Terça-feira, 31 de Janeiro de 2012

INIMIGO REAL


Geralmente, todos os nossos adversários, no fundo, são nossos instrutores.

À maneira do martelo que, tangendo a pedra, acaba aperfeiçoando-lhe a beleza, aquele que se coloca em oposição à nossa maneira de crer, sentir ou pensar, freqüentemente é fator de estímulo à elevação de nossos dotes pessoais.

O invejoso, invariavelmente, ensina-nos a prudência, o despeitado nos induz ao aprimoramento próprio.

O caluniador nos auxilia a marchar no caminho reto e o perseguidor gratuito nos auxilia a perseverar no bem.

Assim, então, se um inimigo poderoso devemos identificar junto de nós, na estrada do mundo - inimigo que nos arma as piores ciladas e nos constrange a cair nas mais escuras armadilhas do remorso e da dor - esse é o nosso próprio Eu, adversário terrível de nossa verdadeira felicidade, sempre imantado à concha de sombras em que se refugia, sob as paredes da indiferença.

Combatamos a nós mesmos cada dia, em nome do bem que abraçamos.

Não vale afirmar sem exemplo, nem sonhar sem trabalho.

Adquirir conhecimentos superiores para adorá-los com o incenso de nosso personalismo é transformar a vida em êxtase delituoso, quando a Terra nos pede rendimento de esforço para a obra do Bem Infinito.

Guerreemos o inimigo que se oculta, armado de astúcias mil na fortaleza de nossa animalidade multissecular, dando caça às suas manifestações de inferioridade, com os dissolventes da compreensão, do trabalho, da bondade e do amor e asfixiando-lhe o ignominioso comando, que tantas vezes nos tem arrojado aos despenhadeiros do crime das reparações dolorosas, ouçamos, nas torres de nossa alma, a voz do Cristo, o único mentor capaz de conduzir-nos à bênção íntima da imperecível libertação.

Emmanuel
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PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 18:50

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Sábado, 28 de Janeiro de 2012

FATALIDADE


851. Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentido ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso em que se torna o livre arbítrio?

-- A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la, ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja, inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave.



852. Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independentemente de sua maneira de agir; a desgraça está no seu destino?

-- São, talvez, provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à conta do destino o que é, quase sempre, a conseqüência de vossa própria falta. Em meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te sentirás mais ou menos consolado.

As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos levam a vencer ou fracassar, segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que nos forem sugeridas.



853. Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?

-- Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos.

853-a. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?

-- Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e freqüentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.



854. Da infalibilidade da hora da morte segue-se que as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?

-- Não, porque as precauções que tomais vos são sugeridas com o fim de evitar a morte que vos ameaça; são um dos meios para que ela não se verifique.



855. Qual o fito da Providência, ao fazer-nos correr perigos que não devem ter conseqüências?

-- Quando tua vida se encontra em perigo é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviar do mal e te tornar melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do risco por que passaste, pensas com maior ou menor intensidade, sob a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. O mau Espírito retornando (digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe), pensas que escaparás da mesma maneira a outros perigos e deixas que as tuas paixões se desencadeiem de novo. Pelos perigos que correis, Deus vos recorda a vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinarmos a causa e a natureza do perigo, veremos que, na maioria das vezes, as conseqüências foram a punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus vos adverte para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes. (Ver os itens 526 a 532)[62].



856. O Espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?

-- Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma maneira que de outra. Mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para o evitar, e que, se Deus o permitir, não sucumbirá.



857. Há homens que enfrentam os perigos dos combates com uma certa convicção de que a sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?

-- Com muita freqüência o homem tem o pressentimento do seu fim, como o pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protetores, que desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir ou reerguem a sua coragem nos momentos em que se faz mais necessário. Também lhe pode vir da intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir. (Ver itens 411 a 522).



858. Os que pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros? Por quê?

-- É o homem que teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: compreende a sua libertação e a espera.



859. Se a morte não pode ser evitada quando chega a sua hora, acontece o mesmo com todos os acidentes no curso da nossa vida?

-- São, em geral, coisas demasiado pequenas, das quais podemos prevenir-vos dirigindo o vosso pensamento no sentido de as evitardes, porque não gostamos do sofrimento material. Mas isso é de pouca importância para o curso da vida que escolhestes. A fatalidade só consiste nestas duas horas: aquelas em que deveis aparecer e desaparecer neste mundo.



859-a. Há fatos que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?

-- Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste, ao fazer a tua escolha. Não acredites, porém, que tudo o que acontece esteja escrito, como se diz. Um acontecimento é quase sempre a conseqüência de uma coisa que fizeste por um ato de tua livre vontade, de tal maneira que, se não tivesses praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Se queimas o dedo, isso é apenas a conseqüência de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução.



860. Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?

-- Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior.



861. O homem que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará assassino?

-- Não. Sabe apenas que, ao escolher uma vida de lutas terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque depende quase sempre dele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o Espírito soubesse com antecedência que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso. Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre arbítrio. De resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas: os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa está fora de vós e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade.



862. Há pessoas que nunca conseguem êxito na vida e que um mau gênio parece perseguir em todos os seus empreendimentos. Não é isso o que podemos chamar fatalidade ?

-- Pode ser fatalidade, se assim o quiserdes, mas decorrente da escolha do gênero de existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de decepções, a fim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não creias, entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas vezes é apenas o resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que não está de acordo com a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande probabilidade de morrer afogado. Assim acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o homem não empreendesse mais do que aquilo que está de acordo com as suas faculdades, triunfaria quase sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam do caminho para tomar por vocação o simples desejo de satisfazer certas paixões. Então fracassa e a culpa é sua, mas em vez de reconhecer o erro prefere acusar a sua estrela. Há o que teria sido um bom operário, ganhando honradamente a vida, mas se fez mau poeta e morre de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse ocupar o seu lugar.



863. Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a seguir um caminho errado? E não está ele submetido à influência das opiniões na escolha de suas ocupações? Isso a que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre arbítrio?

-- São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se submetem, é que lhes convém. Isso também é um ato de livre arbítrio, pois se quisessem poderiam rejeitá-los. Então, por que se lamentam? Não são os costumes sociais que eles devem acusar, mas o seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes toma conta desse sacrifício à opinião geral, enquanto Deus lhes pedirá conta do sacrifício feito à própria vaidade. Isso não quer dizer que se deva afrontar a opinião sem necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade do que de verdadeira filosofia. Tanto é desarrazoado exibir-se como um animal curioso, quanto é sensato descer voluntariamente e sem reclamações, se não se pode permanecer no alto da escala.



864. Se há pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas por ela, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?

-- Em geral, porque sabem orientar-se melhor. Mas isso pode ser, também, um gênero de prova: o sucesso as embriaga, elas se fiam no seu destino e freqüentemente vão pagar mais tarde esse sucesso com revezes cruéis, que poderiam ter evitado com um pouco de prudência.



865. Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo?

-- Certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem, perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez.



866. Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre arbítrio?

-- Tu mesmo escolheste a tua prova: quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos covardes, que permanecem estacionários. Assim, o número de infortunados ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram, na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles vêem muito bem a futilidade das vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada: não é somente a dor que produz contrariedades. (Ver itens 525 e seguintes).



867. De onde procede a expressão: Nascido sob uma boa estrela?

-- Velha superstição, segundo a qual as estrelas estariam ligadas ao destino de cada homem; alegoria que certas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS - LIVRO 3, CAP. 10 - FATALIDADE 
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2012

ENTREVISTA SOBRE O CARNAVAL - RAUL TEIXEIRA

1 — O que significa para você o carnaval, diante do mundo?

R — Valendo-me da expressão de um Benfeitor Espiritual, direi que, para mim, o carnaval é aquele fruto apodrecido, do qual ainda não soubemos retirar a mensagem de advertência, de atenção e vigilância, observando, ao longo do tempo, a semente infeliz que há germinado nas almas incautas, gerando colheitas de decepções e dores de elevada monta.



2 — Como você melhor colocaria o carnaval: como um mal para o homem que preza a elevação da moral, ou um remédio para o homem asfixiado pelas lutas amargas do cotidiano. Necessitado de extravasar seu psiquismo?

R — Verdadeiramente, o carnaval, como se vem apresentando. Representa um mal não apenas para o homem que busca evoluir moral e espiritualmente, como também para os demais ainda apegados às sensações físicas muito mais que às emoções sutis, que só a pouco e pouco o Espírito vai desenvolvendo.

Reconhecemos que a alegria, a descontração, as expansões dos júbilos entre as criaturas humanas funcionam como excelente válvula de escape para as tensões diárias, fomentando a tranqüilização da alma, quanto o re-equilíbrio das funções psíquicas. Contudo, não é o que estamos observando na estrutura carnavalesca.

Encontramos isso sim. A perversão, a enfermidade espiritual que jorra, absolutizando a loucura que campeia desenfreada, devassando e infelicitando. Não creio que ao homem mais simples. Porém, de bom senso, isso lhe pareça extravasamento para os júbilos anelados, senão desbordamento das paixões inferiores que mais fazem amargar seu cotidiano. Já, de si mesmo, tão amaro.



3. – Por ser uma festa de cunho material, somos induzidos a pensar que a maioria dos participantes não sejam religiosos. Dado que o ser humano precisa dissipar as energias acumuladas, não poderíamos, então, classificar o carnaval como “um mal necessário”, pois, sem ele, que permite extravasar, e sem a religião, que permite equilibrar essas cargas energéticas, os homens, inevitavelmente seriam levados a atitudes agressivas ou neuróticas no dia-a-dia?

R – A mim me parece que tudo isso não passa de tenebroso sofisma. Vamos por partes, a fim de expressar-me melhor.

O carnaval não é somente uma festa de cunho material, como se poderia supor. Ele é profundamente espiritual, só que a faixa espiritual, em que se situa, é a dos Espíritos infelizes que se locupletam com os desejos e usanças daqueles outros que, embora encarnados, ajustam-se aos apelos do Além infeliz, servindo-lhes de alimárias ou de vasos nutrientes, onde as sombras babejam e triunfam por momentos. Está claro, com isso, que os que se banqueteiam nesse festim, embora se digam religiosos, só o são na fachada. Não aprenderam que não se pode servir a Deus e a Mamon, que ser religioso é assumir um compromisso com a própria consciência. Não foram advertidos por seus líderes que tais festividades momescas tiveram seu incremento nas orgias templárias da Velha Roma. Do mundo antigo, nas loucuras das homenagens aos deuses Lupércio, Saturno. Baco etc, ditas festas em que não faltavam à luxúria, os excessos de toda ordem, do prato às explorações sexuais, determinando miséria moral e material, como enorme soma de sofrimentos.

Por outro lado, meu companheiro, se me é dito que o carnaval é o extravasador e que a Religião é equilibrante, creio que, em boa linha, nos quedaríamos com a Religião. Entretanto, a grande parte escolhe a descarga carnavalesca.

O que vemos é que, muito embora se afirme ser o carnaval um extravasador das tensões, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e de neuroses, que infestam nossas cidades, as mais diversas, dando-nos, isso sim, um somatório de violência urbana, de infelicidade familiar como jamais ocorreu no mundo contemporâneo. Creio que devamos repensar a questão do carnaval, a fim de não desculparmos o que é indesculpável, pelo menos na conotação que se lhe dá atualmente.



4. No campo físico, já conhecemos algumas das conseqüências do “reinado do Momo”, como por exemplo a proliferação dos abortos, o aumento da criminalidade, múltiplos suicídios, o incremento do uso dos tóxicos e de bebidas alcoólicas, assim como o surgimento de novos viciados, e muitas outras. O que você citaria como conseqüência no campo espiritual?

R - No hemisfério espiritual, encontramos por conseqüências todas as decorrentes dos excessos e erros e crimes apontados na sua pergunta. É mais um testemunho de que as “alegrias de Momo” não são tão alegres como parecem e que, ao invés de descontrair, muitos são traídos pela invigilância, pela irreflexão, pela imoderação.



5 - Estaria sujeito às influências negativas o indivíduo que, não se integrando aos folguedos, saísse à rua, apenas para assistir aos desfiles, ou mesmo para, simplesmente, apreciar os acontecimentos?

R - Os Espíritos do Senhor orientam-nos, através da Doutrina Espírita, que Deus vê as intenções nossas. Jesus Cristo, por seu turno, diz-nos, em Lucas 6:45, que onde estivesse o nosso tesouro, aí estaria o nosso coração, dizendo, sem dúvida, que nos deslocaríamos em espírito para aquilo a que déssemos valor. Há um provérbio popular que prega que quem sai na chuva é porque deseja molhar-se...

Entendemos que, se tomamos conhecimento do que está ocorrendo nas ruas e nos clubes, se nos damos conta das nossas próprias tendências pouco recomendáveis, na condição de “homem-velho” da referência paulina, há que pensar um pouco, antes de nos expormos às ruas, ainda que seja para assistir.



6. — Como você acha que o cristão-espírita deve proceder diante do companheiro que se mostra favorável ao evento?

R — Como deve. Proceder com qualquer um que não nos compartilhe os conceitos e idéias, ou seja, respeitando-o, compreendendo-o, sem. Contudo, permitir que ele nos “faça a cabeça”, usando uma expressão muito em moda.



7 - Que atitude se poderá tomar para mantermos nossos filhos, ainda crianças, quando não livres da influência, pelo menos livres da fascinação que o carnaval exerce sobre eles?

R — Entendemos que a família tem fundamental importância em tudo isso. É a velha questão tão educacional que vem à tona, Se os pais não freqüentam os festejos carnavalescos; se os pais aproveitam os dias dos feriados de tais festas para o descanso, para a convivência familiar harmoniosa e boa; se sabem conversar com os pequenos sobre a improcedência de nos arrojarmos a tais loucuras, exemplificando com a própria conduta o que diz, não vemos por que os filhos ficariam fascinados com Momo. Se mesmo diante do exemplo e dos informes e esclarecimentos eles o desejarem, deverá prevalecer o bom senso dos pais, não o permitindo, até que os pequenos de hoje conduzam as suas experiências de vida, fazendo o que bem entenderem; porém não antes de serem devidamente educados para viverem o bem que todos buscamos.

Muitos pais afirmam que soltaram seus filhos por causa das pressões de vizinhos, de familiares outros, dos colegas etc. Não se lembram, entretanto, os pais espíritas, que estamos diante dos graves compromissos com Espíritos ligados a nós, pelos vínculos reencarnatórios e que teremos que prestar contas da orientação e da condução que lhes tenhamos dado. Sem que isto pese nos ombros dos demais, pelo menos a princípio. Tomemos por compromisso de honra a condução dos nossos, deixando de lado admoestações e zombarias, motejos e incompreensões, porque somente o tempo dirá do nosso acerto, com o salário da paz e da alegria.



8 — Com relação aos nossos Centros Espíritas, é válido fechar as portas nos dias do carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões?

R — Realmente, seria muito bom se pudéssemos continuar nossas atividades doutrinárias, em nossas Instituições, exatamente porque são os dias em que mais necessárias se fazem as preces e as vinculações com os Bons Espíritos, por múltiplas razões, bem óbvias, por sinal. Entretanto, não deveremos olvidar que grande parte dos Centros estão em locais de muito movimento carnavalesco e que, ainda que não estejam, os companheiros das tarefas deverão deslocar-se de seus lares, atravessando o tumulto e as dificuldades, se ampliam com os riscos de variada monta para os passantes. E is a razão porque, costumeiramente, se interrompem os trabalhos nos Centros Espíritas nesses dias, o que não representa que devamos deixar de orar e vigiarmos, onde e com quem estivermos, servindo como antenas de nobres inspirações e assistência necessárias, como verdadeiros cristãos que desejamos ser.

* * *

  [Transcrito de Mundo Espírita, fevereiro de 1986, p. 10. (Informa-se que originalmente a entrevista “foi publicada no jornal Unificador, de Ipatinga, MG”.)]


PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Quinta-feira, 26 de Janeiro de 2012

MORTES PREMATURAS


Quando a morte vem ceifar em vossas famílias, levando sem consideração os jovens em lugar dos velhos, dizeis freqüentemente: “Deus não é justo, pois sacrifica o que está forte e com o futuro pela frente, para conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções: leva os que são úteis e deixa os que não servem para nada mais; fere um coração de mãe, privando-o da inocente criatura que era toda a sua alegria”.

Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidades de vos elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega fatalidade. Por que medir a justiça divina pela medida da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infringir-vos penas cruéis? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, sempre encontraria nela a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses representariam uma consideração secundária, que relegaríeis ao último plano.

Acreditai no que vos digo: a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo os cabelos dos pais. A morte prematura é quase sempre um grande benefício que Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer maior tempo na Terra.

É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada tão cedo! Mas de que esperanças quereis falar? Das esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças, segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efêmera que arrastais pela Terra? Pensais, então, que mais vale um lugar entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?

Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique, para sofrer convosco? Ah! Essa dor se concebe entre os que não têm fé e que vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, vós sabeis que vossos filhos bem-aventurados estão perto de vós: sim, eles estão bem perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem, porque revela uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de Deus.

Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações de vosso coração, chamando esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para abençoá-los, sentirá em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo soberano Senhor.



SANSÃO

Antigo membro da Sociedade Espírita de Paris, 1863.

Texto retirado do “Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. V (Bem Aventurados os Aflitos)



LEIA O LIVRO DOS ESPÍRITOS
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 18:34

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Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2012

ANIVERSÁRIO DO BLOG

PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Sábado, 21 de Janeiro de 2012

TERRORISMO DE NATUREZA MEDIÚNICA


Sutilmente vai-se popularizando uma forma lamentável de revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter apocalíptico.

Existe um atavismo no comportamento humano em torno do Deus temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o Espiritismo confirma através das suas excelentes propostas filosóficas e ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade.

Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos.

Durante alguns milênios o medo fez parte da divulgação do Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas...

O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação universal, portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, através da Lei de Causa e Efeito, quem somos de onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e das amarguras humanas... De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme Ele os enunciou e os viveu, proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu Criador, sendo de simples e fácil formulação.

Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais as das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais hoje estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos ameaçadores.

De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte.

Certamente existem personificações do Mal além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento.

O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes do conhecimento exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a respeito da vida e de como comportar-se dignamente ante as situações dolorosas.

As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando a névoa da ignorância que ainda permanece impedindo o discernimento de muitas pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal.

Da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao animismo africanista, de diversos povos e às suas superstições. No passado, em pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam.

O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda rico de bênçãos e de oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis para o êxito em todos os cometimentos.

A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação.

A simples mudança mental para melhor proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver.

Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da misericórdia divina.

A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e de felicidade todos aqueles que se lhe acercam.

Jamais a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos zombeteiros, levianos, críticos contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas.

Esses Espíritos burlões e pseudossábios devem ser esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e apavorantes com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem facilmente...

O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto para essa onda de revelações atemorizantes, que se espalha como um bafio pestilencial, tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram desde o seu surgimento a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina.

Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um método eficaz existe para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador.

Desse modo, utilizando-se da caridade como guia, da oração como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de torná-los felizes.



Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de dezembro de 2009, durante o período de realização do XVII Congresso Espírita Nacional, em Calpe, Espanha.).

Reformador Março 2010
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Sexta-feira, 20 de Janeiro de 2012

RADICALISMO RELIGIOSO


As religiões, entendidas como crenças na existência de seres superiores ou forças criadoras do Universo, e que devem ser adorados e obedecidos, criaram suas doutrinas, cada qual com seus preceitos ético-morais e reverências às coisas sagradas.

As religiões geram, em seus seguidores, sistemas de pensamentos que levam a posicionamentos filosóficos, éticos e metafísicos, influindo poderosamente na maneira individual e coletiva de agir.

Assim, quanto mais próximas estiverem as doutrinas religiosas da Verdade e da realidade, melhores serão suas influências sobre seus adeptos.

Hoje, à luz da Revelação Espírita, sabemos que todas as grandes religiões do mundo, desde as mais remotas eras, tiveram, em seus fundadores, os missionários encarregados de orientar e ajudar parcelas da Humanidade a progredir em conhecimentos e sentimentos.

Mas o auxílio do Alto nunca ultrapassou a capacidade de entendimento e absorção dos ensinos por parte daqueles aos quais era dirigido.

Esse fato explica a linguagem figurada, sujeita a interpretações e estudos mais aprofundados a respeito dos textos religiosos antigos.

Moisés, Maomé, Buda, Lao-Tsé e todos os demais enviados por Jesus, o Cristo – Governador da Terra – utilizaram linguagem inteligível à época em que cumpriram suas missões.

Entretanto, transformadas as condições do mundo em que atuaram e deixaram suas mensagens e ensinos, pelo progresso natural, pelas modificações dos usos, costumes e leis humanas, pelos descobrimentos científicos e pela evolução geral do Planeta e de seus habitantes, são necessário que se interpretem os textos antigos dos livros sagrados das religiões em suas significações legítimas.

As interpretações literais de textos escritos há milênios, sem os cuidados naturais para se buscar a significação real, levam a enganos e erros como decorrências normais.

Há que se considerar também a evolução natural das línguas em que foram expressos os textos, entre as quais algumas estão extintas.

Outra dificuldade ocorrente é a das traduções dos textos originais para as línguas atuais, muito mais ricas que as antigas, nas quais um vocábulo tem hoje significações diversas. Daí a diversidade das traduções.

Essas considerações visam focalizar verdadeiros paradoxos que se observam no seio de determinadas religiões, os quais se tornam incompreensíveis ou inexplicáveis perante a finalidade visada pelos princípios religiosos, que é o da elevação dos sentimentos e dos conhecimentos da criatura humana.

Referimo-nos ao fanatismo, ao radicalismo e ao fundamentalismo que se observam em determinados movimentos religiosos, gerando consequências negativas e diversificadas no seio de grande parte da Humanidade.

O fanatismo é o procedimento, a qualidade e o caráter intolerante e cego do religioso.

Entusiasmado e apaixonado pelas ideias que aceitou, é incapaz de examinar qualquer pensamento, princípio, ou ideal que não estejam estritamente contidos na sua doutrina.

Sua vida de relação se faz extremamente difícil, em face da sua presunção de superioridade com referência a tudo que o cerca.

Próximo do fanatismo encontra-se o radicalismo daqueles cuja opinião ou comportamento os tornam inflexíveis, mesmo diante de evidências e provas contrárias ao ponto de vista que aceitaram.

Fanatismo e radicalismo são males que se enraízam nos movimentos religiosos, com graves prejuízos para os invigilantes que os aceitam e para aqueles que com eles se relacionam.

Aos prejuízos das interpretações literais do Velho e do Novo Testamentos somaram-se os equívocos das igrejas denominadas cristãs, com suas estruturas e hierarquias tradicionais, criando as organizações religiosas que se desviaram do Cristianismo autêntico, resultante dos ensinos do Cristo de Deus.

Os dogmas impróprios criados pelos diversos Concílios, desde os primeiros séculos do Cristianismo, desfiguraram a mensagem do Cristo de tal forma que se torna difícil identificá-la, na sua pureza, com as práticas e cultos exteriores das igrejas.

Não se ajustam os ensinos do Mestre Incomparável, resumidos por Ele mesmo no “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, com as ideias e as práticas resultantes da interpretação literal dos Evangelhos e do Velho Testamento.

A interpretação que se deu às palavras céu, inferno, anjos, demônios, penitência, dia do juízo e tantas outras constantes dos Evangelhos, na sua letra, sem se considerar que Jesus se dirigia a pessoas de parco entendimento e que sua linguagem tinha, tantas vezes, sentido figurado para ser entendida, levou as doutrinas católica e protestante a erros e enganos evidentes.

Céu e inferno, por exemplo, não podem ser considerados lugares determinados ao gozo eterno ou ao sofrimento eterno das almas, como entendem as igrejas, mas sim estados de alma, resultantes de seus pensamentos e ações no bem ou no mal.

Penitência não deve ter o sentido de simples castigo pelo mal feito, mas sim o de arrependimento, sem prejuízo da retificação necessária.

Anjos são Espíritos que já se encontram em avançados estágios evolutivos, mas que iniciaram sua trajetória como seres simples e ignorantes e não como criaturas especiais do Criador.

Demônios são Espíritos que se desviaram, comprazem-se no mal, mas que terão oportunidade de se redimir, dentro da lei de Deus, que é justa e equitativa para com toda a Criação.

O juízo não é um julgamento especial em um tempo indefinido dentro da eternidade, mas sim as consequências dos atos e pensamentos de cada ser pelo automatismo das leis divinas, às quais todas as criaturas estão sujeitas.

Essas noções retificadoras das doutrinas baseadas na literalidade das escrituras antigas foram trazidas pelo Consolador, prometido por Jesus, que sabia da necessidade futura do correto entendimento de seus ensinos, que se ajustam perfeitamente ao Amor, ao Poder e à Justiça de Deus.

A interpretação radical dos fundamentos, assim considerada a letra das escrituras, corresponde ao imobilismo de ideias superadas pelo progresso normal do mundo que habitamos resultante de novos conhecimentos oriundos das ciências e novas revelações.

O fundamentalismo resultante da interpretação literal, quando se junta à força do poder temporário, conduz povos, raças e nações à violência e às guerras como ocorreram no passado e ainda acontece no presente.

Fundamentalismo tornou-se sinônimo de radicalismo. Suas consequências são incompatíveis com os objetivos das religiões, que visam o progresso moral e intelectual do homem, na busca da felicidade das criaturas de Deus.

O fundamentalismo não ficou adstrito a determinados movimentos religiosos denominados cristãos.

Fenômeno semelhante ocorre no movimento islâmico, com base na interpretação literal e radical de seu livro sagrado.

Como o Alcorão foi escrito no século VII da Era Cristã, quando o mundo era ainda muito mais atrasado que na atualidade, torna-se evidente a necessidade do ajustamento de suas normas e regras às novas condições de conhecimentos e de sentimentos alcançados pelo gênero humano, que conduzem ao Bem.

Também no islamismo ou em qualquer outro movimento religioso não se justificam os fundamentos interpretados literalmente.

Devem ser considerados os mandamentos, a letra, à luz da razão, da justiça e do entendimento superior, sem o que os resultados interpretativos levam a verdadeiros absurdos, como é exemplo a condição da mulher, colocada em posição de inferioridade injustificada, atendendo a costumes de um passado superado.

Apesar do progresso alcançado pela Humanidade, em pleno século XXI subsistem tendências relativistas, utilitaristas e subjetivistas difundidas nas sociedades atuais, com pretensões de legitimidade social, cultural e religiosa.

O Espiritismo, a Terceira Revelação nos tempos modernos, oriundo da Espiritualidade superior, vem mostrar, aos homens que despertam a realidade da vida e sua continuidade infinita, procurando retificar tendências e erros provenientes do passado milenar.

Não se justifica o relativismo diante da lei moral superior do Amor, que promana do Criador do Universo e foi ensinada pelo Cristo.

O fundamentalismo, o utilitarismo, o subjetivismo e o materialismo são desvios perigosos de vivência e de interpretações infelizes, com consequências sérias para quem os aceita, contra os quais estão sempre presentes a mensagem do Cristo e a Doutrina Consoladora por Ele prometida e enviada.

Não é fácil para os que se encontram reencarnados em um mundo material como a Terra, com inúmeras obrigações perante a vida física, lembrarem-se permanentemente de que são, antes de tudo, seres espirituais em trânsito por este mundo.

Essa é a condição de toda a população terrena: Espíritos eternos, ligados a corpos materiais perecíveis, em busca do aperfeiçoamento.

As religiões auxiliam esse entendimento lembrando-nos do que somos em essência.

Mas as religiões não dispõem de todo o conhecimento, estando sujeitas a desvios, como os fatos o comprovam.

Daí o auxílio do Alto, que se manifestou em todas as épocas, através de emissários e missionários do Cristo, com o objetivo de esclarecer parcelas da Humanidade e anular as influências inferiores.

A vida em mundos de expiações e provas, como o nosso, apresenta as dificuldades naturais do campo material, reclamando esforço de aprendizagem, trabalho e dedicação, na vasta lavoura terrena, além dos serviços necessários à aquisição dos valores espirituais que representam o verdadeiro progresso da alma.

São de Bittencourt Sampaio, o lúcido Espírito, que militou nas hostes da Federação Espírita Brasileira nos fins do século XIX, as observações seguintes:

Nos dias correntes, epílogo de um ciclo planetário vasculha--se os umbrais da Espiritualidade inferior, reformando-se os museus de sofrimentos purgatórias, forjados através de milênios inumeráveis.

E no nosso mundo, o que notamos?

Apesar do ingente esforço renovador dos arautos das letras do Evangelho, mais da metade da população terrestre ainda nem ouviu falar de Jesus, o Sublime Governador da Terra; esmagadora maioria ainda nem sequer pensou no intercâmbio entre os dois mundos; grande parte da Humanidade cultua doutrinas clara e confessadamente materialistas.

Por toda parte: delitos passionais, rebeliões, suicídios, terrorismo, fanatismos, obsessão, loucura, guerras.

Tal fato não deve, entretanto, desanimar, mas deve constituir chamamento para mais dedicação ao trabalho perseverante.

Notadamente à minoria espírita cristã, pequena minoria num mundo de desesperançados, cabe à tarefa de ir prevenindo os erros seculares, que desfiguram a existência, consomem o equilíbrio, vacinando tanto quanto se puder as consciências com a fé raciocinada, apoiada nos fatos, acendendo no semelhante à luz da certeza na imortalidade, à força da palavra e à custa do exemplo.

A tarefa é enorme, mas não impossível.

É necessário perseverança.

Nessa síntese, formulada com realismo e clareza por quem viveu as experiências espiritistas em um período difícil para a afirmação da Doutrina Consoladora no “Coração do Mundo”, vemos traçadas as linhas gerais de um mundo confuso, atrasado e desesperançado.

É nessa esfera de provas e expiações que os espíritas, pequena minoria da população global, são chamados a atuar numa tarefa ingente, difícil, mas não impossível.

É a luta por um ideal superior na difusão da Verdade para toda a Humanidade.

Se o progresso é lei divina para todas as criaturas, o conhecimento de nós mesmos impõe-nos deveres diversos, inclusive o de auxiliar nossos semelhantes.



Juvanir Borges de Souza

Reformador Mar. 2010
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 01:42

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Quinta-feira, 19 de Janeiro de 2012

CARNAVAL - UMA FALSA ALEGRIA


 Entre o Espiritismo e o carnaval não existem barreiras intransponíveis, mas, sim, a possibilidade abençoada de a criatura exercitar uma de suas prioridades existenciais, isto é, saber escolher o que mais lhe convém, o que realmente priorizar como verdadeira diversão.

Podemos, neste ensejo, buscar a palavra de Paulo de Tarso, quando ele afirmou de forma a não deixar dúvidas sobre a questão aqui enfocada: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” (I Cor.,10: 23).

As “alegrias” experimentadas nos dias de carnaval costumam deixar resíduos morais nocivos na alma, tornando-os traumáticos, permanentes, marcantes. A história desta festividade mostra as sobras da amargura, da tristeza, dos aborrecimentos, dos desajustes familiares, dos desequilíbrios financeiros, das violências de todos os tipos, dos casos e mais casos das gestações indesejáveis, entre outras cruéis e dolorosas situações deixadas como rastros dessa mascarada, mentirosa alegria. Os tempos de as famílias inocentemente sentarem-se nas calçadas para ver os blocos passarem ficou na saudade. Em substituição, surgiu não só a necessidade cada vez maior de uma comercialização insaciável, com lucros exorbitantes, como também o extravasamento sempre audacioso do instinto sexual, da sensualidade, tema este largamente trabalhado com fins comerciais, tanto interna quanto externamente.

Vale ressaltar, na oportunidade, que o homem é o mesmo, carregando dentro de si o desejo do prazer genesíaco como objetivo a ser alcançado na vida.

O carnaval de hoje destrói a saúde física e moral, desnatura a pureza dos sentimentos nobres e impede maior expansão e expressão da caridade.

Nenhum Espírito que já desfrute do verdadeiro equilíbrio de sentimentos e emoções e logicamente do bom senso, condições estas que presidem o destino das criaturas, pode escolher, como alegria, a loucura do carnaval que adormece o ser, em detrimento daquelas outras formas de alegria, as quais levam as pessoas ao deleite de um bem-estar espiritual, e que podem ser assim enumeradas: a leitura de uma página doutrinária espírita; a convivência e conversação com pessoas que aspiram a absorção dos valores espirituais, o passeio no campo ou na praia, enfim, tudo que tenha como cenário de fundo a Natureza, que expressa o canto celeste da Vida em sua real dimensão – a espiritual.

Dentro da atualidade tecnológica, quando novos conhecimentos felicitam a mentalidade humana, falta a compreensão precisa do que seja alegria, felicidade, bem-estar moral/espiritual. É exatamente o Espiritismo que procura descerrar as belezas da vida do espírito e os objetivos sagrados da reencarnação, direcionando o homem para sua realidade de Espírito reencarnado, aprendendo a não nos reincidir mesmos erros do passado.

Nos dias atuais, mais ainda nos dos festejos carnavalescos, o que se presencia é a licenciosidade campeando assustadoramente; são momentos danosos que afetam o moral, fazendo com que o ser humano esqueça as inapreciáveis oportunidades de progresso espiritual.

O que mais nos intranqüiliza e constrange é saber que há, nesses momentos de indisciplina sentimental – os dias de carnaval –, toda uma influenciação das forças das trevas espirituais nos corações das pessoas desassisadas, levando-as a ter que reparar, através de várias reencarnações, alguns instantes de prazer ilusório.

Enquanto tais pessoas se entregam a esses “prazeres” provocadores de desgastes físicos e morais, superlotando os salões ricamente decorados, os miseráveis da vida, de estômagos vazios e corações sedentos de amor, multiplicam-se nas ruas e estendem suas mãos súplices à caridade.

São cegos, enfermos, crianças abandonadas, mães aflitas e sofredoras que desfilam ao lado dos mascarados da pseudo-alegria.

Cada ano mais e mais contribuições abarrotam os cofres dos que lograram materializar essas festas.

Que nos preocupemos com os problemas nobres da vida, porque só assim poderemos transformar o supérfluo gasto nesses fugidios folguedos na migalha abençoada capaz de suprir as reais necessidades dos mais carentes.

Enquanto houver um mendigo abandonado junto aos exuberantes gastos com o carnaval, somente se poderá registrar que continuamos passando a nós mesmos um eloqüente atestado da nossa miséria moral.

Terminamos estas singelas considerações sobre a falsa alegria que o carnaval propicia, lembrando, Humberto de Campos em Novas Mensagens (Ed. FEB), quando afirmou:

“Os três dias de Momo são integralmente destinados ao levantamento das máscaras com que todo sujeito sai à rua nos demais dias do ano”.



Adésio Alves Machado

Reformador Fevereiro 2005.Pagina 30
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Quarta-feira, 18 de Janeiro de 2012

EM PAUTA - A TRISTE FESTA


Fevereiro é o mês do carnaval, que se constitui em uma série de folguedos populares, promovidos habitualmente nos três dias que antecedem o início da quaresma.

Em torno do mesmo centro de interesse - o disfarce, a dança, o canto e o gozo de certas liberdades de comunicação humana, inexistentes ou muito refreadas durante o resto do ano - a folia carnavalesca se apresenta com características distintas nos diferentes lugares em que se popularizou, vindo da Itália, especialmente de Roma, o modelo mais famoso.

De origem obscura, o mais provável é que se assente em raízes de festividades primitivas, de caráter religioso, em honra à volta da primavera. Mais concretamente, é possível se localizem suas origens em celebrações da Antigüidade, de caráter orgíaco, a exemplo das "bacanalia" da Grécia, festa em honra ao deus Dionísio.

Contudo, antes disso, os trácios se entregavam aos prazeres coletivos, como quase todos os povos antigos. E, em Roma, vamos encontrar estas festas como "saturnalia", quando se imolava uma vítima humana. Era uma festa de infeliz caráter pagão.

No Antigo Testamento, encontramos referências no Livro de Ester, especialmente no capítulo IX, que descreve como, graças à intervenção da rainha Ester junto ao rei Assuero os judeus acabam por massacrar os seus inimigos, atividade que durou dois dias inteiros, 13 e 14 do mês de Adar, cessando no dia quinze. Por essa razão, se estabeleceu que se solenizasse a data com banquetes e regozijos, conforme se lê no versículo 19: "Os Judeus, porém, que habitavam nas cidades sem muros e nas aldeias, destinaram o dia catorze do mês de Adar para banquetes e regozijos, de modo que neste dia fazem grandes divertimentos, e mandam uns aos outros alguma coisa dos seus banquetes e iguarias."

A data ficou assinalada como dias de Furim, isto é, das sortes, referindo-se ao Fur, a sorte que fora lançada e da qual eles, os Judeus, haviam saído vitoriosos.

Na Idade Média , já era aceito o Carnaval com naturalidade, configurando o enlouquecimento lícito uma vez por ano. As relações dos carnavalescos com a Igreja não foram cordiais, tendo se pronunciado doutores e Papas contra os tantos desregramentos da festividade. Contudo, o que prevaleceu foi uma atitude geral de tolerância, ficando inclusive por conta da Igreja a fixação da data do período momesco. O carnaval antecede a Quaresma, finalizando-se num dia de penitência, com a tristeza das cinzas.

A festa tem vestígios bárbaros e do primitivismo reinantes ainda na terra. No Brasil colonial e monárquico a forma mais generalizada de brincar o carnaval era o entrudo português.

Consistia em atirar contra as pessoas, não apenas água, mas provisões de pós ou cal. Mais tarde, água perfumada com limões, vinagre, groselha ou vinho. O objetivo sempre era sujar o passante desprevenido. Como se vê, uma brincadeira perigosa e grosseira.

A morte definitiva do entrudo se deu com o aparecimento do confete, a serpentina e o lança-perfume.

O que se observa nestes três dias de loucura, em que a carne nada vale, é o afloramento das paixões.

Observam-se foliões que se afadigam por longos meses na confecção das fantasias. Tudo para viver a psicosfera da ilusão. Perseguem vitórias vazias que esperam alcançar nestes dias. Diversos se mostram exaustos, física e emocionalmente. Alguns recorrem a fortes estimulantes para o instante definitivo do desfile. Consomem tempo e dinheiro, que poderiam ser aplicados na manutenção da vida e salvação de muitas vidas.

Mergulham em um fantástico mundo de sonhos. Anseiam por dar autenticidade a cada gesto, a toda atitude. Usando vestimentas de reis e rainhas, nobres e conquistadores, personagens de contos, artistas, fariam inveja a todos a quem copiam. Isso se as vestes e as coroas, os cetros, os mantos e as posturas não fossem todos falsos, exatamente como falsas são as expressões e vitórias que ostentam.

Diversos desses foliões nem se dão conta que poderão estar a representar a própria personalidade de vidas passadas.

Uma grande perda de tempo, pois de um modo geral conquistadores, reis, rainhas e generais que foram, se ainda permanecem na terra, é porque naquelas vidas faliram. E faliram feio.

Em toda essa festa de loucura, que deixa marcas profundas, pergunta-se se será mesmo manifestação de alegria, de descontração.

Que alegria é esta que exige fantasias, embriaguez e toda sorte de desregramentos para se manifestar?

Por isso, face às graves conseqüências do carnaval e suas origens de orgia e loucura, reflexionemos na exortação do espírito Thereza de Brito: "Numa sociedade em que a vida familiar tem sido tão difícil, tão escassa, por que não aproveitar os dias carnavalescos para conviverem bem mais juntos, seja no lar, num sítio arborizado, nas paisagens refazentes do mar ou da montanha, estreitando os vínculos do carinho, prestando atenção a tantos lances importantes da vida dos nossos queridos, antes inobservados?

Não se permitam poluir, pais terrestres, e lutem por preservar os seus filhos dessa ilusão passageira.

O imediatismo de Momo, os gozos das folias, as alegrias do carnaval tudo isso se desvanecerá, como todo fogo fátuo, e deixará os que neles se locupletaram nas valas da frustração e do arrependimento, mais cedo ou mais tarde.

Vocês, pai e mãe, atentos à nobre tarefa de educar seus rebentos, envolvam-nos com seu amor e sua assistência para que eles amadureçam assim, e a harmonia atinja mais rapidamente os arraiais do mundo, transformando as paixões inferiores em prazer renovador e são."





Reformador


Fontes:
1.                Nas fronteiras da loucura - Divaldo P. Franco/Manoel P. de Miranda - cap. 6 e 15.
2.                Vereda familiar - J. Raul Teixeira/Thereza de Brito - cap. 14.
3.                Enciclopédia Mirador Internacional, volume 5 - verbete: Carnaval 
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 19:35

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Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2012

COMO ADORAR A DEUS



Em todas as épocas, todos os povos praticaram, a seu modo, atos de adoração a um Ente Supremo, o que demonstra ser a idéia de Deus inata e universal.
     Com efeito, jamais houve quem não reconhecesse intimamente sua fraqueza, e a conseqüente necessidade de recorrer a Alguém, todo poderoso, buscando-Lhe o arrimo, o conforto e a proteção, nos transes mais difíceis desta tão atribulada existência terrena.

Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.
     Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam, ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista.

Em sua imensa ignorância, os homens sempre imaginaram que, tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra, também os deuses fossem sensíveis às manifestações do culto exterior, e daí a pomposidade das cerimônias e dos ritos com que os sagravam.
     Imaginavam-nos, por outro lado, ciosos de sua autenticidade ou de sua hegemonia e, vez por outra, adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra, submetendo-a a provas, sendo então considerado vencedora aquela que conseguisse operar feito mais surpreendente.

Sirva-nos de exemplo o episódio constante do III Livro dos Reis, cap. 18, v. 22 a 40. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal, para saber-se qual o deus verdadeiro. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos, disse Elias a seus antagonistas: "Invocai, vós, primeiro, os nomes dos vossos deuses, e eu invocarei, depois, o nome do meu Senhor; e o deus que ouvir, mandando fogo, esse seja o Deus."

Diz o relato bíblico que por mais que baalitas invocassem o seu Deus, em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas, segundo o seu costume, nada conseguiram.

Chegada à vez do deus de Israel, este fez cair do céu um fogo terrível, que devorou não apenas a vítima e a lenha, mas até as próprias pedras do altar.

Diante disso, auxiliado pelo povo, Elias agarrou os seguidores de Baal e, arrastando-os para beira de um rio, ali os decapitou.

O monoteísmo, depois de muito tempo, impôs-se, afinal, ao politeísmo, e seria de crer-se que, como esse progresso, compreendendo que o Deus adorado por todas as religiões é um só, os homens passassem, pelo menos, a respeitar-se mutuamente, visto as diferenças, agora, serem apenas quanto à forma de cultuar esse mesmo Deus.

Não foi tal, porém, o que sucedeu. E os próprios "cristãos", séculos, contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo, empolgados pelo fanatismo da pior espécie, não hesitaram em trucidar, a ferro e fogo, milhares de "hereges" e "infiéis", para maior honra e glória de Deus!" – como se Aquele que é o Senhor da Vida pudesse sentir-se honrado e glorificado com tão nefandos assassínios...

Atualmente, bastante enfraquecido, o sectarismo religioso começa a derruir, o que constitui prenúncio seguro de melhores dias, daqui, daqui para o futuro.
      Acreditamos, mesmo, que, graças à rápida aceitação que a Doutrina Espírita vem alcançando por toda parte, muito breve haveremos de compreender que todos, sem exceção, somos de origem divina e integrantes de uma só e grande família. E posto que Deus é Amor, não há como adorá-Lo senão "amando-nos uns aos outros", pois, como sabidamente nos ensina João, o apóstolo ( I ep., 4:20), "se o homem não ama a seu irmão, que lhe está próximo, como pode amar a Deus, a quem não vê?"


Rodolfo Calligaris
De “As Leis Morais, segundo a filosofia espírita” 
PUBLICADO POR SÉRGIO RIBEIRO às 13:26

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