Terça-feira, 13 de Dezembro de 2011
Através das instruções de pesquisadores, dos conhecimentos hauridos em diálogos com Espíritos desencarnados, que já alcançaram certo grau de independência e evolução, e da vivência freqüente com Espíritos enfermos nas sessões mediúnicas de tratamento, podemos afirmar a existência de um princípio geral, que orienta a situação do Espírito, após seu retorno ao plano extrafísico: ao deixar a vida material, gravita automaticamente para a posição que lhe seja peculiar. Evidentemente, o tempo em que isto ocorre é extremamente variável, dependendo dos fatores que influenciaram a desencarnação, do móvel moral/intelectual conquistado durante a experiência terrena que acabou de deixar, e do acervo remanescente das existências anteriores, referentes ao comprometimento com o automatismo da lei de causa e efeito.
A situação em que a alma se encontrará não lhe acrescentará nada, nem em poder, nem em conhecimento, nem em liberdade, além do que já possua. Apenas certa agudez de percepção lhe fará sentir-se diferente da condição anterior de encarnada.
A invisibilidade e a intangibilidade serão as características comuns a todos os desencarnados, com relação aos que deixaram na retaguarda, passando a perceber, com nitidez, os também desencarnados que estejam na sua situação evolutiva, ou abaixo dela.
Quanto aos Espíritos de grau superior, somente são vistos ou percebidos, se assim o desejarem.
O abalo da desencarnação, em muitos casos, não deixa o Espírito perceber a realidade da própria situação, isto é, não acredita que morreu tal a identidade entre a aparência do corpo físico e a do espiritual, que é semelhante.
Como no mundo espiritual “o pensamento é tudo”, o Espírito reforça a realidade físico-espiritual em que se encontra, consolidando a forma ideoplástica do próprio aspecto com que se sente exteriorizar na nova situação.
À vontade, que é a força modeladora do pensamento, dependendo de sua intensidade, promoverá a consecução dos objetivos que o Espírito pretenda alcançar. O retorno ao reduto doméstico, por exemplo, algumas vezes é conseguido pelo anseio forte que o desencarnado demonstre, embora ele não perceba como o conseguiu.
O que o desencarnante leva consigo, da vida material para a espiritual? – Apenas as conquistas do intelecto e as realizações, boas ou más, no campo moral!
O pensamento, sendo a força por excelência na vida extrafísica, aqueles que se mantenham preocupados com os assuntos e bens da vida material recém-abandonada conservam-se presos a eles, o que lhes dificulta sobremaneira a ascensão a patamares espirituais mais elevados.
Uma expressiva quantidade de recém-libertos do corpo se compraz em manter-se ligada às sensações da vida física, na ilusão de que assim prolongariam a condição de “vivos”. Para conseguir tais sensações, alimentam-se das energias sugadas dos encarnados, que se lhes assemelham moral e intelectualmente.
Esses encarnados funcionam como “pontes vivas”. Os que se viciaram no álcool, nas drogas ou nos desvios da sensualidade conseguem justapor-se aos seus “hospedeiros”, sugando-lhes as energias encharcadas daquele estado vibratório que os satisfaz.
Há pessoas que se espantam ao saberem que o vampirismo é uma realidade; entretanto, nada há nisso de anormal. A permuta de energias é um acontecimento lógico, já que as duas mentes participantes objetivam o mesmo resultado!
É um erro muito generalizado às pessoas começarem a fazer pedidos de ajuda e proteção aos recém-desencarnados, como se somente o fato de haverem deixado a vida material lhes acrescentasse poderes que nunca possuíram.
Na grande maioria das desencarnações, os Espíritos não têm condição de resolver ao menos os problemas imediatos surgidos com a nova situação. As necessidades materiais continuam presentes, até que a sublimação da alma se complete.
O períspirito, que é o plano organogênico do corpo físico, mantém íntegros todos os sistemas do corpo somático; órgãos, vísceras e tecidos têm suas formações, partindo desse plano. (*)
Assim, ao desencarnar, os órgãos permanecem existindo no corpo espiritual, arrastando consigo as necessidades próprias de cada um. Com a natural evolução da alma, a satisfação das necessidades exigidas por eles vai desaparecendo, com tempo muito variável, de um Espírito para outro, até extinguir-se, já que o Espírito se mantém com outros recursos de alimentação energética, como a respiração e a absorção pranaiama.
Os desencarnados que fazem a passagem em elevado estado de debilidade são recolhidos a hospitais espirituais existentes nas regiões próximas à Crosta, onde são tratados quase como se encarnados fossem, e alimentados normalmente com caldos, sucos, etc. Na verdade, a necessidade desses recursos existe mais por causa do estado mental dos pacientes do que por exigência do corpo espiritual.
Não é imediatamente que o Espírito se liberta da escravidão dos sentidos. Somente à proporção que o domínio mental se vai ampliando e intensificando é que ele vai se inteirando da nova realidade, e eles, os sentidos, irão deixando de atuar como necessidade imperiosa.
REFORMADOR DEZ 2008
(*) Ver O consolador, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco C. Xavier. Ed. FEB, pergunta no 30.
Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011
“Eis que vos trago boas-novas de grande alegria, que será de todo o povo, porque nasceu para vós, hoje, um salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi.” (Lucas, 2:10-11.) 1
Natal é comemorado no dia 25 de dezembro porque a data foi retirada de uma festa pagã muito popular existente na Roma antiga, e que fora oficializada pelo imperador Aureliano em 274 d. C. A finalidade da festa era homenagear o deus sol Natalis Solis Invicti (Nascimento do Sol Invicto) – considerado a primeira divindade do império romano – e festejar o início do solstício de inverno. Com o triunfo do Cristianismo, séculos depois, a data foi utilizada pela igreja de Roma para comemorar o nascimento do Cristo (que, efetivamente, não ocorreu em 25 de dezembro), considerado, desde então, como o verdadeiro “sol” de justiça.
Com o passar do tempo, hábitos e costumes de diferentes culturas foram incorporados ao Natal, impregnando-o de simbolismo: a árvore natalina, por exemplo, é contribuição alemã, instituída no século XVI, com o intuito de reverenciar a vida, sobretudo no que diz respeito aos pinheiros, que conservam a folhagem verde no inverno; o presépio foi ideia de Francisco de Assis, no século XIII. As bolas e estrelas que enfeitam a árvore de Natal representam as primitivas pedras, maçãs ou outros elementos com que no passado se adornavam o carvalho, precursor da atual árvore de Natal.
Antes de serem substituídas por lâmpadas elétricas coloridas, as velas eram enfeites comuns nas árvores, como um sinal de purificação, e as chamas acesas no dia 25 de dezembro são uma referência ao Cristo, entendido como a luz do mundo.
A estrela que se coloca no topo da árvore é para recordar a que surgiu em Belém por ocasião do nascimento de Jesus. Os cartões de Natal apareceram pela primeira vez na Inglaterra, em meados do século XIX.
Os espíritas veem o Natal sob outra ótica, que vai além da troca de presentes e a realização do banquete natalino, atividades típicas do dia.
Já compreendem a importância de renunciar às comemorações natalinas que traduzam excessos de qualquer ordem, preferindo a alegria da ajuda fraterna aos irmãos menos felizes, como louvor ideal ao Sublime Natalício.
Os verdadeiros amigos do Cristo reverenciam-no em espírito. 2
A despeito do relevante significado que envolve o nascimento e a vida do Cristo e sua mensagem evangélica, sabemos que muitos representantes da cristandade agem como cristãos sem o Cristo, porque vivenciam um Cristianismo de aparência.
Neste sentido, afirmava o Espírito Olavo Bilac que “ser cristão é ser luz ao mundo amargo e aflito, pelo dom de servir à Humanidade inteira”. 3
Chegará à época, contudo, em que Jesus, o guia e modelo da Humanidade terrestre, 4 será reverenciado em espírito e verdade; Ele deixará de ser visto como uma personalidade mítica, distante do homem comum; ou mero símbolo religioso que mais se assemelha a uma peça de museu, esquecida em um canto qualquer, empoeirada pelo tempo. Não podemos, contudo, perder a esperança.
Tudo tem seu tempo para acontecer.
No momento preciso, quando se operar a devida renovação espiritual da Humanidade, indivíduos e coletividades compreenderão que [...] Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra.
Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei [...]. 5
Distanciado dos simbolismos e dos rituais religiosos, o espírita consciente procura festejar o Natal todos os dias, expressando-se com fraternidade e amor ao próximo.
Admite, igualmente, que [...] a Doutrina Espírita nos reconduz ao Evangelho em sua primitiva simplicidade, porquanto somente assim compreenderemos, ante a imensa evolução científica do homem terrestre, que o Cristo é o sol moral do mundo, a brilhar hoje, como brilhava ontem, para brilhar mais intensamente amanhã. 6
Perante as alegrias das comemorações do Natal, destacamos três lições ensinadas pelos orientadores espirituais, entre tantas outras.
Primeira, o significado da Manjedoura, como assinala Emmanuel:
As comemorações do Natal conduzem-nos o entendimento à eterna lição de humildade de Jesus, no momento preciso em que a sua mensagem de amor felicitou o coração das criaturas, fazendo-nos sentir, ainda, o sabor de atualidade dos seus divinos ensinamentos.
A Manjedoura foi o Caminho.
A exemplificação era a Verdade.
O Calvário constituía a Vida.
Sem o Caminho, o homem terrestre não atingirá os tesouros da Verdade e da Vida. 7
Segunda, a inadiável (e urgente) necessidade de nos aproximarmos mais do Cristo, de forma que o seu Evangelho se reflita, efetivamente, em nossos pensamentos, palavras e atos. Para a nossa paz de espírito não é mais conveniente sermos cristãos ou espíritas “faz de conta”.
[...] Comentando o Natal, assevera Lucas que o Cristo é a Luz para alumiar as nações. 8
Não chegou impondo normas ou pensamento religioso.
Não interpelou governantes e governados sobre processos políticos.
Não disputou com os filósofos quanto às origens dos homens.
Não concorreu com os cientistas na demonstração de aspectos parciais e transitórios da vida.
Fez luz no Espírito eterno.
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Embora tivesse o ministério endereçado aos povos do mundo, não marcou a sua presença com expressões coletivas de poder, quais exército e sacerdócio, armamentos e tribunais.
Trouxe claridade para todos, projetando-a de si mesmo.
Revelou a grandeza do serviço à coletividade, por intermédio da consagração pessoal ao Bem Infinito.
•
Nas reminiscências do Natal do Senhor, meu amigo, medita no próprio roteiro.
Tens suficiente luz para a marcha?
Que espécie de claridade acende no caminho?
Fogem ao brilho fatal dos curtos--circuitos da cólera, não te contentes com a lanterninha da vaidade que imita o pirilampo em voo baixo, dentro da noite, apaga a labareda do ciúme e da discórdia que atira corações aos precipícios do crime e do sofrimento.
Se procuras o Mestre divino e a experiência cristã, lembra-te de que na Terra há clarões que ameaçam, perturbam, confundem e anunciam arrasamento...
•
Estarás realmente cooperando com o Cristo, na extinção das trevas, acendendo em ti mesmo aquela sublime luz para alumiar? 9
Por último é muito importante aprendermos a ser gratos a Jesus pelas inúmeras bênçãos que Ele nos concede cotidianamente, em nome do Pai, como a família, os amigos, a profissão honesta, a vivência espírita etc., sabendo compartilhá-las com o próximo, como aconselha Meimei:
Recolhes as melodias do Natal, guardando o pensamento engrinaldado pela ternura de harmoniosa canção...
Percebes que o Céu te chama a partilhar os júbilos da exaltação do Senhor nas sombras do mundo.
[...] Louva as doações divinas que te felicitam a existência, mas não te esqueças de que o Natal é o Céu que se reparte com a Terra, pelo eterno amor que se derramou das estrelas.
Agradece o dom inefável da paz que volta, de novo, enriquecendo-te a vida, mas divide a própria felicidade, realizando, em nome do Senhor, a alegria de alguém!...10
REFORMADOR DEZ.2010
Referências:
1DUTRA, Haroldo D. O novo testamento.(Tradutor). Brasília: EDICEI, 2010. p. 258.
2VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 47, p. 154.
3XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do natal. Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 76, p. 201.
4KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.
5______. ______. Comentário de Kardec à q. 625.
6XAVIER, Francisco C. Religião dos espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Jesus e atualidade, p. 296.
7______. Antologia mediúnica do natal. Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 21, p. 57.
8LUCAS, 2:32.
9XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do natal. Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4.
10______. ______. Cap. 29, p. 73-74.
Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2011
Ter o Espírito do natal quer dizer dar e doar.
Este o sentido que transmitiu ao acontecimento Aquele que o ensejou,antes e depois de sua consumação.
Antes...
Proporciona felicidade àquela que lhe fora escolhida por Mãe, quando da anunciação feita pelo Anjo Gabriel.
Prodigaliza alegria a Isabel, por ocasião da visita que lhe fez a agraciada do Senhor.
Infunde tranqüilidade e confiança a José, pelas coisas que lhe dá a saber através dos sonhos premonitórios.
Acalenta as esperanças dos três reis magos, pondo uma luz a guiar-lhes os passos até que cheguem, jubilosos e triunfantes, à presença do Salvador.
Depois...
Inunda de contentamento os pastores que, na calada da noite, no silêncio das horas mortas, apascentam seus rebanhos.
Deslumbra os doutores da lei, os mestres de Israel, no recinto da Sinagoga, com as manifestações fluentes de Sua profunda Sabedoria.
Aumenta o regozijo dos convivas nas Bodas de Caná, transformando água em vinho.
Assegura a Pedro e a André grande contentamento, pela dadivosa pesca com que os felicita, coroando-lhes os esforços depois de uma noite inteira de tentativas infrutíferas.
Restaura o júbilo dos corações amargurados de Jairo, da viúva de Naim, de Marta e Maria, ressuscitando-lhes os entes queridos.
Conforta o centurião, dando-lhe a certeza da cura do seu servo.
Felicita a mulher adúltera, livrando-a dos seus perseguidores.
Ergue o ânimo de Madalena, assegurando-lhe a possibilidade de sua regeneração.
Alegra os publicanos com a convicção que lhes incute de que não há classes desprezíveis nem desprezadas.
Dá vista aos cegos.
Limpa os leprosos.
Expulsa demônios.
Levanta paralíticos.
Leva sacrossantos estímulos, fagueiras esperanças aos sofredores do corpo e da alma, aos necessitados do físico e do moral.
Rejubila-se com os Discípulos na Ceia pascal.
Desanuvia as preocupações de Maria, ao confiá-la aos cuidados do Discípulo Amado, apontando-o a ela como filho e indicando-a a ele por Mãe.
Estimula o bom ladrão.
Depois, ainda, confirma o Espírito do Natal na Ressurreição.
Aparece primeiro, a Maria Madalena.
Comparece, por duas vezes, ao Cenáculo de Jerusalém, mostrando-se aos Apóstolos.
Acompanha os dois Discípulos no caminho de Emaús.
Faz-se visível aos quinhentos da Galiléia.
Identifica Sua presença junto a Pedro no mar de Tiberíades, com quem ceia e confabula.
Assim, possuir alguém o Espírito do Natal, sentir-lhe de fato a profunda significação, vivê-lo verdadeiramente na vida de relação, entendê-lo, não como um acontecimento isolado, mas como uma constante de vivência de todas as horas do dia, consistirá em dar-se e doar-se, revelando-o em todos os momentos e ângulos da experiência planetária e com ele prosseguindo pela Eternidade afora. .
PASSOS LÍRIO
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011
Mais poderoso do que os povos e as suas realizações através dos séculos, o Livro de cada época é um marco decisivo na história da evolução do pensamento.
Os Vedas, ditados por Brama aos richis, enriqueceram a India de espiritualidade durante milênios, e o Vedanta, que tem por objeto a sua explicação mística, até hoje domina a alma filosófica do povo hindu, iluminando-a com luz inextinguível.
A Pérsia milenária deixou-se conduzir pelo Zendavestá, atribuído a Zoroastro, e inundou-se de sabedoria que, há milênios, lhe norteia os caminhos, na busca da Imortalidade.
Israel, entre tormentos e inquietações, tem encontrado no Antigo Testamento, há quase cinco mil anos, o roteiro espiritual da liberdade buscada em todos os séculos.
Toda a Arábia passou a beber nas fontes augustas do Alcorão a Mensagem de Alá, transmitida ao Profeta em visões.
Desde então, sejam os pensamentos de Marco Aurélio ou os conceitos de Sócrates, apresentados por Platão, as poesias de Vergílio ou as antigas tragédias de Sófocles, o Novo Testamento, que nos apresenta a nobre vida do Homem que se fez maior do que a Humanidade, ou os Sermões de Vieira, o Livro é uma luz incomparável, colocando marcos históricos nos fastos da Humanidade.
Seja através da Divina Comédia, de Dante Alighieri, ou da Obra grandiosa de Cervantes, ou manuseando os conceitos de Castelar, após a Imprensa o homem passou a considerar o Livro como um monumento colossal dentro do qual se pode refugiar a Civilização, mesmo quando o horror da guerra ameaça a vida de extermínio total...
O Século XIX com as conquistas fulgurantes da Ciência, com as conclusões notáveis da Filosofia e com as pesquisas na Moral e na Religião, recebeu, numa Obra, o mais vigoroso trabalho filosófico de que se tem notícia: «O Livro dos Espíritos» que, embora a singeleza com que foi apresentado, em Paris, se fez o marco básico dos tempos novos, clareando mentes e conduzindo almas ao aprisco da paz, onde é possível uma felicidade imorredoura. Isto porque «O Livro dos Espíritos» difere, na essência, na estrutura e na planificação, de todos os que o precederam como daqueles que lhe vieram depois.
Não é a Obra de um homem nem a manifestação revelada de um só Espírito. É, talvez, a maior síntese que a Humanidade já leu em Filosofia Espiritualista, porquanto examina as consequências morais, através das Civilizações, apresentando os efeitos calamitosos dos desequilíbrios sociais, no homem reencarnado...
Não é um diálogo entre a alma que inquire e a voz que responde, embora o método dialético em que se apresenta. E' grandioso, igualmente, pelas conclusões do indagador e, na sua síntese preciosa, vai além dos problemas filosóficos, demorando-se em estudos de ordem metafísica, sociológica... Tentando oferecer soluções claras às diversidades étnicas, dentro de princípios essencialmente morais, conduzindo o pensamento em superior roteiro, capaz de libertar o homem das expiações amargas e dolorosas, em que se vem debatendo.
«O Livro dos Espíritos» é um Sol conduzindo, intrinsecamente, o seu próprio combustível. Guarda, na sua planificação, sabiamente, toda a Doutrina Espírita Codificada. Nele estão em germe os livros que viriam depois, abrindo novos horizontes à Ciência em «O Livro dos Médiuns», clareando os meandros da Religião em «O Evangelho...”. », explicando a essência da vida e sua origem em «A Gênese» e apresentando em «O Céu e o Inferno» consolações e punições necessárias ao progresso da alma encarnada ou desencarnada. E mais do que isto, a Introdução e os Prolegômenos deram origem aos opúsculos «Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita» e ao «O que é o Espiritismo».
Monumento mais grandioso que as tradicionais obras da Engenharia que o tempo corrói, «O Livro dos Espíritos» amplia o pensamento filosófico da Humanidade, derramando luz sobre a Razão entorpecida nas limitações do materialismo.
Espíritas! Homenageando a data de publicação d'«O Livro dos Espíritos», banhemo-nos na sua luz, estudando-o carinhosamente.
Não o olhar precipitado de quem se empolga com a narrativa romanceada, não a observação impensada de quem procura concluir antes de terminar o conteúdo, mas, estudo sério para sorvê-lo lentamente na taça augusta da meditação, e exame continuado e intermitente para absorver o pensamento divino que os Espíritos Superiores trouxeram ao espírito de escol do «Professor Rivail», o escolhido para projeção da Mensagem grandiosa que brilha como farol sublime na Doutrina Espírita.
Divulgá-lo e entendê-lo, senti-lo e apresentá-lo ao mundo é tarefa inadiável que a todos, espíritas e Espíritos, nos impomos como corolário natural das nossas convicções.
E recordando o seu aparecimento em Paris, há 113 anos, penetremo-nos de sua sublime mensagem, tornando-nos interiormente iluminados, para levar essa chama grandiosa às gerações do futuro, como ainda brilha entre nós a palavra de Crisna, Moisés, Jesus e tantos outros Embaixadores do Céu, e que «O Livro dos Espíritos» confirma e aclara.
Vianna de Carvalho
Por Divaldo P. Franco
Reformador’ (FEB) Abril 1970
Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011
Hoje em dia, as Relações Humanas estão elevadas à condição de estudo especializado.
Firmas há que chegaram a instituir, em seu quadro de funcionários, o cargo de recepcionista, especialmente criado para lidar com o público.
Existe mesmo uma literatura específica, ensinando como fazer amigos, liderar grupos, influenciar os outros, fazer-se agradável no trato com os semelhantes, etc.
No entanto, isto que parece uma novidade ou que aparece como tal, é matéria elementar da Doutrina Espírita, herança do Cristianismo, sobre o qual erige ela os fundamentos da educação do ser.
Independente de muitos outros textos, esparsos pelas obras da Codificação Kardequiana, há este, inserto no tópico 8· do livro «O Céu e o Inferno», lª parte, capítulo IIl:
“A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.
“A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, ,o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso, tem por móvel, por alvo e estímulo, as relações do homem com os seus semelhantes.
“Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia.”
Dentro da vida é que o Espiritismo nos situa o campo de lutas e tarefas.
Seus conceitos renovadores nos fixaram rumos novos ·aos passos.
Segundo sua essência ideológica, muita coisa teve que ser refundida e reajustada.
Salvação equivale a esforço próprio, adquirida nos prélios redentores de nossa pauta de testemunhos, em estreito e íntimo contato com os nossos Irmãos em Humanidade.
Isolamento vale por expressão de vida interior, traduzida em estudo e trabalho, em oração e recolhimento espiritual, Cursos de preparação moral-religiosa, temo-los nos sistemas de acontecimentos com que nos defrontamos e por força dos quais aprendemos a viver e, cada vez mais, vivemos a aprender.
Religiosidade não é fanatismo, nem alheamento às coisas que nos cercam, antes significa dinâmica espiritual sustentada por cogitações mentais mais altas e ordens de ideias melhores e superiores.
Retiro espiritual representa tão somente afastamento do mal, libertação do erro e do vício, sem quaisquer barreiras divisórias entre nós e o próximo, como se nos isolássemos de alguém portador de moléstia infecto-contagiosa.
Adoração a Deus corresponde a consagração de nossa existência a serviço da Humanidade, a bem dos semelhantes, no templo do corpo pela iluminação crescente do Espírito.
O Lar, a Escola, a Igreja, a Oficina, o Laboratório, os múltiplos setores, enfim, das experiências e atividades humanas, são estágios ativos e fases dinâmicas de aprendizagem variada e diferente, em cada um dos quais nos é dado conseguir e consolidar, por vezes, maiores parcelas de conhecimentos e virtudes, de luzes e aquisições espirituais.
Aprendamos com Jesus que não devemos temer o mundo. Cultuemos a Vida, no que ela nos oferece de nobre e sublime, dando-lhe o melhor de nós mesmos. E, certamente, não será fora da engrenagem do mecanismo social, com seus altos e baixos, com seus dramas e tragédias, com suas grandezas e misérias, que iremos colher flores e frutos da semeadura dos ensinamentos cristãos. De outro modo, como poderíamos desenvolver o raciocínio, aprimorar os sentimentos, burilar as arestas de nossa alma, enrijecer a vontade, temperar o caráter, educar a mente, espiritualizar o coração, engrandecer os dons espirituais?
Necessitamos da Vida e do Mundo.
Todos poderemos prestar bons serviços, se soubermos prestar bons serviços a todos.
A luz que dermos aos outros contribuirá para aumentar nossa capacidade de iluminação própria.
Instruídos, os ignorantes proclamarão as excelências do Conhecimento e exaltarão a grandeza da Sabedoria.
Consolados, os sofredores bendirão da alegria de viver.
Assistidos, os necessitados encontrarão estímulos para a luta.
Orientados, os inexperientes saberão compreender as realidades benfeitoras da trajetória terrena.
Esclarecidos, os perturbados recobrarão novo ânimo para a marcha triunfal de sua redenção.
Convertidos, os maus e pervertidos renascerão das próprias cinzas do pecado, seguindo novos rumos em busca de outros objetivos.
Perdoados, os adversários orarão por nós.
Amados, um dia, os ingratos amarão também.
Tais situações só serão possíveis em função de intercâmbio e convívio diário.
Precisamos de ouvir e falar, de sentir e amar, de lutar e viver, de assimilar e dar bons exemplos, de permutar impressões, de conhecer os homens, e de fazer que os homens conheçam os ensinos de Jesus, através de nossa conduta.
Carecemos da presença do nosso próximo, para com quem devemos estar animados do sincero e profundo desejo de prodigalizar todo o bem possível, buscando, por ele e com ele, edificar o reino dos céus em nós mesmos.
Lucas Pardal
Reformador’ Março de 1970.
Terça-feira, 15 de Novembro de 2011
“Segundo várias comunicações, recebidas em ocasiões e lugares diversos, de elevados espíritos a serviço da verdade divina, este infeliz apóstolo, que tão desastrosamente faliu na missão que com instância solicitara, conseguiu, depois de múltiplas encarnações sofridas através de séculos, reparar todo o seu passado de triste memória, transformando-se, afinal, em Espírito de Luz, digno de volver a ocupar o posto que deixara vago no Colégio Apostólico, a sentar-se no trono de onde devera estar de há muito, como os seus companheiros de apostolado, exercendo o governo de uma das doze tribos de Israel, conforme a palavra evangélica. Tornou-se, em suma, digno do amor de Jesus que, por mais de uma vez afirmou que nenhuma se perderia das ovelhas que o Pai lhe dera para apascentar.
Tendo pago a sua dívida até o último centil, como o exige a Lei: a ovelha que tão gravemente desgarra, havendo alijado de si o pesado fardo da ambição que tantas desgraças lhe ocasionara, voltou ao aprisco, perlustrando a estrada das tarefas e missões humildes e dolorosas e elevando-se assim, gradativamente, aos olhos daquele que nunca deixara de amá-lo com entranhado amor.
Judas passou a História como símbolo da Traição. Só agora, decorridos quase dois milênios, graças à revelação espírita, os fatos se nos apresentam claramente compreensíveis, através de mensagens explicativas de Espíritos que foram seus contemporâneos e que, certamente com o propósito de nos advertirem, a nós que tivemos a felicidade, como aquele apóstolo, de conhecer o Cristo, na sua excelsitude espiritual e na grandiosidade do seu messianato, de que os tempos atuais são semelhantes, senão idênticos aos desse messianato e que, portanto, muito nos devemos precatar, para que não tenhamos de passar pelas mesmas dores e sofrimentos, pelas mesmas expiações e provas, a que se condenou o mesmo Judas pelo seu desvario. Dizem-nos as mensagens ou comunicações a que aludimos que ele foi vítima da sua tresloucada ambição.
Espírito inteligente, de grande desenvolvimento intelectual, ambicionou constituir-se elemento de grande prestígio social, capaz de resolver o problema do seu povo e de alça-lo a uma posição de completo domínio político.
Não concordava, pois, com a mansuetude, a humildade e o desinteresse do Mestre, com a sua preferência pelo convívio dos pequeninos, dos párias, dos oprimidos, dos que os grandes e poderosos exploravam, entendendo que tudo isso obstaria sempre a que o Senhor ascendesse ao fastígio a que ele, Judas o julgava com inconcusso direito. Achava que, pela força moral que demonstrava, pelo poder extraordinário de que dispunha o meigo Rabi, este seria precioso elemento para que ele, seu apóstolo, realizasse a conquista da posição de destaque e de mando com que sonhava.
Indubitavelmente, Judas não necessitava dos trinta dinheiros do seu trato com os príncipes dos sacerdotes. Que valor teria essa importância pecuniária, para ele que era o depositário do dinheiro da comunidade? O que queria, e a que visava era guindar-se ao mando supremo. Essa idéia o obsidiava e faz imaginar que Jesus não se entregaria e consentiria em ser proclamado Rei da Judéia; que lhe daria a ele o posto de seu primeiro ministro, investido, de modo absoluto, na direção política do país.
Logo, no entanto, viu que se enganara redondamente, que nada do que concebera se realizava que nada mais fizera do que sacrificar o Mestre amado ao ódio dos seus piores inimigos e perseguidores. Caindo então em si, foi presa de pavoroso remorso do mal que a sua ambição o levara a praticar contra aquele que tantas provas de amor lhe dera, depois de o haver admitido na companhia dos seus escolhidos. Desvairado, pois, alucinado, com a razão inteiramente obliterada, novo crime cometeu, maior talvez do que o primeiro, visto que, em face das leis divinas, acarreta conseqüências bem mais aflitivas e prolongadas do que qualquer outro, visto que se estendem quase sempre por múltiplas encarnações sucessivas.
Ora, pensando nesses acontecimentos, em que foi saliente protagonista o Iscariotes, cuja ambição de poder e mando o fez perder o muito que havia recebido à mente nos vem o que se passa nos dias de hoje, em que o Cristo nos envia, conforme prometera o Consolador, para relembrar e ampliar os seus ensinamentos. E o temor nos assalta, enchendo-nos de tristeza e amargura o espírito, de que também agora surjam, como desgraçadamente parece que já vai acontecendo, personalidades qual a do apóstolo que traiu, com ambições semelhantes às que o cegava, dominados igualmente pelo personalismo, pela vaidade, pela presunção, a quererem, na sua cegueira, valerem-se do Espiritismo para se colocarem em evidência, não só entre os companheiros que, por menos cautelosos, lhes sancionam, sem ponderação maior, as atitudes, senão ainda entre os profanos, induzindo-os a supor que o Espiritismo é uma seita, como tantas outras, onde o que domina é a política religiosa, servindo o Evangelho apenas de entorpecente espiritual empregado em doses adrede preparadas convenientemente. Aflige-nos a possibilidade de que tal se dê, porque esses se constituirão assim, sem disso muitas vezes se aperceberem por falta de vigilância e oração, elementos de perturbação e discórdia, de desarmonia e separatividade, num meio onde tudo deve ser união, bonomia, fraternidade e benignidade, já que ainda não pode ser amor.
Lamentabilíssimo que tal aconteça como lamentável foi o ato irrefletido do ambicioso irmão que supôs fácil utilizar-se do Cristo para execução de seus projetos de criatura falível, ainda carente do espírito da doutrina que lhe era pregada e exemplificada, ainda bem longe de compreender, em espírito e verdade, as palavras daquele que se dizia que era e será sempre - Caminho, Verdade e Vida.
Lamentabilíssimo sim, porque esses tais se condenarão a mais longa, penosa e árdua caminhada, para atingir a meta que todos havemos de alcançar, embora tenhamos a consoladora certeza de que lá chegarão como chegou o filho de Iscariotes; de que todos um dia nos reuniremos, pela misericórdia do Pai, em torno do Pastor divino, como se reuniu Judas aos onze companheiros que permaneceram fiéis aos compromissos que haviam assumido para com o mesmo Pastor.
Essa certeza não somente no-la dá a revelação atual, em seus desenvolvimentos da revelação anterior, como o próprio Judas, nas suas comunicações ou mensagens, dentre as quais destacaremos, pela sua tocante beleza e expressividade, a seguinte, que se encontra à pág. 392 do terceiro volume da grandiosa obra - “Os Quatro Evangelhos” de J. -B. Roustaing.:
“Segundo as explicações que os homens deram desses fatos (os da traição), Judas houvera sido de antemão escolhido e entregue ao ‘demônio’; fora criado para cometer o crime que praticou; sua alma fora vil, baixa, invejosa, cupidez, sanguinária, unicamente para que se cumprissem as profecias do Antigo Testamento. Quão manifesta, entretanto, é a justiça de Deus no ato do Espírito presunçoso, que pede para cooperar na grande obra e que, apesar de todas as observações, de todos os conselhos, se obstina em levar por diante a orgulhosa tentativa, confiando mais na sua presunção, do que na presciência daquele sob cuja inspiração seus guias lhe declaravam: Tu vais falir. Quão patente se mostra, ao mesmo tempo, naquele ato, a mão paternal sempre estendida para o filho indócil, a fim de levantá-lo após a queda, que lhe serviria de ensinamento e lhe faria germinar no coração a salutar humildade, que aí até então não encontrara acesso!
Oh! Como é grande esse Deus que permite que o filho culpado encontre, na sua própria indignidade, o ponto de apoio que o ajudará a subir para a perfeição! Oh! Quanto é bom aquele que está sempre pronto a perdoar ao que sinceramente se arrepende que pensa com suas mãos benfazejas as chagas dos nossos corações culpados, que nelas derrama o bálsamo da esperança e as cicatriza com o auxílio da expiação!
Bendito sejas tu, meu Deus!”
Antônio Wantuil de Freitas que publicou, no Reformador (FEB) de Abril de 1943.
Domingo, 13 de Novembro de 2011
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXV, item 11, lemos esta sábia recomendação:
“(...) não violenteis nenhuma consciência; a ninguém forceis para que deixe a sua crença, a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; acolhei os que venham ter convosco e deixai tranqüilos os que vos repelem”.
Lembrai-vos das palavras do Cristo. “Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”
(KARDEC, 2001, p. 361.)
Tais palavras, se mal interpretadas, podem ser entendidas como estímulo à nossa indiferença no que se refere à divulgação da Doutrina Espírita. Afinal, dirão os que assim pensam, para que nos preocuparmos com a pressa em tornar universais esses conhecimentos? Um dia, todos pensarão como nós. Deus não tem pressa. A verdade está acima dos julgamentos humanos. O Espiritismo se imporá por si mesmo...
Em parte, isso é verdade. Precisamos, entretanto, refletir sobre o conteúdo das palavras transcritas.
Elas não autorizam a interpretação acima. Para seu melhor entendimento, vamos desmembrar a frase citada em duas partes.
Primeiramente, recomenda-se não “violentar nenhuma consciência”, etc. Nesse sentido, até mesmo entre os adeptos do Espiritismo pode haver divergência de pensamento sem que deixemos de nos estimar e respeitar fraternalmente. É preciso compreender que uma das coisas mais detestáveis, para quem acalenta uma idéia, ainda que errada, é ser desmentido publicamente.
Carnegie (2003, p. 257) afirma que para alguém ser levado a pensar como queremos, entre outras coisas, é preciso evitar discutir e respeitar sua opinião, por mais equivocada seja a pessoa. Isso porque, após ter ouvido, tomado parte de milhares de discussões, concluiu que “há apenas um caminho para conseguir o melhor numa discussão – é correr dela, correr como você correria de uma cobra ou de um tremor de terra”. (CARNEGIE, 2003, p. 166-167.)
As coisas mais óbvias, em questão de crença, podem nos deixar com má vontade sobre elas, quando nos sentimos pressionados a aceitá-las como condição única de obter a proteção divina. Isso ocorre, principalmente, se já temos nossa posição firmada a respeito do assunto.
Um exemplo disso são essas mensagens cristãs que recebemos na rua ou são colocadas em nossas caixas de correspondência. Aparentemente, não há nada demais nisso, e até mesmo seria de se desejar que ficássemos gratos a quem as oferta.
Entretanto, exceto quando compartilhamos da mesma crença dos portadores das mensagens, se já temos nossa fé, sempre vemos nelas uma forma direta de proselitismo. Mesmo quando simplesmente lemos:
basta crer no Senhor e serás salvo.
Condição única: “crer no Senhor”.
Podemos continuar perversos, viciosos, hipócritas, invejosos, descaridosos, etc., mas se “cremos no Senhor”, ah, isso é o bastante. Nada de preocupações com nossa reforma íntima, afinal, a fé nos basta.
Ainda que concordemos com o conteúdo dessas mensagens, pois quase sempre nada mais são do que reproduções literais de passagens evangélicas ou do Antigo Testamento, a impressão que temos é a de que se não procurarmos a igreja X e nos filiarmos à mesma estaremos excluídos, definitivamente, das bem-aventuranças celestiais.
Isso não significa que também os espíritas não incomodemos, os não espíritas com nossas mensagens impressas em papel ou mesmo enviadas por e-mail sem que no-las tenham solicitado. Também entendemos que não há nada mais desagradável, para quem não acredita nas comunicações dos Espíritos com os homens, do que receber uma mensagem psicografada por alguém, ainda que essa pessoa esteja acima de qualquer suspeita. Nenhum tipo de violência à consciência alheia é aceitável, por mais bem-intencionados estejamos.
Entretanto, não podemos negar os imensos benefícios, para milhares de pessoas, que, tanto umas, quanto outras mensagens proporcionam quando oportunas. Quantos enfermos nos hospitais, quantos presidiários não se têm sentido confortados e agradecidos aos que lhes fazem uma prece, estendem as mãos e lhes deixam sua mensagem de fé, escrita ou falada! A forma de transmiti-las e a intenção existente por trás dessa divulgação é que podem ser questionadas.
Se a pessoa se sente bem com sua crença, ou mesmo descrença, não temos que tentar convertê-la ao nosso modo de crer. Quando chegar o momento adequado, os bons Espíritos encaminharão cada um para o templo religioso adequado ao seu estado mental e necessidade de desenvolvimento espiritual.
A segunda parte da mensagem que encima este texto afirma:
“Outrora, o céu era tomado com violência; hoje o é pela brandura.”
Durante muito tempo, acreditou-se que quando algo era bom para a Humanidade tinha que ser imposto pelas armas. Ainda hoje, algumas nações e sociedades pensam equivocadamente dessa forma. Em especial na política e na religião, imaginam que aquilo que é bom para si também o é para os outros sem qualquer respeito à sua cultura. Todavia, se é assim, por que os que pensam desse modo continuam sendo detestados por muitos? Por tentarem impor, à força, seu sistema político, sua religião, seus valores intelectuais e morais. É pela brandura, pelo amor que convencemos, e não pela imposição de nossas idéias. E não pela força.
Segundo Kardec, o maior adversário do Espiritismo não é qualquer religião, e sim o materialismo.
É este o mais devastador sistema filosófico já imaginado pela mente humana, que tudo reduz aos fenômenos da matéria. A vida, segundo tal teoria, seria obra do acaso e se extinguiria com a morte.
Mas até mesmo aos que em nada crêem não devemos violentar com nossa crença na imortalidade da alma, comunicação dos Espíritos, reencarnação e existência de Deus, entre outros aspectos básicos do Espiritismo.
Esclareçamo-los, sobretudo pela razão, sem deixar de tocar-lhes, amavelmente, o sentimento quando nos questionarem.
A Doutrina Espírita, como outrora a mensagem de Jesus, não veio para os sãos do espírito, e sim para os enfermos da alma, para os que buscam uma esperança, um consolo para as suas existências atribuladas.
Desse modo, é útil refletirmos nas seguintes palavras do Espírito Emmanuel (XAVIER, 1988, p. 190):
Convençamo-nos, porém, de que todo desequilíbrio do espírito pede, por remédio justo, a educação do espírito.
Veiculemos, assim, o livro nobre.
Estendamos a mensagem edificante.
Acendamos a luz dos nossos princípios nas colunas da imprensa.
Utilizemos a onda radiofônica, auxiliando o povo a pensar em termos de vida eterna.
Relatemos as nossas experiências pessoais, no caminho da fé, com o desassombro de quem se coloca acima dos preconceitos.
Amparemos a infância e a juventude para que não desfaleçam à míngua de assistência espiritual.
Instruamos a mediunidade.
Aperfeiçoemos nossos próprios conhecimentos, através da leitura construtiva e meditada.
Instituamos cursos de estudo do Evangelho de Jesus e da obra de Allan Kardec, em nossas organizações, preparando o futuro.
Ofereçamos pão ao estômago faminto e alfabeto ao raciocínio embotado.
Plantemos no culto da caridade o culto da escola.
E, sobretudo, considerando o materialismo como chaga oculta, não nos afastemos da terapia do exemplo, porque, em todos os climas da Humanidade, se a palavra esclarece, o exemplo arrasta sempre.
Cabe, pois, a nós, espíritas, observar o momento propício de auxiliar aqueles que não possuem uma fé a lhes consolar o coração e a lhes satisfazer o cérebro, mas que se encontram à procura dela. Também há os que têm sua crença, entretanto, continuam sentindo um vazio em seus corações. Os templos religiosos que frequentam lhes parecem frios; o deus que lhes dão a conhecer parece distante de nós, seus filhos; as misérias e desigualdades humanas não lhes são suficientemente explicadas. Para esses veio o Espiritismo ou Consolador prometido por Jesus.
É, pois, pela doçura, pela boa palavra, pela brandura de nossos atos que divulgaremos o Espiritismo, e não pela discussão estéril, pelo ataque sistemático às outras e às nossas instituições, e aos irmãos de ideal. E não pela violência.
É pelo estudo sistemático das que nos iluminaremos com o saber renovado por Jesus. Comecemos por O Livro dos Espíritos, continuemos com O Livro dos Médiuns, prossigamos com O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e concluamos com A Gênese.
Essas obras maravilhosas que compõem o chamado pentateuco kardequiano é que nos darão a base da Nova Revelação.
Prosseguindo no estudo, que se leia as informações da Revista Espírita, de Allan Kardec, e nelas reflita. Ensaio profundo para a publicação das obras posteriores da Codificação, ela nos traz ao conhecimento as primeiras experiências, relatos sobre fatos extraordinários e reflexões de Kardec, bem como de muitos outros ilustres pioneiros do Espiritismo no mundo.
Mas não fiquemos nisso, leiamos as boas obras, mediúnicas ou não, que analisam ou complementam o conteúdo das obras acima.
Em especial, recomendamos a chamada Série Nosso Lar, atualmente publicada pela Federação Espírita Brasileira sob o título genérico de A Vida no Mundo Espiritual, em treze volumes, ditada pelo Espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. São tantos os médiuns, escritores e livros a serem lidos e meditados por nós que, se enumerados todos, transformaríamos este artigo em catálogo. O mais importante, porém, é que conheçamos bem, para melhor praticar a Doutrina, as obras da Codificação Kardequiana já referidas.
Allan Kardec nos lembra de que “fora da caridade não há salvação”.
E o Espírito Emmanuel nos faz refletir que, em Espiritismo, sua maior caridade é a divulgação mesma dos ensinamentos elevados dos emissários do Cristo, para serem vivenciados, e nossa exemplificação permanente no Bem. Assim, pelos nossos pensamentos e atos sempre coerentes com a Doutrina dos Espíritos, pelo estudo permanente das obras da Codificação Espírita, na vontade de vencer as próprias limitações, e pelo trabalho em prol de um mundo cada vez melhor, renovando o próprio mundo íntimo, estaremos promovendo a melhor divulgação do Espiritismo.
Reformador Nov/2005
BIBLIOGRAFIA:
CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 51. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 82. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. 117. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988.
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011
Um dos grandes obstáculos ao progresso humano está na preguiça mental. O homem prefere receber as informações “mastigadas” pela mídia ao invés de dedicar-se ao estudo que exige o raciocínio. A TV ainda impera sobre o livro.
Sabendo disso, muitos mestres, em todos os tempos, utilizam o recurso de contar estórias ou histórias para transmitir o ensinamento que se propõem a divulgar. E para prender a atenção do público a que se destina toda mensagem são revestida das mais variadas recursos que atraem.
Assim a TV, o rádio, o vídeo, o teatro. Muitas vezes o conteúdo não é bom, mas a embalagem atrai e prende a atenção. E engana como ocorre com a publicidade do cigarro, por exemplo...
E os espíritas, como ficamos? Temos uma maravilhosa mensagem, toda ela voltada para o crescimento do ser humano. Precisamos, sem dúvida, utilizar todos os modernos meios de comunicação para transmitir essa mensagem ao grande público. Os recursos tecnológicos da atualidade, como microfone, telão, vídeo, retroprojetor, projetor de slides, som, computador e outros facilitam muito a divulgação das idéias espíritas.
Voltando ao início de nosso pensamento, verificamos que o recurso de contar estórias ou histórias facilita e muito à transmissão da divulgação doutrinária. Não é por acaso que renomados autores encarnados e desencarnados usam a forma romanceada, e nem foi por outra razão que Jesus também usou as parábolas para ensinar. Este recurso realmente consegue transmitir o ensinamento com muita objetividade, facilita a memorização do ensinamento, prende a atenção. Na tribuna, por exemplo, ele tem um efeito excelente, principalmente se descontraído.
Mas, analisemos uma parábola de Jesus: A Parábola dos Dois Filhos. Em breve resumo, a parábola indica um Pai e dois filhos, convidados para trabalharem na vinha do Pai. O primeiro promete ir, mas não vai. Já o segundo filho, rebela-se dizendo que não vai, arrepende-se depois e acaba indo. À luz da Doutrina Espírita, podemos extrair o ensinamento da parábola. O texto em si é a embalagem que precisamos desembrulhar para conhecer o conteúdo e dele extrair o ensinamento. Também em breve resumo, podemos concluir que o Pai da parábola é Deus. Os filhos somos todos nós, detentores do livre-arbítrio, com a liberdade de opção de trabalhar ou não na seara do Pai. Seara é todo o campo de trabalho que Deus nos oferece.
Observemos que o Pai não impõe condições, nem reprova o comportamento. Respeita a liberdade dos filhos. Com o texto embalado pela estória, podem-se extrair muitos ensinamentos, em conteúdo e grande profundidade.
A parábola é um convite para sairmos da ociosidade, é um apelo ao trabalho em favor de um mundo melhor, porém a decisão é de cada um. Há muito que se fazer em favor uns dos outros, nos variados campos da atividade humana, mas também e principalmente no uso da caridade e do amor...
Já a assimilação do ensinamento só por palavras é como o filho que diz que vai e não vai, fica adiando sua transformação no bem ou o trabalho em favor do semelhante. Como diz a parábola, não é preferível o filho às vezes indisciplinado, mas que toma depois a decisão de se melhorar e trabalhar na vinha do Senhor? No pequeno exemplo da parábola referida está à embalagem a ser aberta e no seu interior a pérola do ensinamento. Libertemo-nos, pois, da preguiça mental e mergulhemos no raciocínio a fim de extrair da Doutrina Espírita, com sua extensa e variada literatura, as luzes do Evangelho de Jesus, a fim de não sermos os indecisos como cristãos de aparência que dizem, mas não fazem que adiem o progresso...
E para os que preferem a acomodação mental, continuemos a utilizar o recurso das estórias e histórias, a fim de fixar com mais facilidade a divulgação das idéias de Jesus e dos ideais de nossa querida Doutrina.
Para concluir, contudo, e considerando os valores libertadores trazidos pela Doutrina Espírita em favor do homem, trago aos leitores transcrição parcial do capítulo A Conclusão da Pesquisa, pelo Espírito Ignácio Bittencourt **, onde o autor, ao referir-se a minuciosa pesquisa levada a efeito nas Esperas Superiores, na qual os Excelsos Dirigentes do Espiritismo “chegaram à conclusão de que, junto às calamitosas quedas morais e às deserções deploráveis de numerosos companheiros responsáveis pelo serviço libertador, entre todas as causas que dificultam a marcha da Nova Revelação na Terra, destaca-se, em posição de espetacular e doloroso relevo, a preguiça mental”.
Orson Peter Carrara
REFORMADOR, NOVEMBRO, 1997
VIEIRA, Waldo. Seareiros de Volta, por Espíritos Diversos. 5ª ed. FEB, 1993.
Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011
Os excelentes artigos escritos por Bezerra de Menezes com o pseudônimo Max, para “O Paiz” foram posteriormente enfeixados em 3 volumes que a Federação Espírita Brasileira editou, no ano de 1907, sob o título “Espiritismo – Estudos Filosóficos” todos são extraordinários, não fora seu autor o “Kardec Brasileiro”. Por isso mesmo, a Casa de Ismael está preparando uma nova edição da obra, na convicção de que os espíritas apreciarão sobremaneira possuí-la em sua estante, com o selo da FEB, da qual Bezerra de Menezes foi Presidente. Antecipando essa promessa, o Reformador” pública, a seguir, um dos capítulos já revistos, precisamente aqueles em que, dentre outros, a questão do corpo fluídico de Jesus é defendida pelo “Médico dos Pobres”.
Pareceu-nos sempre repugnante a fórmula sacramentária de estar Jesus, corpo, sangue e alma, consubstanciado na hóstia consagrada.
Se fosse um símbolo, nada opor-lhe-ia nossa razão; mas a igreja impõe aos fiéis à crença de que recebem na hóstia e pela hóstia o corpo e a alma do Cristo, tão real e perfeitamente como está no céu.
A fé passiva o que pode opor a tão formal imposição de quem tem o dom da infalibilidade em matéria dogmática?
O crente fanatizado o que pode divisar em semelhante fórmula, senão a manifestação de uma verdade absoluta?
A razão, porém, clama e clamará sempre contra todo dogma que envolva monstruosidade ou absurdo.
O pensador, embora crente, não admite que a suma perfeição se manifeste sob forma impura.
Aquele dirá: credo guia absurdo; enquanto este protestará, clamando: nihil absurdum a Deo.
Ora, será racional que um Espírito tão elevado, tão puro, tão perfeito, que a igreja crê e manda crer que é um Deus; a segunda pessoa da trindade divina se imiscua se consubstancie com a matéria, de modo que se ache todo nesta?
Jesus é esse Espírito puro e santo, e, no entanto, ei-lo aí todos os dias dado e recebido sob a forma material!
Argumenta-se com as suas próprias palavras, que foram o fundamento do sacramento da eucaristia, pronunciadas na ceia, em que denunciou a traição e o traidor; argumenta- -se com estas palavras que foram: eis o meu corpo, apresentando o pão que havia benzido; eis o meu sangue, apresentando o vinho, também depois de havê-lo benzido.
Com efeito, conclui-se daí que Jesus corporizou-se no pão e no vinho, donde a naturalidade de sua corporização na hóstia consagrada.
É, porém, sabido que o divino Mestre usou sempre da parábola; de linguagem figurada, principalmente quando se referia ao que podemos chamar a parte dogmática de seus ensinamentos.
E isto é devido a não ter a humanidade de seu tempo a precisa clareza intelectual para compreender leis e fenômenos de esfera superior.
Ele dava o ensino sob a figura, para que, mais tarde, quando a humanidade já possuísse mais clara compreensão das coisas, entendesse esse espírito e verdade.
Um exemplo: nós ensinamos a nossos filhos, em criança, o Credo ou símbolo dos apóstolos; mas não Ihes explicamos, porque seria inútil, o sentido ou valor daquelas palavras.
Eles, porém, as guardam de memória, e quando sua faculdade de compreender já tem adquirido o necessário vigor, esse é o tempo em que eles apreciam, em espírito e verdade, aquelas palavras que Ihes ensinamos.
As que Jesus proferiu, quando consagrou o pão e o vinho, foram simbólicas, não podiam ser tomadas, naquele tempo, senão literalmente; mas elas encobriam alto ensinamento para quando a humanidade pudesse compreender as coisas em espírito e verdade, e não mais segundo a letra.
A igreja, recebendo a tradição literal, guardou-há até nosso tempo; mas a igreja de nosso tempo já devera ter compreendido que a corporização de um espírito como o Cristo é absurdo, e, pois devia ter posto de parte a letra e procurado o espírito daquele símbolo.
Se o tivesse feito, como lhe cumpria, mais que a qualquer outro, teria reconhecido que o corpo e o sangue de Jesus, dados a comer e a beber aos apóstolos, são o símbolo de sua doutrina, cujo ensino foi, por aquela cerimônia, confiado àqueles homens.
Se o tivesse feito, como lhe cumpria, teria reconhecido que um Deus não precisava materializar-se, para influir sobre o homem.
Deus, Espírito, influi sobre o homem, Espírito imaterialmente, por sua vontade, por um raio de sua luz.
Para que deixar-nos Jesus o seu corpo e o seu sangue, quando a virtude de seu Espírito está sempre conosco?
Ele, o espiritualista por excelência, consagrar fórmulas materialistas, sem necessidade e até contra seus próprios ensinos!
Como fica claro, racional e sublime considerar o pão e o vinho dados pelo Mestre como o símbolo de sua doutrina, que confiou a seus discípulos como a expressão de sua última vontade?
Recebeu-a Jesus sob a forma de pão, quando Jesus pode-se nos dar sob a forma imaterial, por seu perdão, por sua misericórdia, por seu amor!
Estamos ouvindo redarguir: por que não pode Jesus corporificar-se na hóstia, uma vez que tomou um corpo como o nosso?
Idem por idem! - o mesmo impossível! História do verbo encarnado para a infância da humanidade!
Jesus teve, com efeito, um corpo como o nosso pela forma; mas não pela natureza; teve um corpo fluídico, como tomam os anjos (Espíritos puros) quando descem a nosso mundo.
E é assim que a Virgem não deixou de sê-lo depois do parto, sem necessidade de um milagre, coisa que Deus não pode fazer; porque se o fizesse, transgrediria Suas próprias leis, que são eternas e imutáveis.
Só o imperfeito pode retocar sua máquina!
Ouvimos, ainda, replicarem-nos: então, Jesus não tomou sobre seus ombros os pecados do mundo, não sofreu pela humanidade?
Dizei-nos qual é maior, o sofrimento físico ou o moral?
Se Jesus não teve corpo material para sofrer, teve os sofrimentos mais cruciantes do espírito. E quem nos diz que seu corpo fluídico não se prestava tanto, e porventura mais do que o corpo carnal, à transmissão das sensações materiais?
O que é fora de questão é que repugna à razão o fato de um Espírito divino tomar a carne dos pecadores, e que a concepção espírita de ser fluídico o corpo de Jesus, não somente fala à razão e remove aquela repugnância invencível, como ainda explica, de acordo com as leis naturais, todos os fenômenos da vida do Redentor, e principalmente sua concepção no ventre puríssimo de Maria. Santíssima e seu nascimento, sem que a Mãe deixasse de ser Virgem.
O que é fora de questão é que S. Paulo consagra a doutrina espírita neste ponto, quando diz: que há corpos celestes e corpos terrestres.
Que serão os corpos celestes senão os fluídicos?
*
S. Paulo fala de corpos celestes e de corpos terrestres, que revestem os Espíritos.
Não se pode atribuir-lhe o pensamento de qualificar como corpo celeste o períspirito, certamente distinto do corpo carnal ou terrestre, pois que períspirito tem o Espírito encarnado, como o tem o desencarnado.
Corpo celeste, em oposição a corpo terrestre ou carnal, não pode ser senão de natureza que o torna impossível de coexistir com este, fato que não se dá com o períspirito, indispensável até às relações entre a alma e o corpo do homem.
Além disto, o períspirito acompanha a evolução espiritual, sendo material, pesado e grosseiro, enquanto o Espírito não o é, e desmaterializando-se "pari passu" com este, até tornar-se quase Espírito, até sumir-se, quando o Espírito chega ao estado de completa desmaterialização, que se chama - de puro Espirito.
Ora, falando S. Paulo do corpo que envolve os Espíritos mais elevados: puros Espíritos são óbvios que não se referiu ao períspirito: vestimenta que só usa enquanto não chega aquele grau de elevação, no qual a despe de todo, reduzindo a essência espiritual às três entidades que a constituíram na terra: corpo, períspirito e Espírito.
Se não é, pois, ao períspirito que se refere o apóstolo da caridade, quando fala dos corpos celestes que revestem os Espíritos puros, a que se referirá ele?
A gênese, iluminada pela nova revelação, esparge a mais clara luz sobre este ponto da ciência, até agora envolto em brumas.
Deus criou um único elemento: matéria cósmica, fluido universal, a qual, evoluindo segundo as leis sábias, eternas e imutáveis, que foram postas, desde o princípio, à criação, dá de si tudo o que constitui o Universo, em todas as suas infinitas espécies e variedades.
É porque só apreciam esta evolução da natureza sem possuírem os instrumentos de penetrarem a causa primária criadora dessa natureza e das Ieis que a regem, que certos sábios acreditam que a natureza é a mãe universal, como de fato; e que é incriada - falso juízo que só tem por si as aparências.
Afirmam o que veem, e têm razão; negam, porém, o que não veem, e não têm razão; porque todos os dias descobrimos leis que não conhecíamos, e, portanto que não deviam existir, pois que antes não as víamos ou percebíamos.
O princípio de proceder tudo da natureza ou da matéria cósmica universal é verdadeiro, e nisto vamos com os materialistas; aquele, porém, de ser a natureza ou matéria cósmica universal existente independente de um criador é um erro, cujo fundamento é palpavelmente insubsistente e até ridículo: e que só é verdade, só existe o que vemos, apreciamos e compreendemos.
Não foi, porém, para discutir esta questão que tomamos a pena e, pois, entremos no nosso assunto.
O fluido universal, origem essencial de todos os seres do Universo, elemento integrante de toda a organização, substância componente de tudo o que existe, por sua condensação ou rarefação, que se der sob a ação das leis a que obedece a forma o reino mineral, o vegetal, o animal; forma os seres do mundo material e os do espiritual.
Compreende-se, pois, que por aquele mecanismo de condensação ele pode dar origem a seres como o Espírito e a seres menos essencializados que o Espírito, porém infinitamente mais que os corpos materiais.
Entre a rocha e a alma ou Espírito, os dois extremos da escala, uma variedade infinita das composições fluídicas.
Os Espíritos grosseiros e atrasados tiram do fluido universal seu revestimento, grosseiro como eles, a que chamamos corpo carnal.
Muito naturalmente os Espíritos mais desmaterializados, por seu progresso, tirarão um revestimento mais leve, mais desmaterializado como eles.
E os puros Espíritos tirarão um tão puro, tão vaporoso, tão essencializado como eles.
Isto é lógico, é racional e a experiência o comprova.
A tradição corrente em todos os povos, desde a mais remota antiguidade, consigna o fato de aparecimento dos mortos aos vivos, fato que nunca poderia dar-se, se o Espírito não vestiu um corpo visível.
A história sagrada refere inúmeros casos de anjos (puros Espíritos) baixarem a terra, para transmitirem a certos homens, justos, o pensamento do Senhor.
Poderão estes anjos revestir-se, para se fazerem visíveis, da mesma matéria que reveste as almas em suas aparições.
O meio donde tiram seus corpos instantâneos é o mesmo, é o fluido universal; mas a qualidade do fluido que escolhem é muito diferente.
As almas serve-se de seus períspiritos, mais ou menos grosseiros, substância colhida no meio comum, que elas condensam e tornam visíveis.
Os anjos, porém, que já não têm períspirito, por que são puros espíritos, precisam tomar, na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revista e os torne visíveis.
E como os Espíritos roubam àquela meia substância mais ou menos grosseira, mais ou menos essencializada, segundo seu grau de elevação nas vias do progresso, é óbvio que um Espírito angélico tira do fluido universal a sua mais pura essência; bem se pode dizer: a sua essência espiritual.
É a isto que S. Paulo chamou – corpo celeste - por oposição ao corpo que nos reveste, composto da mesma substância, mas não essencializado, espiritualizado.
De que é verdade o que aí fica exposto, temos a prova nas experiências de William Crookes, que obteve a materialização de um Espírito, ao ponto de tornar-se visível e tangível, tal qual uma pessoa vivente.
Estas agregações do fluido, para constituir um corpo visível, opera-se pela lei dos fluidos, que a ciência de nossos dias ainda ignora; mas que os fatos experimentais já recomendam ao estudo dos sábios, do mesmo modo como tem acontecido em todas as conquistas do saber humano.
Aqui, a ciência já é encaminhada pelas luzes que lhe dão as revelações espíritas.
Assim como o Espírito agrupa os elementos tirados do fluido universal e constitui com eles um corpo, assim, e sempre pelas mesmas leis fluídicas, ele desagrega aqueles elementos e dissolve instantaneamente o corpo fluídico; donde uma gravidez e um parto, com perda da virgindade, verdadeiramente aparente.
Max (pseudônimo do Dr. Bezerra de Menezes)
Reformador (FEB) Março 1974
("Espiritismo - Estudos Filosóficos", 1ª edição FEB, 1907, volume 3, págs. 349 a 358.).