exprima, mas pelas premissas que lhe antecedem a decretação. No caso especifico desse dogma temos então “uma verdade religiosa revelada sobrenaturalmente por Deus e, como tal, proposta a crer pela Igreja” (“Teologia Dogmática”, de Bernardo Bartmann, pág. 15 da 1ª edição brasileira). E enquanto o clero cuidasse apenas de propor realmente dogmas cristãos, extraídos do Evangelho, não seria tanto de se condenar sua atitude, senão apenasmente na parte em que margeia a Razão e interpreta a Boa-Nova a porta fechadas, a pretexto dum carismo que se arrogou arbitrariamente ou da pretensa assistência privilegiada do Espírito Santo. Por isso, com esse nome a Igreja passou a propor (antes, impor) uma série de tolices e absurdos, subproduto de concílios solenes e abusivos decretos papais. Vejamos um pouco mais o que o erudito Bernardo Bartmann ensina na sua “Teologia Dogmática”, à página 16 da edição citada:
“Visto que o dogma, tomado em sentido estrito exige a Revelação sobrenatural, segue-se daí que as verdades que a Igreja ensina, não hauridas porém naquela fonte, são dogmas impropriamente ditos.” Note-se que é um respeitável membro do clero que, honestamente, faz a afirmativa, contrariando, de certa forma, o normal comportamento da cúpula eclesiástica. Difícil se torna, contudo, convencê-la, a ela, a Igreja, de quanto se afasta, deliberada ou inocentemente, das fontes da Revelação na maioria, na grande maioria dos seus dogmas.
Confirmemos, de nossa parte, a imprescindibilidade de que o dogma, para ser autêntico, tenha de estar contido na Revelação. Nada há de repugnante, por exemplo, no dogma da existência de Deus. Os espíritas não podem rejeitar essa afirmativa e têm todos, igualmente, convicção dessa Verdade. Os que a não têm deixam automaticamente de ser espíritas, embora sua posição de forma alguma lhe obste a entrada no reino dos céus.
Há dois aspectos, entretanto, que já nesta altura não podem deixar de ser devidamente esclarecidos. O primeiro diz respeito à extensão da Revelação, em face da qual espíritas e católicos discordam. Enquanto estes consideram-na, estranhamente, encerrada com a morte de João Evangelista, o último dos apóstolos, aqueles, considerando as promessas do próprio Cristo, aceitam a sua complementação progressiva. Por isso, às vezes, nós, os espíritas, vamos buscar outros pontos de convicção naquela que é a Terceira Revelação e que, de resto, não contrariou sequer a primeira ou a segunda, mas apenas esclareceu-as melhor.
Lembramos aqui que foi a falsa convicção do farisaísmo nos seus dogmas que encegueceu os seus adeptos e impediu-os de raciocinar sobre as novas e progressivas verdades que Jesus trouxe ao mundo. No mais, essa história de afirmar (aliás, gratuitamente) que a Revelação se encerrou com o Novo Testamento deixa muito mal o Criador que, nessa hipótese, teria esquecido completamente todos os povos anteriores ao Cristo, permitindo que somente os que nasceram de sua época em diante (desde que se neguem as existências passadas e que o Espírito nasce uma só vez na Terra) viessem a ser premiados com o conhecimento de verdades maiores ou, antes, das verdades definitivas sobre tudo e sobre todos. A progressividade espírita da Revelação não conspurca assim o Criador, apresentando-O como um Ser realmente Sábio e Perfeito que vai permitindo às Suas criaturas aprender e evoluir, em todas as épocas, à medida que as Verdades Eternas lhes vão sendo reveladas.
Mas, mesmo que se quisesse — apenas para argumentar — raciocinar em torno tão-somente da Revelação Cristã, como a última trazida ao mundo, ainda assim os pontos de vista espíritas afloram muito mais natural e fluentemente do que aqueles que precisam de concílios para ser compreendidos e proclamados. E’ o caso da reencarnação.
O segundo aspecto que prometemos referir, além da extensão da Revelação, é o da aplicação da Razão à própria Revelação. E’ assim que, conforme já frisamos seguidamente, somos racionalistas, enquanto a Igreja faz aditar à Revelação a chamada Tradição (símbolos da fé, concílios, escritos dos padres, etc,) a fim de proclamar os seus dogmas. Daí a cautela da Santa Madre: “Há limites que a especulação não pode transpor sem perigo para o dogma” (“Teologia Dogmática”, página 113). A Igreja, como já vimos, não admite a aplicação da Razão aos dogmas que ela propõe, esquecida de que, nos concílios, é o puro racionalismo que em última análise orienta os debates e faz gerar as soluções decretadas. E se assim não fora teríamos o caos das idéias no seu mais amplo sentido.
O Espiritismo alia a Razão pura à Revelação, objetivando a proposição dos seus postulados. E como também reconhece alguns limites à especulação, faz assentar o seu exame das Verdades nos fatos que ela encerra, quer direta, quer indiretamente. E’ aqui que o Espiritismo se engrandece e torna suas convicções mais sensatas, mais sábias, mais lógicas e menos confutáveis. Deus existe, dogmatiza a Igreja, porque assim consta da Revelação, porque assim expressa a Tradição e porque assim o magistério “infalível” da Igreja o proclamou. Deus existe — afirma o Espiritismo — porque assim consta da Revelação, porque assim compreende a nossa Razão e porque assim os fatos o comprovam. “O Espiritismo — sentencia Kardec — não estabelece como princípio absoluto senão o que se acho evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação” (“A Gênese”, pág. 42 da 13ª edição da FEB) – “Que autoridade tem a revelação espírita — diz ainda o Mestre — uma vez que emana de seres de limitadas luzes e não infalíveis? A objeção seria ponderosa, se essa revelação consistisse apenas no ensino dos Espíritos, as deles exclusivamente a devêssemos receber e houvéssemos de aceitá-la de olhos fechados. Perde, porém, todo valor, desde que o homem concorre para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério, desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos” (“A Gênese”, págs. 44/45, da edição citada).
Quanto à Tradição, é óbvio que o Espiritismo também lhe empresta algum respeito, se considerada no sentido restrito do conjunto das verdades reveladas que os apóstolos pregaram sem as deixar escritas. Repele-a, entretanto, no sentido odioso que lhe empresta a Igreja, quando afirma: “Ao magistério infalível da Igreja cabe discernir, em última instância, quais tradições são de origem divina, quais de origem humana” (“Os Dogmas da Fé”, de João Pedro Junglas, pág. 51 da 3ª edição de “Vozes”) - Ou: “O critério pelo qual se reconhece a bíblia verdadeira, é a tradição apostólica que a Igreja sanciona pelo magistério infalível” (idem, ibidem pág. 51). Como vemos, há um “magistério infalível” (?!) que julga em última instância o valor da Tradição. Porque a sanção é só e exclusivamente da Igreja? Além do mais, à guisa de apor essa sanção, o clero passou, de repente, não apenas a sancionar os dogmas do Evangelho, mas a fazer também Revelação, autoridade para a qual, nem com muito boa vontade, conseguimos lobrigar na mensagem do Cristo. E’ certo que Jesus falou na descida do Espírito Santo, mas apenas para dizer que ele desceu sobre o colégio apostólico a fim de dar força e sabedoria aos pregadores da Boa-Nova e não para que fizesse qualquer Revelação. E, de fato, a própria Igreja não se considera com essa autoridade, pois “não compôs nenhum livro sagrado, porque não é, inspirada, mas sim interpreta os livros sagrados porque é assistida pelo “Espírito Santo”, como afirma Caussette. Não é mentira que São Bernardo escreveu uma vez que a Igreja, como Esposa do Cristo, tem o Espírito Santo e pode infundir um sentido novo no escrito. Contudo, reconheçamos que, de direito, a Igreja jamais se arrogou esta autoridade e a opinião de São Bernardo permanece uma voz isolada. Seu procedimento, entretanto, é paradoxalmente outro, pois mais não tem feito, na prática, do que agir conforme diz que não deve agir. Se reconhece que não tem a autoridade para fazer revelação, como pois nos vem inspirar dogmas como o da Santíssima Trindade, da infalibilidade Papal, da Ascensão db Nossa Senhora, do Purgatório, do Pecado Original, etc.? Não foi sem razão que Lutero acusou a Igreja de arrogar-se o poder absolutista sobre a Escritura: “Vangloriam-se de que o Papa e a sua Igreja estão acima da Sagrada Escritura. O Papa teria o poder de mudá-la, suprimi-la, proibi-la, interpretá-la a seu bel-prazer.”
O Espiritismo está pronto a aceitar todas as verdades contidas no Evangelho e, mesmo assim, depois de examinadas racionalmente. Perguntar-se-á, porém: mas, em que termos a Razão de que tanto falamos deverá ser aplicada? Qual o critério para esse exame? Que, espécie de Razão deverá servil de fiel de balança: a dos Espíritos ou a dos Concílios? Adolfo Bezerra de Menezes, o apóstolo do Espiritismo no Brasil, ensina-nos na sua obra “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica” (reeditada com o título de “Uma Carta de Bezerra de Menezes”): “Temos um critério infalível para o conhecimento da pura verdade. Temos esse critério nas perfeições infinitas do Criador. Tudo que as exaltar é pura verdade. Tudo que as rebaixar épura mentira. E, por esse critério, podemos verfifica.r quais os princípios de nossa religião que são verdades, quais os que são mentiras” (págs. 61/62 da 1ª edição da FEB).
O grande equívoco da Igreja não está em apontar dogmas, mas em apontar determinados dogmas que não constam da Revelação ou que são produtos de interpretações distorcidas, distanciadas da grandeza de Deus e capazes de rebaixá-Lo. E’ o caso do Inferno, com a crença em Satanás, um ser e uma imagem que, apresentados tão poderosos quanto o próprio Deus, conseguem até desafiá-Lo, diminuindo-O e desmerecendo-O portanto (aqui temos uma falsa interpretação evangélica). Ou, então, no caso da vida única, que minimiza o Criador, apresentando-O injusto com os que não quis gerar perfeitos física, intelectual e moralmente (aqui temos uma afirmativa que não existe na Revelação).
A própria Igreja chama “veritates catholicae” (verdades católicas) àquelas que não estão contidas na Revelação e que, portanto, não podem ser consideradas dogmas. As verdades católicas constituem apenas as “doctrinae ecclesiasticae” (doutrinas eclesiásticas), para distinguir das “doutrinas divinas” da Revelação. Contudo, a questão se revela facciosa por completo, quando verificamos que, apesar dessa doutrina, a Igreja apresenta como dogma exatamente o que se não acha nas Escrituras, contrariando portanto os seus próprios preceitos que, por isso mesmo, não passam de temas de fancaria. E’ o caso flagrante da infalibilidade papal. No mais, a Igreja cuida de defender sua posição de todos os modos, pois mesmo em relação às “verdades católicas” não esqueceu de garanti-las com a característica da infalibilidade. “Os concílios gozaram sempre o prestigio de uma autoridade infalível” — afirma Bernardo Bartmann à pág. 65 da sua “Teologia Dogmática”. Em última análise temos, destarte, a troca dos nomes apenas; os bois são sempre os mesmos.
Segundo o Espiritismo, todos são aptos à interpretação evangélica, desde que os resultados alcançados suportem a crítica da Razão, não repilam o bom-senso universal nem contrariem a verdade experimental dos fatos. E — frisemos bastante — a crítica da Razão (isto é, pela Razão) deve necessariamente engrandecer e exalçar Deus e nunca rebaixá-Lo!
Há ainda um outro ângulo a ser considerado na questão: o texto original da Revelação. O Concílio de Trento estabeleceu “que esta velha e divulgada versão (“vetus et vulgata editio”), provada pelo uso de tantos séculos na Igreja, nas leituras públicas, disputas, pregações, seja considerada como autêntica (“pro authentica habeatur”), e ninguém ouse ou presuma rejeitá-la a qualquer pretexto” (“Enchiridion Symbolorum et Definitionum”, página 785). A respeito, comenta Bartmann no seu trabalho teológico: “O elemento essencial da decisão conciliar deve-se procurar no sentido da palavra “autêntica”. Em si, não significa conformidade com o texto original da Bíblia, mas reconhecimento da parte da Igreja” (pág. 47, edição citada). Como vemos, a Igreja, além do mais, fechou definitivamente a questão em torno até mesmo do texto bíblico, em relação ao qual não admite nada que se lhe prove contrariamente ao que, da sua parte, já reconheceu como autêntico. Isto já é, queiram ou não queiram, colocar-se realmente acima da própria Revelação!
Dissequemos o problema do dogma com mais profundidade ainda. A teologia dogmática, que já analisamos em parágrafos anteriores, cumpre três deveres distintos: a) apresentar o dogma como é atualmente no ensino da Igreja, extraindo-o das chamadas fontes simbólicas; b) prová-lo com a Escritura e a Tradição; e) aprofundá-lo especulativamente, quanto possível.
Não é difícil verificar que o processo de apresentar, provar e aprofundar é sempre de natureza racional, a despeito da repulsa da Igreja ao sistema racionalista. Mas vamos adiante. Na apresentação do dogma, é recomendada a atenção aos seus próprios escritos. Na prova são aconselhadas “as normas científicas usadas hoje pela exegese e tantas vezes recomendadas pela Igreja” (“Introduzione allo Studio dei Dogma”, de Glorieux, edição Paulina de 1951). No aprofundamento é recomendada a fé como ponto de partida, além dum ângulo ou crivo filosófico que não seja outro senão o do aristotelismo escolástico, indicado nas encíclicas “Aeterni Patris”, de Leão XIII, de 1879, e “Humani Generis”, de Pio XII, de 1950. Repare-se que, na hora de “apresentar” o dogma, a grande fonte é sempre o ensino da própria Igreja e os chamados escritos simbólicos, também dessa mesma Igreja. Para isso ela impõe o uso duma linguagem teológica fixa, “pois se cada teólogo quisesse criar um vocabulário próprio, resultaria uma tremenda confusão” (“Enchiridion Symboiorum et Defínitionum”, págs. 159, 161, 442 e seguintes). Impõe ainda que se evite “a novidade profana de palavras” e, citando Santo Agostinho, obriga o uso “duma regra determinada para que o uso arbitrário dos termos não venha a criar uma opinião errônea sobre o que designam”. A isto chamam “apresentar o dogma na sua verdadeira realidade”. Como vemos desde logo, é praticamente dogmatizar antes mesmo de apresentar o próprio dogma. Repare-se em seguida que, na hora de “provar” o dogma, só tem valor a exegese católica, o que evidencia uma condição “a priori”, profundamente repugnante. A prova que não trilhe a norma da ciência católica, não serve nunca. Finalmente, repare-se que a especulação só se permite através duma determinada escola filosófica, qual seja, a do aristotelismo escolástico, o que seria o mesmo se nós, espíritas, propuséssemos: aceitaremos a doutrina católica, desde que nos convençam dos seus postulados através unicamente da escola filosófica dos materialistas ... Um beco sem saída. Além disso tudo, quando a fé é imposta como princípio diretivo da especulação, poder-se-ia certamente indagar: que fé? A fé cega, sem dúvida, tão sem valor e sem convicção interior. No mais, como seria possível a fé (apesar de cega) numa verdade que ainda vai ser proclamada pela teologia dogmática, depois daquelas três exigências? Afinal, é a Verdade que gera a fé ou a fé que gera a Verdade? Parece que estamos, agora, dentro dum círculo vicioso.
O processo espírita é muito diferente. E, antes de examiná-lo, leiamos rapidamente esse conceito de Léon Denis, contido em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, à pág. 30 da 8ª edição da FEB:
“Hoje, já não basta crer; quer-se saber. Nenhuma concepção filosófica tem probabilidade de triunfar, se não tiver por base uma demonstração que seja, ao mesmo tempo, lógica, matemática e positiva, e se, além disso, não a coroar uma sanção que satisfaça a todos os nossos instintos de justiça.” Um pouco antes, à pág. 28, lemos: “O novo espiritualismo dirige-se, pois, conjuntamente, aos sentidos e à inteligência. Experimental, quando estuda os fenômenos que lhe servem de base; racional, quando verifica os ensinamentos que deles derivam, e constitui um instrumento poderoso para a indagação da verdade, pois que pode servir simultaneamente em todos os domínios do conhecimento “ Em nota elucidativa ao pé da pág. 32, afirma: “Os fatos não têm valor sem a razão que os analisa e deles deduz a lei.” “Por conseguinte, o método que se impõe é: 1º) a observação dos fatos; 2º) a sua generalização e a investigação da lei; 3º) a indução racional que, além dos fenômenos fugitivos e mutáveis, percebe a causa permanente que a produz,” Assim — podemos agora repetir com ênfase — o método espírita tem a seu favor, no enunciado da Verdade, esse caminho novo e todo especial, embora muito simplista: a Razão e os Fatos experimentais, depois, obviamente, da Revelação. Nesse sentido é que o Espiritismo também tem seus dogmas, como aliás bem acentuou o nosso brilhante e estudioso confrade Carlos Imbassahy, no seu excelente trabalho intitulado “Religião”, quando diz, à pág. 156 da edição de 1952, da FEB: “Nem ao dogma, talvez, se fugisse, visto que, para o espiritista, a existência de Deus é ponto fundamental e indiscutível”. A esse método aliemos ainda o criticismo kantiano no seu aspecto mais extraordinário, do ponto de vista do conhecimento, qual seja o da impossibilidade de se conhecer toda a verdade através da razão. Isto pode parecer paradoxal, mas não o é. Vamos mais uma vez tentar explicar porquê. Lembremo-nos de que Kant admitiu, como necessário, não apenas Deus, mas também a existência e imortalidade do Espírito, embora não nos fosse possível apreender a essência dessas duas grandes verdades. Ora, não é isto exatamente o que nos ensina o Espiritismo ? Não é isto que consta, como já vimos, de “O Livro dos Espíritos”?
O próprio Kant acabaria sendo considerado paradoxal, se não fosse levada em conta, com bastante inteligência, a sua filosofia. Entre a “Crítica da Razão Pura” e a “Critica da Razão Prática” há um abismo para o estudioso desprevenido. No primeiro, Kant destrói a metafísica científica “para em seu lugar elevar-se a metafísica da fé. Do cristianismo da razão pura, passa Kant ao dogmatismo moral” (“Noções da História da Filosofia”, do padre Leonel Franca, pág. 178 da 12ª edição da AGIR). Após a publicação da “Crítica da Razão Pura”, Reinhold disse que a obra foi proclamada pelos dogmatistas como a tentativa dum céptico para abalar e certeza de todo o conhecimento; pelos cépticos, como um trabalho arrogante, presunçoso, visando a erigir nova forma de dogmatismo sobre as ruínas dos sistemas anteriores; pelos supernaturalistas, como um artifício habilmente maquinado para afastar os fundamentos históricos da Religião e estabelecer sem controvérsias o naturalismo; pelos naturalistas como um novo alento à agonizante filosofia da fé; pelos materialistas, como uma confutação idealista da realidade da matéria; pelos espiritualistas, come uma injustificável confinação da realidade do mundo corpóreo, escondido com o título de domínio de experiência.
Ora, se o kantismo é capaz de ser ao mesmo tempo criticista e dogmático, porque não o pode também o Espiritismo? Considere-se ainda que este além do mais, joga com fatores absolutamente estranhos ao kantismo e que facilita sobremodo e compreensão do aparente paradoxo. A Doutrina dos Espíritos envolve dois campos do conhecimento: o dos encarnados e o dos desencarnados, provando experimentalmente essa dupla posição da existência e do pensamento das criaturas. Isto facilita muitos problemas. O Espírito desencarnado pode conhecer, muitas vezes, algumas verdades a mais que na condição de encarnado, lhe estariam veladas à sua razão relativa. Aqui ele se sujeita ao criticismo, e do lado oposto da vida, falando-se em tese ele não está mais tão fortemente sujeito a esta condição. Admitido o intercâmbio entre os dois mundos, teremos então atingidas algumas verdades antes incognoscíveis na sua essência.
Voltemos agora ao raciocínio inicial. Por tudo isso, nada há de estranho na afirmativa de Kardec de que o Espiritismo tem alguns dogmas. Trata-se entretanto, de alguns poucos pontos fundamentais da Doutrina, contido. na Revelação Cristã, na Revelação kardecista e em outras, dignas de respeito como é o caso da “Revelação da Revelação”, de Roustaing. A Razão e a Lógica os sancionam. Os Fatos os comprovam. A universalidade dos estudiosos os atestam. Não há, pois, porque temer a palavra, se encaramo-la do ponto de vista que de fato encerra a sua etimologia: pensamento: convicção doutrina. Nenhum espírita pode negar a Deus. Nenhum espírita pode negar a comunicação entre vivos e mortos. Nenhum espírita pode negar a imortalidade da alma. São dogmas, porém, concluídos diferentemente da Igreja Católica, por tudo o que vimos expondo até aqui. Não são decretados por uma autoridade humana, por um concilio ou por uma reunião do bispado. Nem tão-pouco são votados por um grupo qualquer que, em assembléia fechada, decide pretensiosamente o que é ou não é verdade. O que se deve temer não é propriamente o termo dogma, mas, antes, o termo dogmática. “A Teologia Dogmática é a fonte por onde se passa do regime de liberdade para o de escravidão” disse com muita propriedade o Padre Alta no seu livro “O Cristianismo do Cristo e dos seus Vigários”, à pág. 814 da edição de 1951 da FEB. Através da dogmática é que surgem até hoje os dogmas mais absurdos da Igreja Católica. Com seu critério dogmático a Santa Madre impõe o Juízo Final, o Inferno, a Santíssima Trindade, a infalibilidade do Papa, e uma série imensa de outras ilogicidades. Através da dogmática a Igreja manietou a Razão, violentou as consciências e inventou um rosário de dogmas “católicos”. Com eles conspurcou o verdadeiro Cristianismo, enceguecendo-se ante as novas verdades que o Consolador Prometido trouxe à Humanidade e viciando-se na mentira e na simonia. Buscando aflita uma saída para sua incrível e insustentável posição filosófica, agarrou-se a uma moderna “interpretação progressiva” do dogma, preparando o caminho para uma fuga estratégica futura, mas, de qualquer forma, envencilhada num inextricável emaranhado que a esgotará paulatinamente e pouco a pouco lhe exaurirá até as últimas forças.
Este trabalho não deveria terminar aqui. Deveríamos aprofundar alguns dos muitos pontos necessariamente passíveis de maiores esclarecimentos; entretanto, essa tarefa não a comportam as páginas limitadas do “Reformador”. Apenas para rematar, reafirmemos esta breve sinopse de toda e matéria abordada:
1 — O Espiritismo se enquadra no dogmatismo filosófico moderado, por entender que a criatura, em determinadas circunstâncias, pode alcançar a Verdade absoluta. (Leia-se, a propósito, nosso artigo intitulado “Ao Encontro de Deus”, publicado em “Reformador” de Novembro de 1962.)
2 — O Espiritismo repele a teologia dogmática dos católicos por lhe negar os critérios de verdade que adota e o sistema aplicado na proclamação dos seus dogmas.
3 — O Espiritismo possui alguns poucos dogmas extraídos das Revelações Divinas, aceito porém pela Razão, quando esta não minimiza Deus nos Seus juízos e quando são confirmados experimentalmente pelos Fatos.
4 — O Espiritismo admite o criticismo transcendental kantiano, por conceber que há verdades impossíveis de, no estado atual dos encarnados (e às vezes, também dos desencarnados), serem assimiladas tais quais são, pela Razão limitada e relativa das criaturas.
Luciano dos Anjos
Fonte: Reformador – fevereiro, 1964
Domingo, 6 de Novembro de 2011
Impossível ignorar a existência do mal. Relatos de maldade e atos criminosos ocupam espaço na mídia escrita e falada, corriqueiramente.
O assunto faz parte de estudos médicos, psicológicos, filosóficos e literários, do passado e do presente. A Ciência admite, inclusive, a existência de componente genético para a maldade. O pensamento espírita, porém, é que
O mal não é intrínseco no indivíduo, não faz parte da natureza íntima do Espírito; é, antes, uma anomalia, como o são as enfermidades. O bem, tal como a saúde, é o estado natural, é a condição visceralmente inerente ao Espírito. Um corpo doente constitui um caso de desequilíbrio, precisamente como um Espírito transviado, rebelde, viciado, ou criminoso.1
Em termos médicos, maldade (do latim malus: mal) é o “desejo ou intenção de causar danos a alguém ou de verem outras pessoas sofrerem”.2 A psiquiatria considera a maldade como uma psicopatia que “não aparece de forma única e uniforme [pois], há graus variados”,3 afirma Ana Beatriz Barbosa Silva, professora brasileira de Psiquiatria e autora da instrutiva obra Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado (Rio de Janeiro, Objetiva, 2008). Em linguagem compreensível ao grande público, o livro estuda a maldade, segundo critérios médicos, mais precisamente da Psiquiatria, oferece ao leitor oportunos esclarecimentos, pontua conceitos, indica os avanços da Ciência e, ao final, apresenta um “manual de sobrevivência”, que ensina como a pessoa pode se prevenir de ações ou situações que envolvam a maldade.
A doutora Ana Beatriz ensina que, como psicopatia, a maldade é um “transtorno da personalidade que apresenta dois elementos causais fundamentais: uma disfunção neurobiológica e o conjunto de influências sociais e educativas recebidas ao longo da vida”.
³ Informa ainda que tais psicopatas são, em geral, indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais”, em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.4
A maldade apresenta gradações que, no ponto máximo, é denominado perversão pelos psicanalistas.
“Originada do latim perversione, a palavra designa o ato ou efeito de tornar-se mau, corromper, depravar ou desmoralizar. [...]. Da mesma raiz de perversão, deriva perversidade que quer dizer ‘índole ferina ou ruim’.”5
Para a Doutrina Espírita “Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes [...]. Os que são maus, assim se tornaram por sua vontade”.6 Neste contexto, a índole perversa ou as más tendências identificadas em certas pessoas refletem o somatório de ações infelizes, atentados contínuos à legislação divina, em razão do uso incorreto do livre-arbítrio, ao longo das reencarnações. Nestas condições instalam-se perturbações nos refolhos da alma que produzem desordens mentais, observáveis nas atitudes e comportamentos individuais, às vezes desde a mais tenra infância.
Se as manifestações de maldade não forem precocemente controladas ou tratadas, a pessoa pode se transformar em sócio pata, praticando atos classificados como crimes hediondos.
O Espírito André Luiz explica melhor a problemática:
[...] na retaguarda dos desequilíbrios mentais, sejam da ideação e da afetividade, da atenção e da memória, tanto quanto por trás de enfermidades psíquicas clássicas [...] permanecem as perturbações da individualidade transviada do caminho que as Leis Divinas lhe assinalam à evolução moral.
[...] Torturada por suas próprias ondas desorientadoras, a reagirem, incessantes, sobre os centros e mecanismos do corpo espiritual, cai a mente nas desarmonias e fixações consequentes e, porque o veículo de células extrafísicas que a serve, depois da morte, é extremamente influenciável, ambienta nas próprias forças os desequilíbrios que a senhoreiam, consolidando-se-lhe, desse modo, as inibições que, em futura existência, dominar-lhe-ão temporariamente a personalidade, sob a forma de fatores mórbidos, condicionando as disfunções de certos recursos do cérebro físico, por tempo indeterminado.7
O espírita consciente evita, a todo custo, praticar atos de maldade, mesmo os considerados “toleráveis” pela sociedade. Mantém-se atento aos próprios pensamentos e atos, a fim de não fazer vinculações mentais com entidades desarmonizadas, encarnadas ou desencarnadas. Compreende, enfim, que o processo obsessivo está na maioria das vezes associado às desarmonias espirituais, exacerbando-as. O Instrutor Barcelos, de acordo com os registros de André Luiz, orienta, a propósito:
[...] No círculo das recordações imprecisas, a se traduzirem por simpatia e antipatia, vemos a paisagem das obsessões transferida ao corpo carnal, onde, em obediência às lembranças vagas e inatas, os homens e as mulheres, jungidos uns aos outros pelos laços da consanguinidade ou dos compromissos morais, se transformam em perseguidores e verdugos inconscientes entre si. Os antagonismos domésticos, os temperamentos aparentemente irreconciliáveis, entre pais e filhos, esposos e esposas, parentes e irmãos, resultam dos choques sucessivos da subconsciência, conduzida a recapitulações retificadoras do pretérito distante. [...]8
Uma vez reveladas tendências para a prática do mal, na criança ou no jovem, pais e educadores devem somar esforços, buscando apoio profissional, médico e/ou psicológico. O auxílio espiritual, usual na casa espírita (prece, passe, irradiações, estudo etc.), é também imprescindível. O Instrutor Barcelos, anteriormente citado, orienta que como medida preventiva [...] Precisamos divulgar no mundo o conceito moralizador da personalidade congênita, em processo de melhoria gradativa, espalhando enunciados novos que atravessem a zona de raciocínios falíveis do homem e lhe penetrem o coração, restaurando-lhe a esperança no eterno futuro e revigorando-lhe o ser em suas bases essenciais. As noções reencarnacionistas renovarão a paisagem da vida da Crosta da Terra, conferindo à criatura não somente as armas com que deve guerrear os estados inferiores de si própria, mas também lhe fornecendo o remédio eficiente e salutar. [...]9
Reformador Junho2010
Referências:
1VINÍCIUS. Em torno do mestre. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. O criminoso e o crime, p. 97.
2THOMAS, Clayton (organizador). Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. São Paulo: Manole, 2000. p. 1070.
3SILVA, Ana Beatriz Barbosa. A essência da maldade. In: Revista Mente e Cérebro, ano 17, n. 202, p. 36. São Paulo: Duetto. Scientific American Brasil.
4______. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Cap. 2, p. 37.
5______. A essência da maldade. In: Revista Mente e Cérebro, ano 17, n. 202, p. 38. São Paulo: Duetto Scientific American Brasil.
6KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 121.
7XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, item Perturbações morais, p. 186-187.
8XAVIER, Francisco C. Obreiros da vida eterna. Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 2, p. 43.
9______. ______. p. 41.