Sábado, 31 de Dezembro de 2011

PROJETO DE VIDA


“O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas matérias”. Lacordaire (Constantina, 1863) O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. XVI, Item 14.

Materialismo é estado íntimo que estabelece a rotina mental da esmagadora maioria das mentes no plano físico, focando os interesses humanos, exclusivamente, naquilo que fere os cinco sentidos. Postura e noções culturais se desenvolvem a partir desse estado levando a criatura a adotar o mundo das sensações corporais como sendo a única realidade.
O materialismo tem como base afetiva o sentimento de segurança e bem estar, expresso comumente por vínculos de apegos e posse. Os reflexos mais conhecidos desses vínculos afetivos com a vida material são a dependência e o medo, respectivamente.
Em essência, o interesse central de todo materialista é tornar a vida uma permanência, manter para sempre o elo com todas as criações objetivas que lhe “pertençam”, sejam coisas ou pessoas. Contudo, a vida é regida pela lei da impermanência. Tudo é transformação e crescimento. Algumas palavras que asseguram uma linha moral condizente com essa lei são: maleabilidade, incerteza, relativização, diversidade, ecletismo, pluralismo, alteridade, desprendimento, fraternidade, amor.
A volta do homem à vida corporal tem por objetivo o seu melhoramento, o engrandecimento de seus conceitos ainda tão reduzidos pela ótica das ilusões terrenas. Compreender que é um binômio corpo alma, que tem um destino, a perfeição, e que a vida na Terra é um aprendizado são as lições que lhe permitiram romper com os estreitos limites da visão materialista. Semelhantes conquistas interiores exigem preparo e devotamento a fim de consolidarem-se como valores morais, capazes de leva-los a cultivar projetos enobrecedores com os quais possa, pouco a pouco, renovar seus hábitos de vida.
Muito esforço será pedido para o desenvolvimento dessas qualidades espirituais no coração humano.
Uma semana na Terra é composta de dez mil e oitenta minutos.
Tomando por base noventa minutos como o tempo habitual de uma atividade espiritual voltada para a aquisição de noções elevadas, e ainda levando em conta que raramente alguém ultrapassa o limite de duas ou três reuniões semanais, encontramos um coeficiente de no máximo duzentos e setenta minutos de preparo para implementação da renovação mental, ou seja, pouco menos de três por cento do volume de tempo de uma semana inteira. São nesses momentos que se angariam forças para interromper a rotina mental do homem comum. Por isso necessitamos tanto das tarefas espirituais para fixar valores, desenvolver novos hábitos e alimentar a mente de novas forças, tendo em vista a espiritualização a qual todos devemos buscar em favor da felicidade e da paz.
A superação da rotina materialista exige esforço, mas também metas, ideais, comprometimento.
Por isso a melhora espiritual não pode circunscrever-se a práticas religiosas ou a momentos de estudo e oração. Imperioso será assumirmos o compromisso de mudança e elevação conosco mesmo, se não tais iniciativas podem reduzir-se facilmente a experiências passageiras de adesão superficial, sem raízes profundas nas matrizes do sentimento.
A reforma íntima solicitar fazer de nossas vidas um projeto. Um projeto de cumplicidade e amor!
Projeto de vida é outro nome da “religião íntima”, a “religião da atitude”, do comprometimento. Sem isso, como esperar que a simples frequência aos serviços do bem, nas fileiras da caridade e da instrução, sejam suficientes para renovar a nossa personalidade construída em milênios de repetição no “amor” aos bens terrenos?
E um projeto de mudança espiritual não será tarefa infantil de traçar metas imediatistas de fácil alcance para causar-nos a sensação de que aprimoramos com rapidez, mas sim o resultado do esforço pessoal em sacrificar-se por ideais que motivem o nosso progresso e que, a um só tempo, constituam a segurança contra o desânimo e a invigilância. Ideais esses que se apresentam sempre à nossa caminhada como convites da Divina Providência para que possamos sair do “lugar comum” à maioria das criaturas. Razão pela qual sempre encontraremos obstáculos e pedregais nas sendas da renovação espiritual. Isso porque aquele que realmente se elevar não deixa de causar mudança no meio onde estagia, atraindo para si todas as reações favoráveis e desfavoráveis aos ideais de ascensão. Isso faz parte de todo processo de espiritualização. Não há como não haver reações que, por fim, porém, algumas vezes, ser sinais de que nos encontramos em boa direção...
Cumplicidade e comprometimento são as palavras de ordem no desafio do auto-burilamento.
Evitemos, assim, confundir a simples adesão a práticas doutrinárias ou ainda o acúmulo de cultura espiritual como sendo iluminação e adiantamento, quando nada mais são que estímulos valorosos para o crescimento. Lembremos que só terão valor real, na nossa libertação, se deles soubermos extrair a parte essencial que nos compete interiorizar no fortalecimento de nosso projeto de vida no bem.
Lacordaire é muito lúcido ao afirmar que destruímos as faculdades de amar quando as reduzimos aos bens materiais. O cultivo da paixão ao adiantamento espiritual é a solução para todos os problemas da humanidade terrena, e o único caminho para um mundo melhor. Quando aprendemos isso, verificamos que a existência, mesmo que salpicada de problemas e dores, tem luz e vida porque plantamos na intimidade a semente imperecível do idealismo superior, o qual ninguém pode nos roubar.
Ermance Dufaux
Livro: REFORMA ÍNTIMA SEM MARTÍRIO
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2011

PERÍSPIRITO E VESTES BRANCAS


Estudar o períspirito e conhecer suas propriedades e funções é uma das mais gratificantes atividades a que pode se dedicar o estudante espírita.
Sob o título “O períspirito descrito em 1805”, Allan Kardec publicou na Revista Espírita de janeiro de 1865 um relato do doutor Woetzel, que causou grande sensação no princípio daquele século.
Durante uma doença de sua mulher, o doutor Woetzel lhe pedira que, em caso de morte, lhe aparecesse em Espírito. Algumas semanas após o decesso, um vento pareceu soprar no quarto, embora estivesse fechado, e, “a despeito da fraca claridade que reinava, Woetzel viu a forma de sua mulher, a dizer-lhe em voz doce:
‘Charles, sou imortal; um dia nos reveremos’.
A mulher mostrou-se de vestido branco, com o mesmo aspecto que tinha antes de morrer”.
Numa segunda obra, o autor desenvolve sua teoria, segundo a qual a alma, depois da morte, seria envolvida por um corpo etéreo, luminoso, por meio do qual poderia tornar-se visível, e mesmo usar outras vestimentas por cima desse envoltório.
Comentando a passagem acima, Kardec observa que o conhecimento do corpo espiritual remonta a mais alta Antiguidade, e que só o nome períspirito é moderno. São Paulo o descreveu em sua primeira epístola aos Coríntios, capítulo 15.
Em outra edição da Revista Espírita, o Espírito Lamennais opina que faltam às palavras cor e forma para exprimir o períspirito e sua verdadeira natureza. Quanto aos Espíritos inferiores, acrescenta que os fluidos terrestres são inerentes a eles, são matéria; daí os sofrimentos da fome, do frio, que podem atormentá-los, sofrimentos que não atingem os Espíritos superiores, considerando-se que, no caso destes, os fluidos terrestres são depurados em torno de seu pensamento ou alma.
O períspirito é assim o corpo espiritual que sobrevive à morte do vaso físico e serve ao Espírito, entre outras funções, para se relacionar com os demais Espíritos e se manifestar, quando permitido por Deus, aos encarnados, através de sua visibilidade. É composto de fluidos, os quais são luminosos nos Espíritos superiores e opacos ou materializados nos inferiores.
Em outras obras da Codificação se estabelece que tanto o períspirito quanto o corpo físico têm origem no mesmo elemento primitivo (o fluido universal); que “ambos são matéria, ainda que em dois estados diferentes”. E que é com o auxílio dos fluidos que o períspirito toma a aparência de vestuários semelhantes aos que o Espírito usava quando encarnado.
André Luiz irá alertar-nos para as enfermidades da alma que se refletem na plasticidade do corpo espiritual, gerando o adoecimento do homem físico quando da somatização dessas mazelas ainda não debeladas. Dirá que o remorso desarticula as energias do corpo espiritual, criando disposições mórbidas para as enfermidades, refletidas na cromática da aura – essa túnica de forças eletromagnéticas –, e agravadas, às vezes, pelo assédio dos seres a quem ferimos (obsessão).
E que, mesmo quando perdoamos ou somos “perdoados pelas vítimas de nossa insânia, detemos conosco os resíduos mentais da culpa, qual depósito de lodo no fundo de calma piscina, e que, um dia, virão à tona de nossa existência, para a necessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene moral”.
Em suma: nem o perdão puro e simples é solução ideal para a extinção de nossos débitos. São necessário que sejam cumpridas as três etapas da liberação total do ser onerado perante a Lei Divina e em face da própria consciência: o arrependimento, a expiação e a reparação do mal infligido a outrem, como se vê em O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, no Código penal da vida futura (16o).
Em Mateus, capítulo 22, Jesus narra que o reino de Deus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Entrando, porém, o rei na festa das bodas, notou haver ali um homem que não trazia veste nupcial. Ordenou, então, que fosse atado de pés e mãos e lançado nas trevas, onde há choro e ranger de dentes.
Veste nupcial: esta é a chave para permanecer no banquete!
Por veste nupcial devemos entender veste ou vestidura branca, expressões citadas em outras passagens do Evangelho, principalmente do Apocalipse.
“O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas”, diz o Cristo (Ap., 3:5), após haver revelado, no verso anterior, que há, “em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras, e andarão de branco junto comigo, pois são dignas”.
As vestiduras, pois, são passíveis de manchar-se, mas a condição para portá-las sem qualquer mácula, resplandecentes e puras, e desfrutar o direito de conviver com o Divino Mestre, é ser um Vencedor... De suas próprias imperfeições.
No capítulo 7, versículos 9 a 15, do citado livro, visualizamos uma imensa multidão vestida de branco, proveniente de todas as nações, cantando um cântico de glória diante do trono de Deus. Um dos anciãos ali presentes tomou a palavra, perguntando:
Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Responde-lhe João Evangelista:
– Meu Senhor, tu o sabes.
Ele, então, acrescenta: São estes os que vieram da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário.
Entendendo-se por sangue do Cordeiro a sua Doutrina de amor e luz, o contexto revela que a vivência diuturna dos ensinos do Cristo é o detergente divino que tem o condão de purificar o homem de todas as suas mazelas, presentes e passadas, tornando alvisplendente o seu planejamento espiritual, de acordo com aquele princípio: o bem que se faz anula o mal que se fez.
Esta verdade se encontra confirmada de forma irrespondível nesta passagem:
Foi dado à esposa do Cordeiro vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos. (Ap., 19:7-8.)
Por esposa do Cordeiro simboliza-se a Cristandade no seu sentido mais universalista, indene de todos os divisionismos restricionistas humanos.
E santo é todo o que pratica esses atos de solidariedade, nascidos do coração, e em perfeita harmonia com as Leis de Deus, de que se encontram replenos os Evangelhos.
Dito isto, só resta aproximar os dois polos – períspirito e vestes brancas –, como o fez Emmanuel, e teremos aí um dos mais belos símbolos do Apocalipse perfeitamente esclarecido pela Nova Revelação:
O períspirito, quanto à forma somática, obedece a leis de gravidade, no plano a que se afina [escreve Emmanuel].
Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele se expressam fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos nos demoraremos nas esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando a nossa indumentária e embelezando-a, a fim de preparar, segundo o ensinamento de Jesus, a nossa veste nupcial para o banquete do serviço divino.
Quando o livro sagrado fala, portanto, em vestiduras brancas ou linho finíssimo, está se referindo ao corpo espiritual ou psicossoma completamente purificado, ou seja, transformado em veste nupcial, talar, apto a permitir a entrada, para sempre, na festa das bodas do Cordeiro a que se refere o Evangelho.
Reformador Janeiro 2009
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:03

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Quinta-feira, 29 de Dezembro de 2011

EM QUE PONTO DA EVOLUÇÃO NOS ENCONTRAMOS?


“Segundo a ideia falsíssima de que não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se acha dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiria muita perseverança para serem extirpados”. Hahnemann (Paris, 1863) O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. IX, Item 10.

O Espiritismo é a Resposta do Alto em favor da humanidade desnorteada.
Esclarece de onde viemos, para onde vamos e o que fazemos quando na vida terrena.
Sem dúvida, Doutrina Espírita é o facho de luz que faltava aos raciocínios do homem materialista. Contudo, a sua clareza mediana, para inúmeros adeptos, não ultrapassa a condição de princípios universais com pouca utilidade no encontro das respostas a tais questões, quando focadas no terreno da individualidade.
O que significa no imo da alma de cada uma dessas indagações acima mencionadas? Pergunte a um aprendiz espírita de larga vivência doutrinária se tem noções claras sobre a origem de sua reencarnação; indague-se, de outros, se conhecem os objetivos essenciais de suas metas reencarnatórias, ou ainda consulte-se sobre o que esperam para a depois do trespasse carnal! Quase sempre ouviremos respostas evasivas, próprias da infância espiritual que ainda assinala nossa caminhada rumo à maturidade.
De onde viemos, para onde vamos e a razão da vida no corpo quase sempre são apenas informações sem aprofundamento. Nem sempre conhecer os fundamentos filosóficos significa conscientização. Temos noções pessoais da espiritualidade, compete-nos agora construir o caminho pessoal de espiritualização, proceder à aquisição das vivências singulares, únicas e incomparáveis, estritamente individuais, a que somos chamados na linha do crescimento e da ascensão.
Conhecemos as bases filosóficas, falta-nos saber filosofar, aprender a pensar; tornamo-nos agentes transformadores de nossa história, isso é educação.
Discípulos sem conta, tomados de ilusão e personalismo, acreditam serem depositários de virtude e grandeza, tão somente, em razão de possuírem alguns “chavões espíritas” para todas as questões que tangenciam os problemas humanos.
Utilizando-se de reencarnação, mediunidade e todo o conjunto de fundamentos filosóficos postam-se como decifradores circunstanciais de enigmas da vida alheia, entretanto nem para si mesmos possuem suficiente esclarecimento na edificação da paz interior. Não aprofundam nos dramas íntimos que carregam em si próprios, sendo constrangidos em inúmeras ocasiões a desconfortável encontro com sua sombra, quando então são competidos pela dor e pela frustração, diante do labirinto de seus problemas, a pensar a repensar as suas lutas, aprofundando a sonda da razão nas causas ignoradas de suas relações e atitudes, pensamentos e emoções.
Renovação é trabalho lento e progressivo, muito embora avançado número de aprendizes espíritas assaltados por ilusões tem favorecido a morosidade ou o estacionamento em desfavor de si mesmos. Muitas crenças desprovidas de bom senso e vigilância, nascidas de raciocínios confusos, têm servido de obstáculo ao serviço transformar nas sendas doutrinárias. Uns querem caminhar mais rápido do que podem, outros desacreditam que podem superar a si mesmos. Esses últimos, porém, os que deixaram de acreditar em si mesmos, são aqueles que Hahnemann situa em sua fala: “Seguindo a ideia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados”.
Crenças enfermiças têm tomado conta da vida mental de muitas criaturas que se permitem acreditar não serem capazes de vencer-se.
É assim que ouvimos com frequência algumas expressões de derrotismo que traduzem a desesperança de muitos corações que, em tese, já decidiram por “servir a dois senhores” (01), conforme prédica evangélica. Frases como: “estou cansado da vida, não posso mais caminhar, preciso de um tempo!”, “não possuo qualidades suficientes para operar minha renovação!”, “quem sou eu para chegar a esse ponto de evolução!” “não dou conta dessas propostas, são muito exigentes!”, e outras tantas falas semelhantes que desfilam nas passarelas do desculpismo são os sinais evidentes daqueles que optaram ou estão prestes a optarem pelos caminhos largos da vida, renunciando à batalha pela conquista da porta estreita das escolhas vitoriosas.
Decerto, a nenhum de nós será pedido mais do que pudermos dar. Todavia, muita acomodação e descuido têm acontecido nas fileiras educativas do Espiritismo, tão somente porque os discípulos não têm se armado de suficiente humildade para reconhecerem consigo mesmos a natureza e extensão de suas imperfeições. Muitos, apesar do conhecimento, têm preferido os leitos confortáveis da ilusão acreditando se melhores do que realmente são. Sob o fascínio do orgulho, sentem vergonha, medo de se exporem e profunda tristeza por verem-se a braços com mazelas das quais já gostariam de terem superado, mas que ainda muito lhes agrada. E é esse clima de profundo desconforto consciência que a alma evolve. Premido pela tristeza das atitudes que já gostaria de se ver livre é que nasce o impulso para a transformação e o progresso. Contudo, é aqui também que muitos têm se entregado e desistido ante os apelos quase irresistíveis da atração para a queda.
Imprescindível elastecermos noções sobre o estágio em que nos encontramos, para administrar com mais sabedoria e equilíbrio o conflito que se instala em nosso íntimo entre o que devemos fazer o que queremos fazer e o que podemos fazer. Posições extremistas têm instaurado dores desnecessárias. Há homens e mulheres espíritas com vetustos instintos animalescos que querem ser anjos do “dia para a noite”, nos campos de sua espiritualização. Outros, por sua vez, são detentores de larga soma de conquistas, entretanto julgam-se incapacitados, aprisionados a chavões negativistas que os fazem sentirem-se vermes rastejantes nas fileiras da vida. O resultado inevitável dessas visões distorcidas é o martírio.
Portanto, ampliemos o raio de entendimento sobre o estágio em que nos encontramos. Para se chegar a algum lugar melhor, alcançar alguma meta maior; torna-se imperioso conscientizar sobre onde nos encontraremos na evolução. Sem saber onde estamos, caminharemos para lugar algum...
Levamos milhões de anos vividos na irracionalidade até alcançarmos a hominalidade. Como hominais avançamos na arte de pensar, mas nem por isso será justo, no conceito cósmico, dizemo-nos civilizados, conforme nos asseveram os Nobres Guias: “(...) não tereis verdadeiramente o direto de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” (02).
A esse respeito o senhor Allan Kardec interrogou a Sabedoria dos imortais:
“Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era, precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no período a que se poderia chamar ante-humano?”
“Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado”. Durante algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre arbítrio.
Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-los à vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire perfeita consciência de si mesmo”. (03)
Na questão em epígrafe consta: “Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-la à vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire perfeita consciência de si mesmo”. Imprescindível ao nosso aperfeiçoamento moral será saber em que estágio nos situamos a fim de não tropeçarmos em velhas ilusões de grandeza. Em verdade, apenas iniciamos o serviço de auto aprimoramento. O trajeto das poucas conquistas que amealhamos foi realizado, preponderantemente, na horizontalidade dos valores cognitivos. Somente agora damos os primeiros passos para a verticalização em direção às habilidades da consciência de si no terreno dos sentimentos. Precisamos constatar que nada mais somos, por enquanto, que criaturas que ensaiamos nossos primeiros passos para sair do “primitivismo moral”, rumo à humanização ou “hominização integral”.
Apesar de já peregrinarmos a milênios no reino hominal, ainda não nos fizemos legítimos proprietários da Herança Paternal a nós confiada. Não será impróprio dizer que somos “meio humanizados”...
Contudo, apesar dessa radiografia de nosso estágio evolutivo, existe muita vertigem provocada pelo orgulho em razão de nossa pouca competência em nos auto avaliar. Dentre elas, como aquela que se pode assinalar como sendo acentuadamente prejudicial aos ideais de transformação interior vamos encontrar o desejo infantil, que acompanha a muitos, de tomarem de assalto a angelitude instantânea.
Pois se mal deflagramos o labor de assumir a condição hominal, como agir como anjos?
Entre a angelitude e a hominalidade existe a semeadura fértil da humanização. Carecemos primeiramente nos consolidarmos como seres humanizados e descortinar todas as conquistas próprias dessa etapa para então, posteriormente, galgarmos novos patamares, naturalmente.
Desejando santificação, muitos aprendizes da Nova Revelação descuidam de pequenas lições educativas da ascensão passo a passo, vivendo uma “reforma idealizada” e não sentida. Como conceber almas educadas na mensagem da Boa Nova Espírita, pois, algumas vezes, a criatura afeiçoada às lições doutrinárias não é capaz de utilizar com responsabilidade e correção um banheiro higiênico no próprio lar?
O melhor e mais ajustado sentido para o trabalho interior de melhoria pode ser compreendido como a conquista da consciência de si, a aquisição do patrimônio da divindade que domina no imo de nós próprios, desde os primórdios da criação.
Menos do que vencer as sombras interiores, o desafio da reforma espiritual requer a capacidade de criar o bem em nós pela fixação dos valores novos. Mais que evitar o mal é necessário saber desenvolver habilidades eternas.
Reforma íntima é o serviço gradativo da instauração das virtudes celestiais, a aquisição da consciência desse tesouro, o qual todos somos convocados a tomar posse perante a lei natural do progresso.
O mal será transformado em bem através de seus opostos. O medo será renovado aprendendo a exercer coragem, a inveja sofrerá mutação pelo exercício da abnegação, a avareza será metamorfoseada à medida que nos habilitamos ao exercício do desprendimento, a irritação será convertida pela aquisição da serenidade.
Evitemos conceber mudança interior sob enfoque restrito de repressão.
Medo contido pode ser trauma para o futuro; inveja reprimida pode salientar-se como frustração somatizada; avareza apenas dominada pode caminhar para o desânimo; irritação somente controlada pode caminhar para a raiva.
Contenção é disciplina. Aquisição de novas qualidades é educação.
Disciplinar é meio, educação é a grande meta.
Estamos aprendendo a descobrir nossas sombras, essa é uma etapa do processo. Convém-nos, portanto, laborar pela outra etapa, não menos importante: a de aprender a fazer luz e construir a harmonia interior – eis um bom motivo para nos livrarmos do martírio.


Ermance Dufaux
Livro: REFORMA ÍNTIMA SEM MARTÍRIO


(01) O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec – Cap. XVI.
(02) O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec – Questão 793.
(03) Idem – Questão 609.
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 13:37

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Quarta-feira, 28 de Dezembro de 2011

ANO BOM


Achamos admirável a disposição de ânimo das criaturas que se saúdam à entrada de cada Novo Ano, augurando votos de felicidades umas às outras.
É ainda uma das belas praxes cultivadas pelo espírito humano, abstração feita ao caráter meramente protocolar que, em alguns casos, possa oferecer.
Isto ameniza um pouco as asperezas da trajetória terrena e dá novo alento ao trato social, que se reveste assim de mais beleza e atrativo.
Quem realiza semelhante prodígio de cordialidade e delicadeza nas manifestações dos sentimentos? quem responde por esse clima de amenidade de que nos damos conta dentro e fora dos ambientes domésticos? quem contribui, assim de maneira tão decisiva, para que as coisas, de um final de ano ao começo de outro, se mostrem abrandadas, cativantes, impregnadas de um quê de radiosidade envolvente e penetrativa?
E a resposta é - o Tempo, única e exclusivamente o Tempo - esse patrimônio comum de todos e denominador comum de renovação de tudo, tal como o entendia Padre Germano, que situava nele alcandoradas esperanças de grandiosas realizações e grandes realidades.
Quando empregamos as expressões “Ano Novo” e ”Ano Bom” para qualificar outro ciclo do Calendário, temos -,talvez, muita vez, sem o perceber - a ideia de que o Tempo é uma das maiores e mais exuberantes bênçãos com que o Criador nos felicita na experiência planetária.
Todo Ano poderá ser Bom, ainda que nossas impressões sejam em contrário.
Ele será bom, tanto quanto o desejarmos, não pelo que recebemos, mas pelo que dermos; não pelo que os outros nos fizerem, mas pelo que fizermos aos outros; não pelo que eles forem para nós, mas pelo que formos para eles, isto é, todo Ano Novo será necessariamente Ano Bom, se bons nossos pensamentos e atos, se boas nossas palavras e atitudes.
Manifestações de coisas ótimas são também novidades ótimas.
Transmissão de notícias alentadoras.
Anúncio de acontecimentos promissores.
Divulgação de mensagens salutares.
Surpresas agradáveis.
Lembranças carinhosas.
Impressões estimulativas.
Impulsos de cordialidade.
Expansões de sadio bom 'humor
Delicadas demonstrações de sentimento gratulatório.
Expressões de gentilezas.
Apresentação de maneiras discretas, distintas, corretas e nobres.
Tudo que possa contribuir para edificar e expandir o Bem, de que dermos autênticos testemunhos, serão como que parcelas de nós mesmos que se entranharão na Alma do Tempo, refletindo, nela, Luz e Bondade de nossa própria alma.
Tudo que, por nosso intermédio, caracterizar e definir o Belo caracterizará e definirá gemas e preciosidades do nosso relicário intimo, já por si mesmo embelezado.
Assim, se, ao término de um “Ano”, acharmos que ele não foi “Bom”, como esperávamos que o fosse e sempre esperamos que o seja, é que não realizamos o ideal da Bondade em nós mesmos.       
Não nos fazendo bons nem melhores, coisa alguma de bom e melhor poderemos amealhar na caixa forte de nossas riquezas e aquisições.
Não sabendo demonstrar valor diante das situações, estas se nos afigurarão adversas e madrastas.
Não revelando tolerância, faltar-nos-ão elementos para suportar e compreender os outros.
Não manifestando espírito de disciplina, as coisas mostrar-se-nos-ão tumultuadas e incontroláveis.  
Não demonstrando boa vontade, tudo nós parecerá penoso, difícil, estranho, anormal, anômalo, incompreensível.
Não nos esforçando por progredir, as maravilhas da Evolução manter-se-ão distantes e ausentes, ocultas e inapreensíveis, sem que possamos vê-las, senti-las e alcançá-las.
Não trabalhando com afinco, as melhorias de condições de vida retrair-se-ão ao nosso contato.
Não estudando com real aplicação, o Conhecimento e a Cultura permanecerão alheios à nossa presença.
Não nos dedicando ao fiel cumprimento dos nossos deveres humanos e espirituais, as verdadeiras alegrias e venturas da existência não darão acordo de si à passagem de nossos corações.
Não nos conduzindo bem, as boas coisas não se apresentarão em nosso caminho, nem se farão sentir em nós e por nós, estrada afora.
Conclusão: um Ano é Bom quando bons nos fazemos em todo o seu decurso, evidenciando a presença de Deus em nossas vidas.


Alberto Nogueira Gama
“Reformador” Janeiro 1970
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 04:55

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Terça-feira, 27 de Dezembro de 2011

POR QUE A TERRA NÃO SERÁ DESTRUÍDA EM 2012


O filme 2012 – O dia do juízo final, produzido em 2008 nos Estados Unidos, é na verdade mais uma tentativa de se criar uma onda de terrorismo psicológico através do suposto fim do mundo. Nessa onda, exploram-se sem fundamento as profecias relativas às transformações pelas quais a Terra está passando para ingressar em uma Nova Era.
Segundo um amigo, os produtores desse filme usaram as profecias Maias tentando “cristianizá-las”, mas esqueceram-se de que, quando tais profecias foram concebidas, aquele povo nem tinha ouvido falar de Jesus, muito menos pensava em acreditar em um único Deus. Como o ano 2000 já se foi, e não se pode mais explorar a falsa profecia da Bíblia – “de mil passarás, de dois mil não passarás” – agora surge um filme que procura reativar o tema catastrófico, embora não haja nenhuma citação a respeito nem no Velho nem no Novo Testamento.
A escolha da data Na verdade, a nova data para o mundo acabar, o dia 21 de dezembro de 2012, é apenas uma jogada de marketing para o lançamento do referido filme. Ela foi estabelecida no calendário Maia, um calendário que principia a contagem do tempo em 11 de agosto do ano 3114 a.C., ou seja, antes mesmo das datações arqueológicas dessa misteriosa civilização. De acordo com aquelas datações, os Maias floresceram entre 1800 a.C. e 1450 d.C., em um vasto território que inclui regiões das Américas Central e do Sul, onde as ruínas de suas cidades e pirâmides monumentais resistem ao tempo.
Os Maias são reconhecidos por seu avançado conhecimento de astronomia e pela precisão de seus diferentes calendários, como o calendário anual solar, com 365 dias, chamado Haab. Outro desses calendários, o de “longa contagem”, foi desenvolvido para computar extensos períodos de tempo ou ciclos, de 5.125 anos. Foi com base nesse calendário de longos ciclos que se estabeleceu a tradição da profecia Maia do fim dos tempos.
Ora, as profecias Maias, pelo visto, estão de acordo também com o que ensina a Doutrina Espírita a respeito não do fim físico do nosso planeta, mas do surgimento de uma Nova Era, quando a Terra passará, na escala dos mundos habitados, de Mundo de Expiações e Provas (segunda categoria), para Mundo de Regeneração (terceira categoria).
Já estamos em 2014 Porém, precisamos considerar que já estamos no ano 2014, de acordo com a revelação mediúnica transmitida por Chico Xavier, em 1937, posteriormente ratificada através de conceituados cientistas e teólogos, que se basearam nos estudos e pesquisas históricas relacionados a seguir:

1o) Quando Jesus nasceu numa obscura colônia do Império Romano, a Palestina, uma estreita faixa de terra no fundo do Mediterrâneo, o imperador romano era César Otávio Augusto. E no mundo de César, os anos eram contados pelo calendário romano. Assim, o ano 1 era o da fundação de Roma.
Os anos seguintes eram assinalados com a abreviatura A. U. C., da expressão “Ab Urbe Condita” (Desde a Fundação de Roma).
Somente no século VI, bem depois de Constantino (com o Edito de Milão no ano 313) conceder a liberdade de culto aos cristãos, é que foi estabelecido o calendário cristão. Foi então que, no ano 525, o monge Dionísio, o Pequeno, procurou estabelecer o ano da Era Cristã, em relação ao calendário romano “Ab Urbe Condita”.
E, por seus cálculos, fixou o ano da fundação de Roma como sendo 754 antes de Cristo.
Contudo, a revelação feita pelo Espírito Humberto de Campos, em 1935, por intermédio da psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo 15 do livro Crônicas de Além-Túmulo, editado pela FEB em 1937, registra o erro histórico cometido por aquele monge católico e sua devida correção, ao relatar o seguinte diálogo, travado no mundo espiritual, entre o Cristo e seu discípulo João, o Evangelista:
– João – disse-lhe o Mestre –, lembras-te do meu aparecimento na Terra?
– Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que, calculando no século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em 754.

2o) É importante frisar que a revelação, trazida por intermédio de Chico Xavier, foi confirmada posteriormente pelo historiador e professor de História Antiga no New College, de Oxford, Robin Lane Fox, que em seu livro Bíblia – Verdade e Ficção, lançado em 1993, confirma esse erro de cálculo da data de nascimento de Jesus, calcado em vários documentos da época e nos fatos narrados pelos evangelistas, fatos esses postos em aparente contradição na perspectiva fundamentada no calendário romano.

3o) Esse mesmo pensamento é defendido pelo professor Charles Perrot, do Instituto Católico de Paris, em entrevista à revista Le Point:
[...] segundo um amplo consenso de exegetas, o ano de nascimento de Jesus deveria situar-se um pouco antes da morte de Herodes, O Grande. Ora, segundo os dados numismáticos, astronômicos e, sobretudo textuais, Herodes deve ter morrido no dia 11 de abril do ano 4 a.C.
[...] O nascimento de Jesus terá sido provavelmente entre os anos 6 e 7 a.C. [...].

4o) Também o professor e padre John P. Meier, que leciona o Novo Testamento na Universidade Católica da América, em Washington, escreveu no The New York Times, no dia 21 de dezembro de 1986, que Cristo deve ter nascido por volta de 6 a 4 a.C.; e

5o) Em nosso país, o astrônomo Ronaldo Rogério Mourão de Freitas, do Observatório Nacional, divulgou no Jornal do Brasil de 4/1/1982 que Frei Dionísio, o Pequeno, em 525, encarregado pelo Papa de organizar o calendário cristão a partir da vinda de Jesus à Terra, arbitrou o ano de 754 da Era Romana para o seu nascimento. Mas, pelas pesquisas realizadas sobre o assunto, ele chegou à conclusão de que o aparecimento do Cristo em nosso mundo se deu no ano 749 da fundação de Roma.
A Nova Era Ora, diante de todas essas evidências, podemos concluir, sem margem de dúvida, que o ano 2012 já passou, ou seja, já estamos em pleno 2014 e a Terra não foi destruída, conforme a previsão divulgada de que o mundo acabaria no dia 21 de dezembro de 2012.
Convém ainda esclarecer que o termo “fim”, empregado nas palavras proféticas de Jesus – “Quando o Evangelho for pregado em toda a Terra, é então que chegará o fim” (Mateus, 24:14) – está relacionado com a ideia de tempo e não com a de espaço, exatamente a mesma ideia do calendário de longos ciclos dos Maias. Portanto, Jesus se referiu ao fim de uma Era, não ao fim do mundo físico. E isto é lógico, pois quando as criaturas humanas estiverem evangelizadas haverá o fim da violência, das lutas fratricidas, do narcotráfico, das balas perdidas, das seleções étnicas e de todo o mal que ainda perdura no coração do homem.
E convenhamos: seria racional Deus acabar com o nosso planeta, quando as criaturas humanas estivessem vivendo plenamente a mensagem do Evangelho? E se Deus é a Justiça Suprema, a destruição do mundo seria então o prêmio prometido por Jesus aos mansos e pacíficos, que ao longo dos séculos se esforçaram para implantar na Terra o seu reino de amor e de paz? É claro que não! Deus é Justo!
Reformador Janeiro de 2010
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 15:28

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Segunda-feira, 26 de Dezembro de 2011

NEUROSES


Os expressivos, alarmantes índices da neurose na Terra funcionam como um veemente apelo ao nosso discernimento, ao exame das causas e suas conseqüências, com maior vigor do que até o momento tem merecido de cada um de nós.
 Relegada aos gabinetes especializados e a homens, tecnicamente armados pelo sacerdócio da Medicina, a neurose vem colhendo, nas malhas da sua rede infeliz, surpreendentemente número de vítimas, ora avassalando o mundo civilizado e ameaçando a estabilidade da razão.
 Sociólogos conjeturam; psicólogos interrogam; teólogos meditam; psiquiatras, psicanalistas tentam penetrar-lhe as causas, e, não obstante a metodologia de que se serve para a segura diagnose e o eficaz tratamento, a onda neurótica, vencendo incautos e avisados cada vez mais se apresenta referta, avassalante e dominadora.
 Isto porque, no problema da neurose em suas raízes profundas, se há que considerar de imediato, o neurótico em si mesmo, não apenas, no aspecto de réprobo, antes como ser vital no concerto da comunidade em que se movimenta.
 Com etiologia complexa e profunda, essa enfermidade apirética vem merecendo cuidadosos estudos e debates, a fim de se localizarem os fatores que produzem as perturbações do sistema nervoso, em se considerando a falta de lesões anatômicas mais graves.
 Não obstante as divergências acadêmicas, Freud classificou-as em: verdadeiras, em que há desequilíbrios fisiológicos ao lado de perturbações meramente psicológicas, apesar de transitórias, e psiconeuroses, que são determinadas pelas “fixações da infância” em regressões inconscientes. No primeiro grupo estão situadas as neuroses de ansiedade, a neurastenia, a hipocondria e as de ascendência traumática... Na segunda classe aparecem as de ordem histérica ansiosa, conversiva, os perturbantes estados obsessivos e convulsivos.
 Em tal complexidade, surgem as neuroses mistas com mais grave quadro de manifestação.
 Influenciando os fenômenos somáticos, expressam-se, não raro, com sintomatologia estranha que desvia a atenção do médico e do paciente, graças à força das síndromes que, para o último, assumem um caráter real, por serem as “dores neuróticas” semelhantes às de as de ordem física. Surgem medos, paralisias, movimentos desconexos, distúrbios múltiplos...
 Alguns estudiosos da questão reportam-se, também, taxativos, aos fatores genéticos predisponentes; outros se apoiam nos impositivos da sociedade, com as suas altas cargas de tensão; alguns advertem sobre o tecnicismo desesperador; fala-se do resultado das poluições de vária ordem, todavia, a quase totalidade se esquece da problemática espiritual do alienado pela neurose.
 O neurótico é, antes, um espírito calceta, em inadiável processo purificador. Reencarnado para ressarcir ou recambiado à reencarnação por necessidade premente de esquecer delitos e logo repará-los.
 A sua psicosfera impõe, nos implementos orgânicos, distonias e desarmonias que se refletirão mais tarde em forma de alienação, como decorrência do seu estado interior, como espírito desajustado.
 É óbvio que o comportamento social, as frustrações infantis, as inseguranças da personalidade, as injunções de tempo e de lugar, os fatores familiares e de habitat, as constrições de ordem moral e econômica engendram, evidentemente, as desarticulações neuróticas, porque conseguem limitar as aspirações do espírito fraco, que não se consegue sobrepor a essas conjunturas, para os cometimentos normais.
 Ainda, nesse capítulo, se deve considerar que a neurose é um campo amplo e variado, tendo-se em vista a consciência do problema pelo paciente e a sua falta de forças para a superação.
 A par desses fatores ocorrem outros na esfera psicológica, quais os denominados “parasitose espiritual”, que se transformando em calamitoso processo obsessivo de longo curso, em face de a vítima do passado converter-se em cobrador do presente, como conseqüência dos delitos perpetrados pelo delinqüente, não são regularizados ante as soberanas Leis da Vida.
 Não se exteriorizam as síndromes da neurose no caso em tela, de início, senão quando ocorre a dominação obsessiva do hospedeiro sobre sua vítima.
 Indispensável que o olhar vigilante dos religiosos se volte para aqueles que padecem os primeiros sinais de distonia, norteando-os ao cultivo das disciplinas austeras e das virtudes cristãs, com que se armarão para uma libertação eficiente e real, terapêutica de resultado auspicioso para o reajustamento do espírito na vida orgânica e sua conseqüente experiência psíquica, diante do processo de auto reparação dos impositivos cármicos.
 As técnicas da análise, a terapia medicamentosa conseguem, não raro, enquanto favorecem o equilíbrio por um lado, danificar os tecidos mais sutis da organização psicológica, produzindo distonias de outra natureza que se irão manifestar de forma desastrosa no futuro, caso esses processos não recebam a contribuição espiritualista relevante.
 Por este motivo, faz-se mister que uma religião capaz de adentrar-se no âmago do ser, como ocorre com o Espiritismo, apresente recursos preventivos para a grande massa humana aturdida nestes dias. Entretanto, esses conceitos, verdadeiro compêndio de Higiene Mental, já foram lecionados por Jesus e estão exarados no “Sermão da Montanha”, ora ratificados pelos textos que Lhe recordam a existência entre nós, de que dão notícia os sobreviventes do túmulo e falam sobre a vida estuante do além.
 O neurótico é alguém rebelado contra si mesmo, insatisfeito no inconsciente e contra os outros revoltados.
 Instável faz-se agressivo; desajustado, permite-se sucumbir; atônito entrega-se ao desalinho psíquico; excitado, deixa-se desvairar pela violência. Disciplinado, porém, pela moral cristã, adquire recursos para o autocontrole que irá funcionar no seu aparelho nervoso com recursos que bloqueiam as reações do inconsciente, remanescentes das vidas passadas, impedindo que aquelas reações desorganizem as funções conscientes que arrojam no resvaladouro da neurose.
 Respeito ao dever, culto ao trabalho, edificação pelo pensamento, exercício de ações nobilitantes produzem no homem salutar metodologia de vida, que o impedem tombar, que o levantam da queda, que o sustentam na caminhada.
 Missão relevante está reservada ao Espiritismo: promover superior revolução social na Terra, modificando os conceitos ora vigentes sobre o homem - espírito eterno em viagem evolutiva -, fazendo ver que, no fundo de toda problemática que afeta a criatura, suas raízes estão no pretérito espiritual do próprio ser que volve ao ministério de reeducação, de ascensão, de dignidade pelo esforço pessoal que o credencia à paz, à plenitude.
 Conscientizar, responsabilizar, iluminar a mente humana, eis como apresentar-se eficiente método para estancar a avassaladora onda da neurose atual, que, encontrando vazia de reservas morais a criatura humana, cada vez se torna pior, transformando a vida moderna em pandemônio e o homem, consequentemente, em servo do desequilíbrio dominador, desditoso.

Carneiro Campos.
Texto extraído da obra Sementes de Vida Eterna, psicografia de Divaldo P. Franco, ditado por diversos Espíritos, 1ª ed., 1978, págs. 49 a 53. 
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 13:21

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Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011

O SENTIDO DO NATAL


Um homem deixou para fazer suas compras de Natal no último instante. Nas ruas o vai-e-vem da multidão apressada. Ele, entre esbarrões, comprando aqui e ali. De súbito, pula um moleque à sua frente pedindo, quase implorando para que ele comprasse duas canetas para ajudá-lo. Nervoso, ele manda o garoto sair da frente. Apressou o passo e só parou, quando percebeu que havia ganho certa distância do garoto.

Foi à loja de brinquedos e é mal atendido. A balconista, exausta e irritada, vende descortesias e ele prontamente deu o troco.

Ao voltar para casa, guiou o carro como se estivesse à frente de um exército inimigo, queixando-se sistematicamente de todos os que atravancavam o seu caminho.

Quando chegou enfim, mal-humorado, seu filho caçula recebeu-lhe com a ansiedade dos que aguardam uma notícia. A sala estava iluminada, em clima de festa. Sentindo a paz doméstica, recordou a sua vergonhosa performance naquela maratona de véspera de Natal. E observando a alegria de seu filho diante dos embrulhos coloridos, reviu arrependido a expressão tristonha da criança que tentou vender-lhe duas canetas. . .

Contou este fato a um amigo. Este, porém, disse-lhe:

- Meu amigo, você não entendeu o sentido do Natal. Esta comercialização é lamentável que, sob indução da propaganda, transforma o ato de presentear numa obrigação. Há quem se ofenda se não recebe algo dos familiares. É bom presentear, nos dá alegria. É sempre um gesto de carinho, uma manifestação de bem-querer. Mas, o ideal seria que não houvesse tempo certo para isso, tira muito a espontaneidade do gesto e a magia da dádiva. Porém, é sempre bom lembrar que nos reunimos para celebrar o nascimento de Jesus. E que Este, só renascerá, quando nos dispusermos a vivenciar integralmente sua mensagem. Portanto, amigo, vivencie o Natal amando ao próximo, fazendo aos outros o que gostaria que os outros lhe fizessem, porque tudo que fizermos ao menor de nossos irmãos, é ao "aniversariante" que estaremos fazendo. Este é o verdadeiro sentido do Natal. Mas lembre-se amigo, não espere o próximo Natal para consertar. . .

Envergonhado, o homem concordou com o amigo.

Muitos de nós nos comportamos como o homem da história. Por isso, na comemoração do nascimento de Jesus, que haja alegria, pois a lembrança do Cristo já é por si um estímulo espiritual a reflexões mais profundas; que se promovam festas na família, nas instituições ou nos ambientes de nossa convivência, mas que a alegria tenha um sentido mais elevado, não deixemos nos desvirtuar pelos desperdícios e pelos abusos que comprometem o corpo e o espírito. Procuremos “cristianizar” o Natal, ou seja, que as pessoas não se preocupem somente com a festa, com a comida, com os presentes, porque a festa não é do Papai Noel, é de Jesus. E quem deveria receber presentes é o aniversariante.

Então, perguntemos: “Que presente daremos à Jesus?”

Se ficarmos em dúvida, procuremos no Evangelho um pedido Dele para nós.
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:03

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Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011

NOITE FELIZ(?) !


O mundo prepara-se para mais um Natal. As ruas iluminam-se chamando atenção e as músicas típicas da época dão o tom da festividade. Ao centro, a conhecida figura do "Papai Noel", embalando sonhos e fantasias infantis mas, por outro lado, alimentando também interesses puramente mercantilistas.
As famílias já pensam nos brindes, presentes e festas. Economia para presentear melhor, vestuários renovados, casas reformadas, viagens e sonhos...
Esta nos parece uma realidade bem próxima e nos agrada divagar pelo brilho das luzes... afinal, o Natal é uma festa de alegria. No entanto, se nos afastarmos um pouco desta visão, procurando analisar de maneira mais cuidadosa, de forma mais crítica e real, lembraremos inevitavelmente dos que ainda não podem se quer sonhar...
O mundo ilumina suas ruas, mas há alguns lugares que continuam obscuros, talvez para esconder aqueles que excluímos da festa.
E, na escuridão, o crack, a cocaína, a cola continuam vitimando crianças e jovens que não sonham mais;
...na escuridão, meninas mal saídas da infância servem de objeto sexual nas mãos prostituídas de aparentes homens de bem. Na noite de natal, possivelmente, estarão embriagadas ou drogadas para suportar a exploração;
...na escuridão, homens disputam comida com ratos, cães e urubus nos lixões, perdendo sua humanidade a pouco e pouco. Estes talvez consigam comer melhor na noite de natal, aproveitando o desperdício dos banquetes que deixará o lixo mais "rico";
...na escuridão, guetos que separam negros de brancos continuarão infectos e nas favelas as comemorações acontecerão, talvez, em meio à dor de um assassinato ou de um estupro;
...na escuridão doentes se amontoarão em corredores de hospitais públicos, crianças, mães e famílias inteiras estarão morrendo por causa de fome, por falta de vacina, de saneamento básico e de noções mínimas de higiene em recantos tristonhos das terras africanas, brasileiras e asiáticas;
...na escuridão, pais desempregados sequer podem pensar em presentes e entre lágrimas que cortam a alma, abandonam seus filhinhos em orfanatos, para que sobrevivam;
...na escuridão, cortando o ruído das ruas e dos bailes, serão ouvidos ‘gritos silenciosos’ de seres humanos expulsos dos ventres de suas mães que, inconscientes e equivocadas, tentam fugir de suas responsabilidades pelo caminho do aborto criminoso;
...na escuridão do sertão, nem o luar de lá consegue iluminar a dor da sede e da fome de famílias inteiras condenadas a beber lama e comer lagartos, enquanto bois e cabritos serão mortos para as festas dos fazendeiros donos das terras e dos açudes;
...na escuridão sob as marquises, velho morrerão de frio e crianças serão assassinadas por criminosos fardados;
...na escuridão, toda escuridão aparece...
E lá fora, sob o esplendor das luzes, estouram os ‘champanhes’ nas mesas corrompidas pela falta de ética e humanidade na política. Os escândalos e as fraudes são esquecidos sob o borbulhar da bebida e os detentores dos "podres poderes" da Terra seguem cegos e descompromissados com o povo;
A sociedade egoísta distribui cestas e brinquedos com os ‘pobrezinhos’ para tentar aliviar o fogo que lhes queima a consciência e falam em solidariedade como se fosse uma jóia a mais que pudessem expor pendurada no pescoço.
Perdoem-me se pareço duro demais. Muito mais dura, no entanto, é a realidade enfrentada por milhares, milhões de irmãos nossos espalhados pelo planeta inteiro. Lembrando-se deles, estamos lembrando-se daquele que é o motivo das comemorações natalinas. Aquele que em sábias palavras afirmou que tudo que fosse feito a um desses pequeninos seria feito a Ele próprio indiretamente. Ele que soube ser solidário de maneira plena, sem se corromper pela vaidade e pelo aplauso, foi muito além da esmola dada em uma noite. Investiu sua vida e sua morte para a transformação da sociedade. Lutou contra os preconceitos, convivendo com a "escória" sem falsos pudores e valorizou o ser humano como ninguém fez antes ou depois dele.
Vale a pena nos perguntar: então, por que Ele veio? Qual a razão histórica de sua vida? O que constituiu o objeto de suas atenções e qual o objetivo de todo seu esforço? Certamente que Ele não veio para aprofundar a diferença entre os homens, nem para manter os preconceitos e o egoísmo que têm gerado toda miséria no mundo. Sua vinda visava a educação plena do homem, estimulando a transformação do homo sapiens – lobo do próprio homem – no homo sapiens solidarius que não é só intelecto e começa a descobrir que não pode ser feliz sozinho; que se completa no bem do outro e que plenifica-se no amor ao próximo sem conotação sacramental, mas com sentido prático e efetivo. É o amor experienciado, vivido, que não se coaduna com o comodismo e a indiferença, e foge dos discursos vazios.
Jesus, talvez ainda seja o ilustre esquecido do Natal rico e mercantil dos "papais noéis marqueteiros" e nós, certamente, os grandes omissos desta triste e contraditória realidade. Não tenho a menor dúvida que enquanto comemos perus e distribuímos presentes, Ele deve estar muito, muito ocupado com os que foram excluídos de um FELIZ NATAL!
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 23:02

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Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011

A CEIA DE NATAL


O sol começou a dar sinais do amor de Deus ao romper a noite e você já se levantou. Finalmente chegou o dia, a véspera de Natal. Desceu, sentindo o cheiro de café na cozinha. Sua mãe já estava cantarolando as músicas simples de fim de ano, como sempre.
 Sorriu para você e comentou:
--- Levantei mais cedo hoje, temos muito a fazer. Logo seus tios e tias estarão batendo a porta, porque a gente pensa que não, mas não demora muito já é noite. Em breve, estaremos reunidos para a ceia de Natal.
 Você beija-lhe a face e senta-se a mesa, respondendo:
--- Nossa, tem tanta gente que só vejo no Natal. Tantas coisas que aconteceram ao longo destes anos. Antigamente era eu a criança a solicitar os brinquedos, hoje presenteio meus filhos, hoje conto as histórias que já foram minhas histórias preferidas, hoje ensino a eles a tradição do Natal.
 Sua mãe, também se sentando a mesa com um pão quentinho nas mãos responde:
--- Esta é a melhor parte. Adoro a tradição do Natal. Família toda reunida, ceia de Natal, oração a meia-noite, abraços, amigo secreto, as histórias, o ano que vai terminando. Ah, finalmente é Natal... Você sabe que só encontro sua tia Cecília no Natal, e vem todo mundo para cá. Espero que esta tradição se mantenha na família, tem coisas que o mundo de hoje perdeu, e o Natal não pode ser uma delas.
 Após mais de uma hora de conversa, você resolveu dar início as preparações do dia. As músicas de Natal ecoavam pela casa e a árvore estava montada. Um a um, você foi colocando os presentes embaixo da árvore. Logo a campainha começou a tocar e os convidados foram chegando devagarzinho, um a um ou famílias inteiras. Abraços, sorrisos, crianças, a tarde foi chegando, conversas por toda a casa, travessas com diversos pratos, cada convidado trouxe um, era o espírito familiar.
 A noite chegou, a mesa foi sendo montada, risadas e contos sem fim, sorrisos, uma criança que chora às vezes, um pai que levanta mais a voz, uma mãe que assume a dificuldade, alguém que esqueceu o presente do amigo secreto, outro alguém que chega com as flores, alguém providencia os pratos, uma tia que traz os talheres, e as melhores roupas, e crianças no colo, e pais abraçam filhos, netos que declaram amor aos avós - é Natal!
 Como era tradição em sua casa, ceia mesmo somente a meia-noite, mas um bolo com chá antes e um lanche para as crianças sempre ia bem, assim, ninguém estaria morrendo de fome ao sentar a mesa.
 O relógio batia 23:55 horas quando sua mãe reuniu a todos na mesa. Era a hora da prece. Meia-noite em ponto todos silenciaram e foi a voz da matrona que ecoou pela sala:
--- Senhor, Mestre Jesus, aqui estamos reunidos nesta noite para comemorar Teu aniversário. Que suas bênçãos nos envolvam e sua presença nos traga misericórdia e paz. Obrigado Jesus por este ano, obrigado pelo Evangelho. Obrigado pela mesa farta, pela família reunida, por teu nascimento. Ah Mestre, quantos infelizes não têm a mesma sorte que nós, que tuas bênçãos não lhes falte também. Assim seja.
 Você então se levantou e com o coração cheio de alegria desejou a todos:
--- FELIZ NATAL!
 Todos se levantaram já se abraçando e saldaram:
--- FELIZ NATAL!
 Então a campainha tocou. Você estranhou, mas pensou que pudesse ser algum vizinho. Dirigindo-se a porta, a abriu. Um homem de olhos profundos, cabelos na altura do ombro, trajes a nazarena, estendeu as mãos e pegou as suas, dizendo:
--- Vim porque me chamastes. Solicitastes a pouco minhas bênçãos e minha misericórdia e paz.
 Seu coração disparou. Não podia ser, meu Deus... Sem conter a emoção, você balbuciou com insegurança, ajoelhando-se:
--- Jesus!...
 Sua mãe, ao lhe ouvir, dirigiu-se até a porta e ao te ver, olhou para o homem. Seu olhar encontrou o de Jesus e ela caiu de joelhos. Era o Mestre, era Jesus em sua casa...
 Com imenso amor, o Mestre caminhou solícito, ajudando todos que se ajoelharam a levantarem-se. Uma luz e um perfume indescritível invadiram o ambiente. Após a emoção inicial você convidou:
--- Mestre, sente-se a mesa conosco.
 Jesus então se aproximou da mesa, tocou de leve a toalha, seus olhos encheram-se de lágrimas e uma indescritível tristeza substituiu a vibração do ambiente.
 Você, em choque ao ver Jesus chorar, disse:
--- Mestre, por que está chorando? Viu alguma coisa triste, sentiu a aflição de alguém que não está aqui?
 Jesus, com uma tristeza profunda no olhar respondeu:
--- Não posso sentar a mesa convosco.
 Você, sem saber o que fazer, perguntou:
--- Por quê?
 Jesus, olhando em seus olhos, respondeu:
--- Porque em sua mesa estão as minhas criancinhas do coração. Jaz em sua toalha de Natal os corpos daqueles que escolhi para que me vissem primeiro em minha chegada a Terra. Na mesa em que reuniu sua família para comemorar meu aniversário cintila a dor, o sofrimento, o sangue, a infelicidade, a aflição daqueles que, esperando do homem o mais sublime amor, receberam, como Eu recebi, a ingratidão, a condenação, a miséria. Em sua mesa está a falta de amor ao próximo, a falta de compaixão e piedade, a falta de Evangelho. Enviei-te os animais para que os ensinasse o amparo do homem, e o que fizestes dos pequenos que te enviei? Confiei a você as almas tenras que transitam rumo à humanidade, e como foi que tratastes os animais? Acreditas mesmo que estás de acordo com as lições que te exemplifiquei? Achas que Deus, nosso Pai, criou os animais para vos servir? Se assim o fosse, meu filho, porque viria Eu para servir a vós? Até quando acreditarás que estás acima do mundo? Quando acordarás para teu papel de irmão mais velho? Por quanto tempo vos chorarei?
 Com imensa vergonha e dor, você, como todos, não teve coragem mais de olhar nos olhos de Jesus. O Mestre continuou:
--- O reino dos céus que prometi aproxima-se, mas para tanto, é preciso que aprendas a mais importante lição que deixei: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
 Em silêncio, Jesus deixou a casa, suas lágrimas derramadas sobre mesa transformaram-se em sangue. Você olhou a mesa e ecoou dentro de seu coração a voz profunda, mansa, mas triste de Jesus:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei... te enviei os animais para que os ensinasse o amparo do homem, e o que fizestes dos pequenos que te enviei? Por quanto tempo vos chorarei?”
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Terça-feira, 20 de Dezembro de 2011

OS MISTÉRIOS DESVENDADOS


As igrejas jamais explicou coisa alguma relativamente à origem das almas. Entretanto, os teólogos são quase todos acordes em afirmar esta proposição: “sempre que uma mulher concebe, Deus cria uma alma e a infunde no ventre da genitora da habitar o corpo do filho”. Mas, semelhante proposição esbarra em dificuldades irremovíveis.
Ou Deus não existe ou infinitamente justo. Ora, se é infinitamente justo e se as almas chegam a Terra logo depois de saírem novas em folhas das suas mãos, como se há de explicar a escandalosa desigualdade das nossas condições terrenas? Porque será que aquele homem veio ao mundo com um corpo robusto e sadio, ao passo que seu irmão nasceu enfezado e disforme? Porque nasceu este num palácio e o outro numa pocilga?  Porque razão um encantadora francesa e não uma horrenda crioula? Poderiam multiplicar-se ao infinito estas interrogações, a que a Teologia não encontra meio de responder senão com as seguintes luminosas palavras: “DEUS ASSIM O QUIS”.
Mas a desigualdade das condições nada é em face da das próprias almas. Explicai-me porque denotam elas, desde as mais tenra idade, aptidões e pendores tão diversos independentemente de toda a educação. Na imensa coletividade humana, dois Espíritos talvez não haja que se assemelham. Aqui estão dois meninos nascidos dos mesmos pais e submetidos às mesmas influências. Um, se bem que muito estudioso, conserva-se sempre medíocre, ao passo que o irmão, embora pouco aplicado, conquista todos os prêmios. Um depenará vivo o pássaro que lhe cair nas mãos, enquanto  o outro não poderá ver, sem que as lágrimas lhe brotem,  castigar um animal. Um se mostrara egoísta  ao ponto de tudo querer para si; o outro se revelará generoso ao ponto de nada para si guardar. O primeiro parece “demoninho”, o segundo um “anjo”.
Porque tal contraste? Dever-se-á imputar ao organismo esta diferença? Mas, então cairemos no grosseiro sistema dos materialistas. Será cabível dá-la como resultado de uma “predestinação” arbitraria? Nesse caso, já não haverá como rebater a blasfêmia do ímpio: “DEUS NÃO É JUSTO”.
Referindo-se aos dois filhos de Rebeca, assim se exprime o apóstolo Paulo: “Quando ainda não tinham nascido e nada haviam feito de bem ou de mal, foi-lhes dito, não segundo as suas obras, mas segundo aquele que os chamava: o mais velho servirá ao mais moço, conforme está escrito: Amei a Jacó e tive aversão a Esaú.”
Ora, se, quando ainda no ventre materno, uma daquelas almas inspirou amor e a outra aversão, é que Deus não acabara de criá-las naquele instante, porquanto Deus só cria o que Ele ama e não o que Ele detesta. O próprio Satanás (se existisse), segundo a Teologia, foi criado por amor.
Admita-se a preexistência das almas e todos os mistérios se desvendam. As desigualdades provêm do fato de já as almas terem vivido, tirando umas vida mais proveito do que as outras e adiantando-se mais; ficando outras atrasadas na senda do aperfeiçoamento. Jacob representa as primeiras e Esaú as demais.
Santo Agostinho propôs a S. Jerônimo um sério problema nestes termos: “Quando a mim, mesmo me interpelo sobre os sofrimentos das crianças, vejo-me em grandes angústias e não sei que responder. Não falo unicamente das penas que, depois desta vida, acarreta às crianças a condenação em que elas necessariamente incorrem se deixaram sem o sacramento do Cristo. Falo das que, mesmo nesta vida, por entre os nosso lamentos, sofrem as nossas vistas. Torna-se preciso demonstrar como podem estar sujeitas, com justiça, a tais sofrimentos, sem que lhes hajam elas dado causa, visto não ser lícito dizer-lhe que semelhante coisas sem que Deus o saiba, nem que impossível se a Deus resistir aos que as fazem, nem tampouco que Deus as pode fazer ou permitir, não sendo justas”.
Aquele que vê uma criança a torcer-se nas garras da dor compreende a aflição do santo bispo de Hipona e seu imenso enleio. Qual não será, entretanto, esse enleio, quando o problema é o dos milhares e milhares de crianças que morrem logo após os primeiros vagidos, ou os primeiros sorrisos? Que vieram fazer neste mundo inferior e o que será feito delas algures? A Teologia responde que tais crianças apareceram na Terra para ganhar céu, mediante o batismo, ou para ser sepultadas nos limbos, se morrerem sem este sacramento. Mas, porque semelhante diversidade entre os destinos eternos dessas criaturinhas, sem que nada tenham realizado para merecê-los? Sobretudo, como admitir-se que o destino possa depender da paixão de duas criaturas culpadas?
Eis que se prepara a maior manifestação do Criador, a produção de uma alma, isto é, de uma potência destinada a seu serviço, ao seu amor, à sua glória, de uma potencia premeditada em sua sabedoria pelas ações infinitas da imortalidade, numa palavra: sua própria imagem, e quem Lhe indicará, à vontade, o momento de tirar do nada essa magnifica obra? Coisa inaudita! Baixeza d’alma e, não sei se figa, embora repelindo-a, baixeza do Criador seria libertino, num acesso lúbrico, ultrajando pelo estupro ou pelo adultério todas as leis do céu e da Terra, fizesse um infame sinal àquele cujo olhar perscruta e a onipotência, decidindo-se a criar, desse o ser à alma infeliz que terá de acompanhar o fruto do deboche! Não, jamais concordarei em que o milagre da aparição de uma nova alma no seio do Universo possa decorrer de uma adição dessa espécie.
A nossa doutrina, poupa tais revoltas à consciência e à razão. Para nós, uma criança que sofre é um Espírito encarnado a expiar faltas cometidas em anterior existência. Uma criança que vem ao mundo, ainda por efeito de um crime, é um Espírito criado desde muito tempo, que tenta o desempenho de nova tarefa e sofre nova prova. Uma criança que morre é um Espírito cujo  envoltório se destrói e que procurara outro, seja aqui, seja alhures, depois de ter sido para seus pais motivo de conquista de novos méritos, pelas aflições que lhes causou.
Trecho do Livro “O Espírito Consolador”
Padre V. Marchal.
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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